O teatro essencial de Denise Stoklos encontra a obra da escritora Clarice Lispector e da cantora Elis Regina em Abjeto-Sujeito: Clarice Lispector por Denise Stoklos. A única apresentação acontecerá dia 28 de agosto (quarta-feira), às 20 horas, no Teatro do Engenho Central. A entrada gratuita para todos, com retirada de ingressos uma hora antes do início da encenação.
O espetáculo tem dramaturgismo de Welington Andrade e direção de Elias Andreato. Em cena, Denise performa diversos textos de Clarice Lispector e canções interpretadas por Elis Regina, realizando o encontro cênico de três mulheres-criadoras de diferentes gerações.
Sinopse
Muitos anos após declinar do convite de Fauzi Arap para criar um espetáculo com textos da maior escritora brasileira, a atriz e diretora Denise Stoklos promove o encontro do teatro essencial com a obra clariciana. O resultado é uma investigação radical a respeito de como o corpo, a voz e a emoção da intérprete expressam uma palavra literária empenhada em dizer o que a todo momento beira o indizível. Canções de Elis Regina pontuam de tempos em tempos o percurso que vai da negação à constituição do sujeito.
“Abjeto – Sujeito: Clarice Lispector por Denise Stoklos”
Governo do Estado de São Paulo por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa apresentam o espetáculo: “Abjeto-Sujeito: Clarice Lispector por Denise Stoklos” através do programa ProAC Editais de circulação de espetáculos. Há muitos anos, Denise Stoklos foi convidada por Fauzi Arap para criar um espetáculo a partir de textos de Clarice Lispector, de quem ela já era uma dedicada leitora desde os 17 anos. Um episódio particular já havia marcado a criadora do teatro essencial quando ela contribuía, no final da década de 1960, para o jornal do diretório acadêmico da Faculdade de Jornalismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, onde estudava. Grande admiradora da escritora, Denise foi ao Rio de Janeiro e descobriu o endereço de Clarice na lista telefônica. Com a audácia da idade, ligou para ela de um telefone público embaixo do prédio. A própria Clarice atendeu a jovem universitária que lhe pedia uma entrevista e mandou que ela subisse. Feitas as primeiras perguntas, Clarice disparou: “Você não veio me entrevistar, você veio me conhecer, não é? Então, deixe de lado a caneta e o bloco de anotações e vamos conversar.” Do encontro, Denise guardou para sempre a imagem daquela mulher fascinante – ucraniana assim como ela. Cerca de uma década depois, quando ouviu, na derradeira entrevista concedida à TV Cultura, a escritora dizer que jovens leitoras compreendiam melhor sua obra do que os especialistas, Denise se sentiu naturalmente incluída na referência.
Assustada com o desafio lançado por Fauzi de Arap, a jovem atriz capitulou, mas, agora, aos 73 anos, Denise Stoklos promove o encontro do teatro essencial com a obra clariciana. Sem amarras e sem redes de segurança, como convém a uma artista que nunca fez do palco um lugar de teatralidades convencionais. O resultado é uma investigação radical a respeito de como o corpo, a voz e a emoção da intérprete expressam uma palavra literária empenhada em dizer o que a todo momento beira o indizível, como ocorre no conto “A quinta história”; nos romances “Água viva” e “A paixão segundo G.H.”, por exemplo. Canções interpretadas por Elis Regina, como “Meio-termo” e “Os argonautas”, pontuam de tempos em tempos o percurso que vai da negação à constituição do sujeito.
Em seus últimos trabalhos, a atriz tem estado mais porosa a materiais dramatúrgicos com os quais, pela via do exercício da imaginação e da consciência públicas, ela estabelece uma proveitosa interlocução, fazendo com que, por exemplo, Melville, Kafka, Cortázar, Thomas Bernhard, e agora Clarice Lispector façam sentido para nós através de seu corpo e de sua voz. Não constituindo propriamente um espetáculo teatral, embora não lhe faltem as marcas da teatralidade sui generis que Denise Stoklos vem desenvolvendo já há quase cinco décadas, Abjeto – Sujeito: Clarice Lispector por Denise Stoklos é uma espécie de recital retesado pelas cordas da tragédia e da comédia – como convém ao encontro de uma atriz de intensidade ímpar com uma escritora cuja linguagem é essencialmente dramática. Raras são as intérpretes que dão vazão em cena a um dramatismo sem amarras, despudorado, tragicômico, a meio caminho entre a gravidade e a momice. E poucos são os artistas que na idade de Denise ainda se sentem compelidos à improvisação e ao risco.
Denise entrevistou Clarice que entrevistou Elis que fascinou Clarice que fascinou Denise. Três mulheres ligadas pela corrente do destino artístico, da ventura da maternidade, do exercício político feito de sensibilidade e no cotidiano. Três mulheres-criadoras que, por força do tempo natural, não podem se encontrar agora, mas que estarão juntas durante 60 minutos, convivendo mutuamente, graças à ilusão vivificadora que o teatro contemporâneo ainda pode proporcionar.
Sobre Denise Stoklos
Denise Stoklos é considerada uma das intelectuais e performers mais importantes do mundo, se apresentou em mais de 33 países, em 7 diferentes idiomas, recebeu 22 prêmios, publicou 7 livros e atuou em 27 solos teatrais de sua própria autoria. Foi professora de Performance Arts na NYU (New York University – EUA) é doutora honoris causa pela UNICENTRO e foi homenageada diversas vezes emprestando seu nome a um Festival, um Auditório universitário, um Centro Cultural e um Fundação.
Foi também agraciada pela Ordem do Mérito Cultural, do Rio Branco e do Pinheiro, e por diversos prêmios como APETESP, Shell, APCA, Mambembe, além de alguns reconhecimentos internacionais de entidades e festivais de Edinburgh (Escócia), Romênia, EUA, Portugal, Inglaterra, entre outros. Foi dirigida por Antônio Abujamra, Antunes Filho, Luiz Antônio Martinez Correa e Fauzi Arap.
Em mais de 50 anos de carreira, Denise é uma das únicas atrizes brasileiras, de maior visibilidade no país, exercendo continuamente sua profissão exclusivamente no teatro, sem fazer televisão ou telenovela. Denise é um ícone na solo performance mundial, enaltecendo a arte brasileira pelos cinco continentes, sendo a atriz que mais representou a nação em festivais internacionais de teatro pelo mundo.