Quanto à obrigação da publicidade em alertar o consumidor de que aquele produto propagado faz mal à saúde, consta em lei há muito tempo. Como a celebre frase, que nos maços de cigarro vem até acompanhada de assustadoras ilustrações fotográficas: “Fumar faz mal à saúde”. Porém, quando alguém crava uma frase como a que dá título a este artigo: “Política faz mal à saúde”, preocupa-nos o grau de deterioração que o conceito da palavra “política” atingiu na consciência de algumas pessoas.
E quem a divulgou em entrevista publicada pelo UOL no último dia 27/01/2017 é, nada mais, nada menos do que o médico Dr. Paulo Chapchap, 61, que é o presidente do Hospital Sírio Libanês de São Paulo e especialista em transplante de fígado. É claro que ele não está se referindo à palavra “política” no seu conceito verbal mais sério, ético e que os dicionários traduzem por: “a arte de bem governar os povos, de construir o bem comum”. Ele está falando dessa distorção de comportamento que se vê na prática dos governantes pressionados por ideologias partidárias que são falácias produzidas por interesses de grupos que só almejam o poder pelo poder e deixam longe os objetivos do bem comum do povo.
O entrevistado começa afirmando: “As diretrizes da saúde pública no Brasil mudam de acordo com a ideologia do governo, o que impede a continuidade de trabalho num setor tão essencial à população”. De Dentro de uma das instituições mais respeitadas do país, ele critica a exclusão dos brasileiros de uma saúde de qualidade e propõe que os hospitais privados participem mais do atendimento público e, ao mesmo tempo, defende menos hospitais e mais prevenção. Esta última afirmação me faz lembrar de uma audiência em Brasília, em junho de 1975, em que participei quando era Secretário Municipal de Educação, Saúde e Promoção Social de Piracicaba, juntamente com o prefeito Adilson Maluf, o comendador Antonio Romano provedor da Santa Casa e que foi agendada pelo Deputado Federal Athié Jorge Cury com o Ministro da Saúde Mario Machado de Lemos, em que fomos pleitear financiamento federal para terminar o prédio do Hospital Santa Isabel, da Santa Casa (que só tinha a metade da estrutura de concreto construída). O Ministro, que nos recebeu muito bem por sinal, fez questão de iniciar a conversa, fazendo uma explanação sobre a prioridade absoluta na saúde: investir maciçamente na prevenção e não colocar hospitais como prioridades.
Mas vamos às afirmações importantes do ilustre entrevistado: “O Brasil não tem consistência nos projetos de saúde pública porque tudo começa do zero quando muda o governo. Esse é um ‘problema grave’ que afeta todo o sistema. É muito difícil fazer planos com ministros da Saúde que mudam a cada ano. O novo ministro vem, bem intencionado, mas aquele cargo é político e pode ser que o presidente tenha de muda-lo para compor a sua base no Congresso. E, ao mudar, muda a política (de saúde) também. A gente tem grande dificuldade de ter política de Estado, e não de governo, tanto no Ministério da Saúde como no da Educação”.
E continua: “O que está faltando é a gente passar para a execução e deixar de lado essa postura de muita fala e pouca ação. Na Associação Nacional dos Hospitais Privados, discutimos isso à exaustão. Produzimos o ‘Livro Branco da Saúde’, com várias recomendações e distribuímos para gestores públicos e privados no país inteiro. Criamos agora o Instituto Coalizão Saúde, que reúne todas as entidades do setor. Produzimos, com a consultoria McKinsey, um documento profundo com uma série de sugestões, mas essas soluções precisam ser implementadas. Falta maior integração entre público e privado”.
Para Paulo Chapchap, a separação entre a saúde particular e a pública é causadora de privilégios e não ajuda o país. Ele vê uma situação de colaboração possível, mas admite que o
que o SUS paga não é suficiente para remunerar um serviço de alta qualidade. “Essa separação (dos sistemas de saúde) é ruim pois cria dois países diferentes: um dos privilegiados, o outro, dos excluídos, daqueles que não conseguem receber a atenção devida às suas necessidades”.
Está aí a opinião de alguém que realmente entende e, muito, do assunto.
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ANTÔNIO OSWALDO STOREL tem 81 anos, é piracicabano, cirurgião-dentista, foi coordenador de Educação, Saúde e Promoção Social em 1973, criador do SOM (Serviço Odontológico Municipal), primeiro presidente da EMDHAP (Empresa Municipal de Desenvolvimento Humano e Habitacional de Piracicaba), ex-vereador e ex-presidente da Câmara de Vereadores de Piracicaba.
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