O delegado Fábio Rizzo de Toledo nasceu no dia 06 de outubro de 1969 e atualmente é responsável pelo 4º e 5º Distrito Policial de Piracicaba. Com muito carisma, ele concedeu uma entrevista ao jornalista Rafael Fioravanti, do PIRANOT, onde falou sobre sua profissão, sobre a questão da segurança em Piracicaba, sobre ações de combate à criminalidade, e, principalmente, das dificuldades que enfrenta à frente do trabalho. Para ele, nosso Código Penal precisa ser revisto e, aqui, ele explica o porquê. Entrevista interessante, não deixe de ler.
Gostaria que o senhor fizesse uma breve retrospectiva de sua carreira na Polícia Civil até hoje.
Comecei minha carreira como delegado de polícia em 1994, fui para a Academia em agosto deste ano. Ao término da academia, fui trabalhar na delegacia de polícia de Rio das Pedras, onde fiquei um tempo como adjunto. Em seguida fui transferido para a DISE (Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes) daqui de Piracicaba. Eu trabalhei na DISE junto com o Doutor Noel, que era o delegado titular. Posteriormente, fui transferido para Limeira, onde fiquei na Delegacia de Investigações Gerais (DIG) por aproximadamente seis anos. Então, em dezembro de 2016, recebi um convite para retornar a Piracicaba. Aceitei esse convite e fui trabalhar na DIG, onde permaneci por um ano. Posteriormente fui transferido para o 5º Distrito Policial, onde estou até o presente momento.
Um dos crimes mais corriqueiros aqui no município, pelo que vemos, é o tráfico de drogas. Como funciona o tráfico de drogas aqui no município atualmente e o que a Polícia Civil tem feito para combatê-lo?
Realmente o maior número de flagrantes que fazemos atualmente aqui no município é o tráfico de drogas. Isso tem duas indicações: (1) o tráfico realmente existe, e (2) está havendo combate. Se há prisões é porque fazemos o combate, é porque as investigações estão sendo feitas. Então, tanto a Polícia Civil quanto a Polícia Militar e a Guarda Municipal se preocupam com o combate ao tráfico. Acredito que as prisões se devem ao policiamento que tem sido feito.
O efetivo atual da Polícia Civil é eficiente no combate à criminalidade aqui em Piracicaba?
O efetivo da Polícia Civil passa por um problema a nível estadual. Nós certamente precisaríamos mais de policiais, porém o número de policiais à nossa disposição atualmente aqui no 5º DP está sendo suficiente. Estamos conseguindo atender o público e dar uma resposta à sociedade em várias situações, principalmente em ocorrências mais graves. Acho que o efetivo da Polícia Civil poderia sim ser melhorado, mas isso não é uma desculpa a qual podemos nos agarrar. Diante disso, nem que haja necessidade de um sacrifício maior, temos que continuar fazendo policiamentos e investigações, que é a atribuição da Polícia Civil.
Como o senhor analisa a questão da segurança no município atualmente?
Acredito que Piracicaba se encontra numa situação privilegiada, até porque tivemos uma redução no índice de criminalidade. Nós não podemos dizer que Piracicaba é uma cidade tomada pela marginalidade. Existe um forte policiamento da Polícia Civil, Militar e também da Guarda Civil, que nos apoia muito. Estamos numa situação dentro da normalidade.
De todos os casos que o senhor presidiu até o momento, qual mais te marcou?
Todos os casos que participamos e solucionamos são importantes, mas sempre há casos que acabam ganhando maior repercussão e publicidade na mídia. Eu não consigo ver um caso que eu tenha participado e que mais tenha chamado a minha atenção, todos são satisfatórios para mim. É satisfatório conseguir solucionar um crime e colocar um bandido na cadeia, tanto faz se é roubo de veículo ou de um botijão de gás. Às vezes, o botijão de gás é muito mais importante para a vítima do que o veículo. Então todo esclarecimento de crime é satisfatório.
Como delegado, qual a maior dificuldade que o senhor enfrenta no trabalho atualmente?
Hoje a grande dificuldade da Polícia Civil e dos delegados é a nossa legislação. Ela precisa ser revista, principalmente o Código de Processo Penal, as Leis de Execuções Penais e o próprio Código Penal. Se houvesse uma legislação que favorecesse mais o trabalho policial, isso certamente contribuiria muito mais para a segurança pública.
Discorrendo um pouco sobre a questão da maioridade penal, o senhor é contra ou a favor?
Eu sou a favor que o adolescente que já tenha consciência do que faz seja responsabilizado. Hoje temos adolescentes com 17 anos de idade cometendo crimes igual um cidadão maior de idade. E esse adolescente de 17 anos já está tem plena consciência do que é certo e do que é errado, logo ele já tem condições de ser responsabilizado criminalmente.
No ano passado, o senhor foi homenageado com uma Moção de Aplausos pela Câmara de Vereadores de Piracicaba. Qual o sentimento disso?
É muito gratificante. Minha equipe recebeu essa moção e isso nada mais é do que um reconhecimento do trabalho que estamos realizado. É o que sempre digo aos meus funcionários, amigos e pessoas que conheço: o reconhecimento é o principal combustível que nos mantém na luta diária pelo combate à criminalidade. O reconhecimento é sempre gratificante, seja da sociedade ou de qualquer outro órgão, como foi, neste caso, da Câmara municipal.
Se o senhor tivesse que mencionar uma pessoa que o influenciou, não só no trabalho mas também na vida, quem seria?
Eu acabei optando em seguir a carreira de delegado por influência de três pessoas. Essas pessoas foram meu pai, já falecido; meu irmão mais velho, Gabriel Fagundes de Toledo Neto, que também é delegado de polícia; e um amigo da família, Doutor Adilson Toniolo. Todos nós nos espelhávamos muito no Doutor Adilson.
Qual o maior conselho que o senhor pode passar a um jovem que pretende seguir carreira de delegado?
O maior conselho é que o jovem corra atrás dos seus sonhos. A profissão de delegado exige sacrifícios e muitas vezes até distanciamento da família em datas festivas, como Natal, Réveillon, Dia dos Pais, Dia das Mães, etc. Por outro lado existe também a gratificação. É como eu já disse: a sensação de trabalhar em prol da sociedade, de fazer algo positivo por ela, é gratificante. Não tem preço.
Por fim, quais são suas considerações finais?
Eu faço um apelo à sociedade: antes de exigirmos condutas do governo e dos outros, a mudança deve começar por nós, procurando sempre agir com consciência. Um dia eu passei por um comando da Polícia Militar e vi veículos, que haviam acabado de passar por aquele comando, dando sinal de luz para os veículos que iriam passar. Se você dá sinal de luz para avisar que há um comando pelo local, muitas vezes você pode estar ajudando um criminoso dentro do veículo a escapar do comando. Por isso, antes de exigir bons modos e atitudes corretas (seja do governo ou de outras pessoas), a pessoa precisa praticar essas ações primeiro. Gostaria que as pessoas tivessem essa consciência. Façam o certo antes de exigir.