Uma das principais responsáveis por atribuir valor à carne bovina, a maciez do alimento foi foco da pesquisa orientada pelo professor Luiz Lehmann Coutinho, do Departamento de Zootecnia da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ). Realizada no Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal e Pastagens, a pesquisa teve como objetivo analisar a qualidade do produto, viabilizando possíveis melhorias para a indústria alimentícia, considerando a alta competitividade e exigência do mercado nacional e internacional.
No estudo, o professor e seus orientados, Tássia Mangetti Gonçalves e Vinícius Henrique da Silva, utilizaram como objeto de análise a raça Nelore, que representa cerca de 80% do gado brasileiro. “Entre outras vantagens, a raça Nelore é amplamente utilizada principalmente devido a sua adaptabilidade ao clima tropical”, esclareceu Tássia.
O primeiro objetivo do grupo foi mapear no genoma da população Nelore um tipo de variação genética recém descoberta e que diz respeito ao número de cópias que certos segmentos do DNA possuem. “De maneira simplificada, significa que buscamos quais animais tinham certos genes deletados e quais tinham os mesmos genes com muito mais cópias do que um animal considerado comum”, salientou Vinícius. O segundo objetivo foi analisar o impacto fisiológico e fenotípico advindo da ausência ou da abundância desses genes.
De acordo com Tássia, os resultados da pesquisa mostraram que a maciez da carne pode ser regulada por muitas vias metabólicas, com destaque para a via da apoptose. “Alguns genes encontrados estão de acordo com o que já foi descrito na literatura para bovinos de raças taurinas, mas há diferenças entre outros, o que mostra que outros genes podem ser responsáveis pela maciez da carne em animais de raças zebuínas”, explicou. Com a integração de dados das análises de biologia de sistemas, também foi possível identificar dois microRNAs como potenciais reguladores da maciez.
Tássia ainda reforçou que o estudo é benéfico para o agronegócio e para a economia do país. “Com o uso de informações genômicas no melhoramento, há o aumento de ganhos genéticos e a acurácia da seleção, gerando uma nova era na ciência animal”, destacou. Segundo o IBGE, o Brasil tem o maior rebanho comercial e é o maior exportador de carne in natura.
A pesquisa foi realizada em parceria com a Embrapa Pecuária Sudeste, com coordenação da pesquisadora Luciana Correia de Almeida Regitano, e também contou com apoio de universidades nacionais como a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), além de internacionais como a Iowa State University (ISU) e a Ludwig-Maximilians-Universität, em Munique, na Alemanha.
Financiados pela CAPES e pela FAPESP, os estudos duraram três anos e foram apresentados em congressos internacionais, incluindo o 10th World Congress on Genetics Applied to Livestock Production (WCGALP) em 2014, em Vancouver, no Canadá.