ARTIGO DE OPINIÃO – O sistema de abastecimento de água em Piracicaba enfrenta um colapso que vem se arrastando há mais de uma década. Esse cenário é fruto de décadas de negligência e da incapacidade de acompanhar o crescimento da cidade e a crescente demanda por recursos hídricos. Quando fui estagiário na Câmara de Vereadores, em 2013 e 2014, o problema já era evidente e motivava constantes requerimentos ao Executivo. Na época, discutia-se a necessidade urgente de substituir a tubulação antiga da cidade – um investimento caro, mas imprescindível. Desde então, o problema só se agravou, até atingir um ponto de ruptura no governo Almeida.
Colapso e grandes adutoras no governo Almeida
Quando Luciano Almeida assumiu o governo, o sistema já estava em colapso, mas o cenário se tornou ainda mais crítico com os rompimentos das grandes adutoras. Não se tratava apenas de vazamentos menores nos bairros ou entradas de loteamentos – que já eram um problema recorrente –, mas das adutoras principais, aquelas que distribuem grandes volumes de água entre pontos estratégicos da cidade. Esses rompimentos evidenciaram o estado avançado de sucateamento da rede e a incapacidade do sistema de suportar a demanda.
A gestão Almeida realizou intervenções emergenciais e investiu milhões para trocar trechos dessas adutoras, mas essas ações, embora necessárias, acabaram sendo apenas “remendos”. Ou seja, trocava-se o trecho rompido por uma nova tubulação, mas o restante da adutora continuava sendo a mesma, já deteriorada. Esse modelo de manutenção apenas postergava os problemas, enquanto o colapso da rede continuava a avançar.
A verdade sobre a capacidade da estação de tratamento
Um dos grandes questionamentos que a população faz, e que nunca foi respondido de forma clara, é: a estação de tratamento de Capim Fino tem capacidade de abastecer toda a cidade? A resposta depende. Se não houvesse as perdas gigantescas na rede – hoje estimadas em 55% –, a produção seria suficiente. Porém, como metade da água tratada é perdida antes mesmo de chegar às torneiras, a estação precisa produzir quase o dobro da demanda real da cidade, o que sobrecarrega o sistema.
Essa falta de clareza por parte dos prefeitos, tanto na gestão Almeida quanto nas anteriores, gera um distanciamento entre a população e o real problema. Em vez de explicar a complexidade da situação, os governos focam em discursos superficiais, que não atendem à necessidade de entendimento da população. Agora, com o sistema em plena crise, essa transparência é mais necessária do que nunca.
Crescimento econômico e aumento do consumo
Nos últimos anos, Piracicaba cresceu economicamente de forma significativa. Empresas como a Caterpillar e a Klabin realizaram grandes investimentos na cidade, enquanto outras, como a Hyundai, chegaram para ampliar ainda mais a base industrial. O crescimento dos distritos industriais, especialmente o Uninorte, atraiu novos empreendimentos e gerou empregos, mas também elevou o consumo de água. Grandes indústrias, como a Oji, que investiu meio bilhão de reais na expansão de sua fábrica no Monte Alegre, são exemplos desse aumento de demanda.
Além disso, o fluxo diário de trabalhadores que vêm de cidades vizinhas para trabalhar em Piracicaba também impacta o consumo de água. Embora muitos não sejam contabilizados no IBGE como residentes, o uso indireto dos recursos hídricos da cidade é significativo. Tudo isso gerou um aumento expressivo na demanda, tanto residencial quanto industrial, enquanto a infraestrutura permanecia defasada e sucateada.
O desafio de Helinho Zanatta
Agora, o prefeito Helinho Zanatta, que assumiu há menos de 48 horas, enfrenta uma crise hídrica sem precedentes. Ele anunciou um gabinete de crise para lidar com os problemas do Semae, mas a população está ansiosa por respostas claras e definitivas. Afinal, qual é o real problema? E, mais importante, qual é a solução? A falta de coragem de gestões passadas em expor o cenário completo deixa Zanatta em uma posição delicada, em que ele precisa liderar com transparência e ação.
A verdade é que Piracicaba precisa de investimentos estruturais massivos e uma gestão mais eficiente para reverter décadas de negligência. A população quer entender como a cidade, com um rio abundante como o Corumbataí, pode estar enfrentando uma crise hídrica tão severa. A resposta passa por reduzir as perdas de água na rede, modernizar a infraestrutura e ampliar a capacidade da estação de tratamento. Mais do que isso, passa por admitir que o sistema está colapsado e que será necessário tempo, paciência e recursos para resolvê-lo.
Piracicaba cresceu, atraiu investimentos e se tornou um polo de desenvolvimento. Mas todo esse progresso trouxe um peso que o sistema de abastecimento não conseguiu suportar. A crise de água que enfrentamos hoje é o reflexo de um paradoxo: uma cidade que cresce e se moderniza, mas que não consegue garantir o básico para sua população. Agora, é hora de encarar os desafios com coragem e clareza, para que possamos superar essa crise e construir uma cidade mais sustentável e eficiente.
JÚNIOR CARDOSO, diretor-fundador e editor-chefe do PIRANOT.
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