Paulo Sérgio Camolesi nasceu em Piracicaba, no dia 10 de novembro de 1952. Escorpiano, casado e filiado ao partido Rede Sustentabilidade desde 2015, Camolesi foi eleito com 2.414 votos — o então 14º candidato mais votado dentre os 23 eleitos. Nesta última eleição, tentou concorrer ao cargo de Deputado Estadual, mas não conseguiu. Sem desanimar, Camolesi diz que agora voltará a renhir o cargo de vereador na Câmara de Piracicaba. “Ah, tenho grandes chances…”, comenta sobre a possibilidade de se reeleger na cidade.
Nesta entrevista, o administrador de empresas de 65 anos fala sobre o meio-ambiente (uma das mais fortes vertentes de seus trabalhos), tece comentários à atual cena política, enaltece o Mandato Coletivo e se compadece com o atual mandato do prefeito Barjas Negri.
Antes de tudo, gostaria que o senhor aclarasse aos leitores o que o motivou a entrar na política.
Como cristão católico, a gente sempre questiona a situação social do povo. Em 2006, montamos um grupo denominado Grupo Cidadania, onde pudemos trabalhar e discutir a situação do povo. Discutimos o porquê dos problemas, como eles surgem, e por fim chegamos à conclusão de que tudo está dentro da política. Foi aí que começamos a preparar as coisas. Depois, o grupo já começou a discutir o nome de um candidato para pôr na Câmara. Como eu já tinha um acesso maior à sociedade — pelo fato de sempre ter tido jornal e de sempre ter sido parte dos movimentos de igreja –, acabaram sugerindo que eu fosse à Câmara, já que eu teria mais chance de ser eleito. Foi um consenso do grupo me escolher. Em 2008, concorremos e não fomos eleitos. Continuamos o processo das reuniões quinzenais e, em 2012, voltamos com a mesma proposta de pôr gente na Câmara. Fomos eleitos e aí começamos a implantar a proposta do Mandato Coletivo.
O senhor prega bastante a questão do Mandato Coletivo, então gostaria que nos falasse um pouco mais desta ideia.
O Mandato Coletivo é onde as pessoas participam das decisões do político, participam dos projetos. A ideia é criar grupos em bairros e comunidades com foco na preparação de pessoas para também concorrer — candidatos por regiões. Em 2016, estávamos trabalhando com cinco candidatos — Tupi, Santana/Santa Olímpia, Centro, Piracicamirim e eu daqui. Um foi eleito, que era o da comunidade de Santana/Santa Olímpia. Lá ocorreu um processo interessante, porque levamos a proposta do Mandato Coletivo e o grupo foi montado. Eles se motivaram a trabalhar o nome de um candidato (representante) deles para vir concorrer aqui. Eles organizaram um plebiscito por lá, várias reuniões e três pessoas acabaram dando o nome. Foi feita uma votação e, desses três, um foi escolhido. E os outros dois trabalharam para apoiar esse candidato escolhido. No fim, ele acabou tendo um problema. Houve muita pressão do partido e nós acabamos percebendo que a ideia do Mandato Coletivo não funciona.
Como parlamentar na Câmara de Vereadores de Piracicaba, qual projeto de sua autoria o senhor julga mais importante à sociedade?
Eu fui lá, assumindo um compromisso com o Movimento Reaja de não receber aumento. Por conta disso, acabei sendo muito barrado com os projetos. Até requerimentos eles votavam contra. Mas falando de trabalho, colocamos uma indicação de projeto de cisterna — que consistiria em abastecer o lençol freático. Uma coisa interessante. Se você tem uma casa totalmente concretada, impermeabilizada, saiba que você ainda assim pode abastecer o lençol freático. Se onde passa o condutor de água de chuva (que vai para rua), criássemos uma cisterna, antes da água ir para a rua, ela cairia nessa cisterna, a tendência seria que cada vez mais água fosse para o solo. É um projeto interessante pela necessidade que temos. Já um trabalho que a gente realmente conseguiu fazer (e que as pessoas agradecem muito), é no que concerne às repúblicas. Um dia chegou uma professora no meu gabinete, chorando, desesperada, dizendo que não sabia mais o que fazer em relação ao barulho das repúblicas. Era sexo, drogas, buzina, bate-porta e bebida, eles não tinham hora para nada. Essa professora veio pedir a minha ajuda, então acabei optando pelo rumo da conversa. Eu falei para ela: “você convoca todo o povo que está com o problema, e eu vou arrumar uma sala na Igreja São Judas para uma reunião.” Vamos chamar o diretor da ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), Polícia Militar, Polícia Ambiental, Guarda Municipal e vamos discutir isso. A primeira reunião foi um desabafo e tanto, o problema era muito sério e já vinha há mais de um ano. O diretor da ESALQ disse que tomaria providências, fez reuniões, mas nada resolveu. O problema continuou e continuamos promovendo reuniões a fim de chegar num consenso. Aí, numa das reuniões, apareceu um delegado de Campinas e ele sugeriu que a professora não chamasse mais o Pelotão Ambiental. Ele disse que bastava pegar três professoras, ir até a delegacia, abrir um Boletim de Ocorrência e pegar o protocolo dessa denúncia. Isso já seria suficiente para dar uma entrada no Ministério Público. Aí veio outra pessoa da Polícia Militar que também deu uma orientação boa. Ele falou que bastava entrar no site da Polícia Militar do Estado de São Paulo e formalizar uma denúncia de sossego público. A denúncia vai direto para São Paulo, e daí eles vêm até aqui para saber o que está acontecendo. Foi uma caminhada de um ano. No fim, fomos pessoalmente ao Ministério Público para cobrar. Eles propuseram um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) e disseram que, caso esse pessoal de república não se enquadrasse, fariam uma denúncia contra todos. O problema foi resolvido.
