Por David Lorenzon Ferreira
A História da Humanidade nos ensina que há dois tipos de atos políticos: os que preservam a realidade – mantêm o status quo; e os que mudam – transformam a realidade. Num e noutro caso, há que se admitir que os atos políticos (numa ótica de relativismo cultural) podem tanto promover como degradar o homem e o seu meio ambiente. Além disso, num e noutro caso, os atos políticos podem tanto almejar apenas o meramente possível, como podem ousar e almejar o utópico, até mesmo o transcendente.
Ao longo dos últimos 35 anos, a Organização das Nações Unidas (ONU), suas agências e comissões permanentes, discutem aplicar diversas ações pensadas a respeito do conceito de desenvolvimento sustentável que possam amenizar os efeitos destrutivos que o homem provocou através da exploração dos recursos naturais do planeta Terra e, que se agravou ainda mais a partir da Revolução Industrial iniciada no do século XVIII na Inglaterra, dando início a uma sequência ininterrupta ao vicioso processo de consumo exacerbado gerado pelo sistema econômico capitalista ao qual estamos inseridos desde a mais tenra idade.
O planeta Terra e a humanidade que ele ainda abriga chegaram a tal ponto na crise socioeconômica e ambiental, que o desenvolvimento sustentável tornou-se um dos pontos mais latentes do ideário político da última década, o que nos leva a indagar sobre a evolução da ideia de desenvolvimento sustentável que desenvolvemos até agora e que realmente aplicamos, assim como sobre a sua base conceitual.
A realização prática do desenvolvimento sustentável representará uma profunda reordenação no modo humano de perceber, pensar e agir em relação ao mundo em todas as suas dimensões. Contudo, o desenvolvimento sustentável não ocorrerá espontaneamente por que ele representa uma ameaça à ordem mundial jaz estabelecida – às práticas econômicas convencionais; à noção clássica e absoluta de soberania; aos valores inerentes ao psicomaterialismo; à educação como processo de manipulação; à atomização corporativista do conhecimento e de sua aplicação; ao modo tradicional, clientelista, de se fazer política; enfim, aos modelos socioeconômicos e políticos vigentes em nosso século XXI, que tendem a perpetuar as relações opressor/oprimido num contexto ambiental presidido por uma visão imediatista e utilitarista.
Portanto, as consequências práticas do desenvolvimento sustentável far-se-ão sentidas tanto no mundo dos valores como no mundo do conhecimento e da ação. Ou seja: a ideia de sustentabilidade planetária poderá permear as concepções, os planos, as políticas e as agendas de ação de uma nova ordem mundial – desde que o desenvolvimento sustentável seja tentado na prática.
Logo, ao compreendermos a importância a respeito da ideia de sustentabilidade planetária, isso afetará a vida de indivíduos e grupos sociais em todos os níveis e em todas as nações; afetará, enfim, as interações homem-natureza, homem-ambiente, sobretudo nas sociedades não tribais e não tradicionais.
Ao entendermos o seu mecanismo, temos que garantir alavancas para a realização prática do desenvolvimento sustentável, ou seja, a educação, o direito, a inovação tecnológica e os movimentos de ação social; e o apoio de cada uma dessas alavancas reside na ação política.
O desenvolvimento sustentável busca, portanto, alcançar o ideal do planeta harmônico (uso sustentado dos recursos naturais, com reparo e reposição) e da cidadania plena (paz e ausência de marginalidade psicológica, socioeconômica e cultural), tanto no contexto das presentes como das futuras gerações, reparando, nos limites do possível, os danos de toda ordem causados no passado. Ou seja, almeja a promoção humana integral, a equidade social, a paz e o ambiente saudável e ecologicamente equilibrado – bases da sociedade sustentável.
O Homem talvez, ainda não tenha se dado conta de que o seu comportamento socioambiental, prejudicou e destruiu, prejudica e continua destruindo o meio ambiente de onde retiramos a matéria prima que possibilita a existência de nossa sociedade como a conhecemos hoje. Além disso, prejudicamos, destruímos e exterminamos diversas espécies da fauna e da flora, desconfiguramos o ciclo natural das estações climáticas e, com isso, demos início a uma reação em cadeia destrutiva que poderá nos levar a extinção da nossa própria raça.
Será que já nos demos conta do que realmente significa uma sociedade sustentável de uma sociedade não sustentável?
Em uma sociedade não sustentável as taxas dos fluxos energético-material e informacional são máximas – excedente à capacidade de assimilação, sua população tende a crescer em progressão geométrica, a poluição é pouco controlada, a biodiversidade é pouco protegida, assim como a diversidade cultural; o crescimento econômico é essencialmente quantitativo, os artefatos situam-se em posição não constantes – e em geral sem reposição, a qualidade de vida da população em geral é muito baixa e sua soberania é absoluta.
Porém, em uma sociedade sustentável a taxa do fluxo energético-material é mínima, a taxa do fluxo informacional é máxima – não excedente à capacidade de assimilação, sua população tende a crescer em progressão aritmética, a poluição é muito controlada, sua biodiversidade está muito protegida; a diversidade cultural é muito protegida, o crescimento econômico é essencialmente qualitativo, os artefatos situam-se em posição constantes – e em geral com reposição, a qualidade de vida da população em geral é alta e sua soberania é relativa.
O poder de escolha – o ato político – está em nossas mãos, sobretudo com a geração que detém os poderes intelectual, econômico e político desta década, pelas próximas décadas e pelos próximos séculos. Qual escolha irá prevalecer é uma questão que permanece em aberto graças à liberdade humana de decidir; e a escolha a ser feita, ainda nesta geração, entre o ato político pela sociedade não sustentável e o ato político pela sociedade sustentável, será a medida da nossa liberdade, mas será também a medida da nossa responsabilidade como seres morais.