Era criança quando aquela majestosa imagem de Jesus no centro do altar mor da Igreja dos Frades me tocou. Seus braços abertos passavam a idéia de alguém forte, acolhedor e cheio de ternura. Quando dava minhas aprontadas ficava tão sem jeito que desviava dele meu olhar, mesmo sentindo que isso não mudava seu humor. Procurava, porém, não desapontá-lo, afinal me disseram que coisas erradas o entristeciam, e eu sentia orgulho em gostar dele. Para mim era um ser vivo. Sua bela e serena face, alto e forte representava para mim um super herói; invencível, no entanto, compassivo.
Foram meus pais os primeiros a dizer quem aquela imagem representava. Não fossem eles poderia até ligar uma coisa à outra, mas a fé não teria, afinal, fé não cai do céu, entra pelos ouvidos e se confirma pelos olhos, isto é, pelo exemplo. Herança sem preço: ensinaram-me a crer. Tanto que até aqui caminhei com meus próprios pés e fiz minhas próprias descobertas e escolhas. A fé faz caminhar para frente mesmo quando é escuro; desinstala, explica o inexplicável. A fé se testa na hora da dor. Como sofre quem não a tem; aqueles cujos pais se preocuparam mais com careira e sucesso econômico.
Foi no Movimento Jovem – décadas de 70 e 80 – que compreendi mais a fundo quem era Jesus. A partir de então me apaixonei e “nunca mais eu pude olhar o mundo sem sentir aquilo que Ele sentiu”. (Pe. Zezinho). Os Evangelhos tornaram-se meus livros de cabeceira. Através deles vi meu ídolo entrando na fila de batismo de João e depois dirigir-se ao deserto em busca do próprio eixo. O Reino precisava ser anunciado e a tentação de se servir de meios miraculosos e alianças poderosas o perturbava.
Preferiu os próprios pés. Convenceu um grupo de homens simples e rudes. Achou neles o que precisava para a grandiosa empreitada. Tão fascinante esse líder que alguns deixaram tudo para segui-lo. Aos mais afoitos advertia que não tinha nem onde reclinar a cabeça, mas era tão radical que dizia desperdiçar quem com ele não colhia.
Acolhia as crianças e as abraçava dizendo que para entendê-lo precisaria ter coração semelhante. Não recusava ricos, pobres, doentes, bandidos e, fato notável, muitas mulheres o seguiam. Uma delas – pecadora pública – o acompanhou até e depois da morte. Jesus dizia que seus muitos pecados foram perdoados porque ela tinha muito amor. Não falei que Ele era misericordioso? Coração de criança não se engana.
Uma vez uma senhora tocou seu manto achando que seria curada. E foi. Ele não deixou quieto. Chamou-a no meio de todos e elogiou sua fé. Nele, diziam que Deus tinha visitado seu povo. Ficavam arrebatados com as palavras cheias autoridade que de sua boca saiam. Havia os que perdiam noção do tempo, ficavam até sem comer. Mandava então os discípulos repartirem o que tinham. O amor resolve tudo afirmava.
Não pediu dinheiro para ninguém e nem fez campanhas para ajudar pobres. Mas, a miséria o indignava; dizer que era vontade de Deus mais ainda. Foi direto ao ponto dizendo que o mal do mundo vem de dentro da pessoa. Por isso veio dar vista a cegos, libertar cativos e anunciar o ano da graça. Com isso despertou a ira do poder. Chamou líderes do povo de hipócritas, o rei Herodes de raposa e colocou Cesar no seu devido lugar. Não poucas vezes precisou se esconder tanto da glória quanto da ameaça.
Quando achou que estava na hora, subiu até Jerusalém para o embate final. Da capital vinha a opressão. Preparou seus amigos e protegeu-os até o fim. Teve medo sim, pois se sentiu só. Mas não voltou atrás. Selou com sangue seu testemunho. Foi colocado no túmulo. Porém, venceu a morte. No terceiro dia tomou a vida de volta.
Não falei que era um super herói, invencível e misericordioso? Coração de criança não se engana nunca.
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ANTONIO CARLOS DANELON é assistente social e morador de Piracicaba. (totodanelon9@gmail.com)
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