O que começou como uma simples usina de cana-de-açúcar e álcool em Piracicaba, no interior de São Paulo, evoluiu para dois, dos três maiores conglomerados empresariais do Brasil, segundo a revista Forbes. A Cosan, fundada em 1936, construiu sua trajetória dominando o setor sucroalcooleiro, mas foi além: expandiu-se para energia, logística, distribuição de combustíveis, gás natural, lubrificantes e até o varejo.
Hoje, tanto a Cosan quanto sua subsidiária Raízen figuram entre os três maiores grupos empresariais do Brasil, segundo a Forbes, ao lado de gigantes como a Vale e a Petrobras. Essa evolução não aconteceu da noite para o dia: foi um processo de diversificação agressiva, aquisições estratégicas e uma visão de longo prazo que transformou a companhia em uma potência multissetorial.
Mas como a Cosan conseguiu sair da produção de açúcar e etanol para se tornar um império que movimenta bilhões de reais por ano e emprega milhares de pessoas?
As origens: a Cosan e o império da cana-de-açúcar
A história da Cosan começou em 1936, com uma única usina de cana-de-açúcar no interior paulista. Durante grande parte do século XX, a empresa focou no setor sucroalcooleiro, expandindo sua produção de açúcar e etanol.
Nos anos 1990 e 2000, a Cosan já era uma das maiores produtoras do mundo, e percebeu que não poderia depender apenas da cana. O mercado estava mudando, e a empresa precisava se reinventar para crescer.
O primeiro passo foi começar a olhar para além da produção agrícola, investindo em infraestrutura, logística e novos mercados. A partir daí, a Cosan começou um processo de diversificação que transformaria seu futuro.
A expansão para energia, combustíveis e logística
Nos anos 2000, a Cosan começou um movimento agressivo de expansão e aquisições, saindo do setor agrícola e entrando em áreas estratégicas da economia.
1. Energia e combustíveis: Raízen e Compass Gás
O grande marco dessa transformação aconteceu em 2011, quando a Cosan fez uma parceria com a Shell para criar a Raízen.
- A Raízen se tornou uma das maiores empresas de energia do Brasil, atuando na produção de etanol, açúcar e bioenergia, além da distribuição de combustíveis nos postos Shell.
- A empresa também investiu em bioenergia e etanol de segunda geração, reforçando sua presença no mercado de energias renováveis.
Além da Raízen, a Cosan entrou no setor de gás natural com a criação da Compass Gás & Energia, que controla a Comgás, maior distribuidora de gás canalizado do Brasil. Esse movimento marcou a entrada do grupo no segmento de infraestrutura energética.
2. Logística: Rumo e o domínio do transporte ferroviário
Com o crescimento da produção de açúcar e etanol, a Cosan percebeu que precisava de uma logística eficiente para escoar seus produtos.
Foi assim que, em 2008, a empresa criou a Rumo Logística, que posteriormente se tornou a maior operadora ferroviária do Brasil.
A Rumo controla importantes malhas ferroviárias que ligam regiões agrícolas ao Porto de Santos, garantindo o transporte eficiente de commodities como grãos, açúcar e combustíveis.
3. Lubrificantes: Moove e a expansão internacional
Outro passo importante foi a entrada no setor de lubrificantes. Em 2008, a Cosan adquiriu os direitos da marca Mobil no Brasil e, anos depois, expandiu a operação para o exterior por meio da Moove.
Hoje, a empresa atua em países como Estados Unidos, Europa e América Latina, consolidando sua presença global.
4. Gestão de terras agrícolas: Radar
Ainda conectada ao setor agrícola, mas agora com um foco mais financeiro e estratégico, a Cosan criou a Radar, empresa voltada para gestão e valorização de terras agrícolas. O objetivo da Radar é adquirir e administrar propriedades rurais, aumentando sua produtividade e gerando retorno financeiro para investidores.
A aposta no varejo: Grupo Nós e Oxxo
O passo mais recente da Cosan foi sua entrada no varejo, através do Grupo Nós, uma joint venture entre a Raízen e a mexicana Femsa.
O Grupo Nós é responsável pela expansão da rede de lojas de conveniência Oxxo no Brasil. O objetivo era transformar o Oxxo em um player forte no mercado brasileiro, aproveitando a estrutura dos postos Shell e disputando espaço com AM/PM (Ipiranga) e BR Mania (Petrobras).
No entanto, a adaptação do Oxxo ao mercado brasileiro tem sido um desafio, e a operação vem registrando prejuízos consideráveis, contribuindo para o resultado negativo da Cosan em 2024.
O custo da diversificação: desafios financeiros e prejuízo bilionário
Apesar de seu crescimento impressionante e da presença em múltiplos setores, a Cosan anunciou um prejuízo de R$ 9 bilhões em 2024. Entre os fatores que levaram a esse resultado estão:
- Dificuldades na operação do Oxxo, que ainda não se consolidou no Brasil.
- Alavancagem financeira, já que o grupo fez investimentos pesados nos últimos anos.
- Cenário econômico desafiador, com impacto nos setores de energia e logística.
O futuro da Cosan e da Raízen: desafios e oportunidades
Agora, a Cosan precisa decidir se continua apostando na diversificação ou se foca nos setores mais lucrativos. Algumas das possibilidades em análise são:
- Reavaliar a expansão do Oxxo no Brasil, ajustando o modelo de negócios.
- Vender ativos para reduzir o endividamento.
- Apostar ainda mais em infraestrutura de energia e logística, que são setores estratégicos e de alta rentabilidade.
Independentemente dos desafios, a Cosan e a Raízen já provaram sua capacidade de adaptação e inovação. De uma usina de cana-de-açúcar, o grupo se tornou um dos maiores conglomerados do Brasil, e agora enfrenta mais um momento decisivo em sua trajetória.