O elevado número de pacientes “importados” de municípios da microrregião que procuram as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) de Piracicaba e a cultura da população em buscar por atendimento médico apenas em momentos de dor e crise tem contribuído para inflar o movimento nas unidades de urgência e emergência do município. O PIRANOT já havia noticiado problemas assim nas UPAs da Vila Cristina e Vila Sônia.
Levantamento da Secretaria de Saúde aponta que num período de 74 dias – entre 1º de janeiro e 14 de março – as UPAs Piracicamirim, Vila Cristina, Vila Rezende e Vila Sônia atenderam juntas a 975 pacientes de cidades da microrregião como Charqueada, Saltinho, São Pedro, Rio das Pedras e Capivari e ainda de municípios como Iracemápolis, Limeira e Rio Claro.
Na UPA Vila Sônia, foram atendidos 350 pacientes de Charqueada nesse período (média de quase cinco por dia), além de oito de Saltinho, seis de Rio das Pedras e seis de São Pedro. Na Vila Rezende houve 48 atendimentos de moradores de Charqueada, 25 de São Pedro e 20 de Rio das Pedras. A UPA Vila Cristina registrou atendimento a 92 cidadãos de Rio das Pedras e 82 de Saltinho no mesmo período, enquanto a UPA Piracicamirim contabilizou 220 atendimentos de moradores de Rio das Pedras, 37 de Saltinho e 16 de São Pedro, entre outros municípios.
“Somos referência em qualidade também para nossa região e isso é uma realidade. Saltinho, por exemplo, tem fechado seu pronto-socorro das 22h às 6h e recomendado que seus munícipes procurem as unidades de pronto atendimento de Piracicaba, sem a cidade receber por isso”, reclama o secretário de Saúde de Piracicaba, Pedro Mello.
.
IMEDIATISMO – Outro importante fator que contribui para o inchaço das UPAs é a cultura da população em buscar atendimento nas UPAs em detrimento às unidades da Atenção Básica, mais próximas da população e com capacidade resolutiva de 80% das doenças. Isso faz com que mais de 80% dos atendimentos nas UPAs sejam classificados nas cores verde e azul, pelo Protocolo de Manchester.
“O Protocolo de Manchester é utilizado para classificação de risco dos pacientes e definição dos atendimentos prioritários. Percebemos que mais de 80% dos casos que chegam às nossas UPAs são classificados nas cores verde a azul, que podiam ser avaliados nas unidades da Atenção Básica e acabam esperando de duas a quatro horas na UPA, sobrecarregando as unidades”, destaca a médica Maria de Paula Ribeiro, coordenadora das urgências e emergências do município.
No período analisado, 89,33% dos 23.749 pacientes acolhidos na UPA Vila Sônia foram classificados nas cores verde e azul. Na Vila Cristina o percentual chega a 89,58% dos 29.980 acolhimentos. A UPA Piracicamirim registrou 28.170 acolhimentos no período, com 87,37% deles sendo classificados nas cores verde e azul. Na UPA Vila Rezende o percentual foi de 84,13% dos 17.073 pacientes acolhidos.
“São pacientes com queixas como dor lombar, cefaleia, dor de dente e até quem procura a UPA para aferir a pressão. Há ainda muita gente com doenças crônicas como diabetes e hipertensão que não acompanha como deveria e acaba sobrecarregando as UPAs”, afirma Maria de Paula, lembrando que a maioria dessas queixas poderia ser solucionada nas unidades da Atenção Básica (PSFs, UBSs e CRABs).
.
SEM VÍNCULO – É expressivo o número de pacientes atendidos nas UPAs que não costumam realizar acompanhamento médico em PSFs, UBSs ou CRABs. Um em cada cinco pacientes atendidos nas UPAs não tem vínculo com unidades da Atenção Básica. Segundo o secretário de Saúde, Pedro Mello, isso demonstra a cultura imediatista da população.
Na UPA Vila Sônia, 26,07% dos atendimentos registrados entre 1º de janeiro e 14 de março foram de pessoas sem vínculo com unidades da Atenção Básica (6.193 entre 23.749 acolhimentos). Na unidade Piracicamirim, 7.143 acolhimentos foram de pessoas não cadastradas na Atenção Básica (25,35% dos 28.170 acolhimentos).
“Temos 50 unidades do PSF, além de oito CRABs e 11 UBSs, todas com médicos em seus quadros e capilarizadas em toda a cidade. O problema é que as pessoas não têm o costume de buscar a prevenção e só procuram o serviço de saúde no momento de crise”, diz o secretário.