O senhor comentou que foi contra o aumento salarial na Câmara, e por conta disso, acabou sendo muito barrado. Tem alguma coisa a alegar a respeito disso?
Foi difícil, porque no início eu achei muito interessante o Movimento Reaja. Ele veio com todo aquele envolvimento na sociedade e a única coisa que senti de verdade é que esse movimento começou a encontrar dificuldade e acabou se extinguindo. Acabou em nada. E eu, que assumi o compromisso, acabei ficando sozinho. E como lá dentro da Câmara eu era o único que estava contra o aumento salarial, o pessoal não gostava.
Falavam alguma coisa para o senhor diretamente ou era tudo dito e feito de forma velada?
Tudo indireta. Eles tentaram me coagir lá dentro.
Bom, o senhor concorreu agora ao cargo de Deputado Estadual, porém acabou não conseguindo. O que o senhor acha que faltou nesse processo?
Eu sempre falei que essa eleição seria esquisita, complicada. As pessoas hoje buscam uma solução imediata para os problemas, tanto no desemprego, quanto na falta de atendimento médico. E o Partido Rede não veio com essa proposta de imediatismo. Acredito que esse foi um dos pontos. Nós sabemos que o Partido dos Trabalhadores (PT) tem um público fiel que o acompanha, que vota nele, que trabalha por ele e que briga pelo seu ideal; e eu vejo que o Bolsonaro veio com uma proposta de resolver os problemas, os anseios do povo. O povo se apegou a uma solução imediata, mas realmente não há milagre para isso. Vamos supor que o presidente assuma e se depare com 13 milhões de desempregados; se ele abrir o mercado e gerar dois milhões de emprego por ano, quantos anos faltarão ainda [para que todos se empreguem]? E os que estão no sub-emprego, que já são mais de 30 milhões? Então, eu vejo uma solução para o Brasil, mas, no meu ponto de avista, o presidente teria que ter coragem e falar: “não vamos pagar mais um centavo do juros dessa dívida pelo tempo enquanto durar uma auditoria dela. Enquanto não soubermos o quanto realmente o Brasil deve, não vamos pagar.” E esse dinheiro seria investido no nosso povo — em saúde, educação, segurança, infra-estrutura, etc. Mas quem tem coragem de fazer isso? O Brasil tem solução, mas o processo todo envolve muito dinheiro. Então vejo que o povo busca por uma solução imediatista, mas não vai ter. Ninguém faz milagres.
O gabinete do senhor na Câmara foi também um dos que menos teve gastos. A que se deve isso?
No nosso gabinete, não demos para ninguém uma cópia (xerox) particular. Se você tivesse uma entidade, uma escola, que fosse lá e dissesse que precisava de 300 cópias, nós doávamos se tivéssemos. Mas para particular, não fazíamos cópias. Procurávamos usar apenas o necessário, então foi isso que levou nosso gabinete a ser o mais econômico. Eu não peguei todos os dados, mas acho que o meu gabinete foi o mais econômico em todos os quatro mandatos. É usar com racionalidade aquilo que é do povo.
Será que falta racionalidade na Câmara ainda hoje?
Eu não sei. As pessoas justificam que tudo é uma necessidade que o povo tem, então não sei falar. Eu fui o sétimo vereador mais votado de Piracicaba em 2016, então acho que meu trabalho foi bem feito.
Qual análise o senhor pode fazer do atual governo Barjas Negri?
Eu acho que ele pensa e tenta fazer bem o seu mandato, mas, hoje, ele está com dificuldade de recursos. Não dá para fazer milagres. É a mesma coisa uma família: se o pai tem emprego e a mãe também, o orçamento da família vai diminuir se um deles perder o trabalho. Outra coisa, acredito que muito da arrecadação de Piracicaba diminuiu com a crise. Então vejo que o Barjas tem essa dificuldade. Agora, uma das coisas que vejo nos governos — tanto no Executivo quanto no Legislativo — é a dificuldade de reunir o povo para discutir [os problemas], a dificuldade de fazer um orçamento participativo. O povo não é atendido, nada nunca é exposto. Infelizmente, eles não deixam o povo participar.
Este problema não é endêmico, acontece em todos os lugares…
Sim, sim! Geralmente quem entra [na política] não tem essa proposta. O povo nunca decide junto o que realmente vai ser feito com o dinheiro. Os políticos vão votar o orçamento e escolhem quanto vai para a saúde, quanto vai para a educação, quanto vai para a área da segurança, mas o povo não participa desse processo. Se os governos fizessem uma coisa mais transparente, acredito que os políticos teriam mais credibilidade.
Para finalizar, qual mensagem o senhor gostaria de passar aos leitores do PIRANOT?
Eu digo a todos: é na política que a gente vai mudar o rumo do nosso país. Então, às pessoas que têm medo e que acham que tudo que envolve política é sujeira, eu digo que não é. Tem muita coisa boa lá dentro. Deixo aqui meu apelo a todos que sentem vontade e que têm o dom: comecem a participar, comecem a se interessar, comecem a discutir mais política e entender mais o processo. Como diz o Papa Francisco: “a política é o maior meio de se fazer a caridade, pois é nela que se vota as leis que beneficiarão o nosso povo”. Então se tivermos pessoas envolvidas na política que realmente busquem o bem comum, nós conseguiremos mudar. As coisas podem mudar, mas as pessoas precisam se envolver. Deixo aqui a minha mensagem para que essas pessoas não tenham medo.