Macumbeiro? Corrupto? Quem é o ex-presidente do Brasil Fernando Collor de Mello

Primeiro presidente eleito pelo voto direto após a ditadura militar, Collor teve um mandato marcado por escândalos, reformas econômicas e uma renúncia em meio a um processo de impeachment

Eleito presidente do Brasil em 1989, Fernando Collor de Mello tornou-se o símbolo de um novo momento político no país. Jovem, com discurso de modernização e combate à corrupção, prometia acabar com os chamados “marajás” do serviço público e estabilizar a economia. Mas sua passagem pelo Palácio do Planalto foi cercada de polêmicas, denúncias e um episódio marcante para a população brasileira: o confisco da poupança.

O confisco da poupança e o Plano Collor

Em março de 1990, logo após tomar posse, Fernando Collor lançou o Plano Collor, uma tentativa radical de controlar a hiperinflação que atingia níveis superiores a 80% ao mês. A medida mais drástica do pacote econômico foi o bloqueio das poupanças e contas correntes de pessoas físicas e jurídicas com valores acima de 50 mil cruzeiros.

Na prática, os brasileiros acordaram sem acesso ao próprio dinheiro. O plano afetou milhões de pessoas e até hoje é lembrado com ressentimento por aqueles que perderam economias de uma vida inteira. Embora o plano tenha tido respaldo técnico de economistas da época, sua execução gerou traumas e prejudicou fortemente a imagem do presidente.

As acusações de corrupção

Em 1992, o irmão de Collor, Pedro Collor, fez acusações públicas contra o presidente, denunciando um esquema de corrupção e tráfico de influência comandado pelo ex-tesoureiro de campanha Paulo César Farias (PC Farias). A denúncia foi o estopim para uma CPI no Congresso Nacional que apurou irregularidades no governo.

Com os indícios reunidos, o processo de impeachment foi aprovado pela Câmara dos Deputados, e, poucos dias antes do julgamento final pelo Senado, Collor renunciou ao cargo. Mesmo assim, o processo seguiu, e ele foi inelegível por oito anos.

Mais tarde, em 1994, o Supremo Tribunal Federal o absolveu por falta de provas das acusações de corrupção passiva. Ainda assim, o desgaste político foi irreversível.

Collor e a religião: polêmicas e rumores

Durante seu governo, também circularam rumores sobre a suposta prática de ritos religiosos de matriz africana no Palácio da Alvorada. A mídia da época chegou a publicar reportagens insinuando que o presidente havia participado de “sessões espirituais”.

Não há, no entanto, qualquer comprovação oficial de que Collor tenha feito “macumba” ou qualquer tipo de ritual voltado para fins políticos. O próprio ex-presidente negou as acusações em entrevistas. As especulações, muitas vezes carregadas de preconceito religioso, foram amplamente exploradas por setores da imprensa e por adversários políticos.

É importante destacar que a liberdade religiosa é garantida pela Constituição Brasileira, e práticas espirituais — sejam elas de matriz africana, cristã, indígena ou qualquer outra — não devem ser criminalizadas ou usadas para desqualificar a trajetória de nenhuma figura pública.

Retorno à vida pública

Após cumprir a inelegibilidade, Fernando Collor voltou à política. Foi eleito senador por Alagoas em 2006 e reeleito em 2014. Durante sua atuação no Senado, manteve-se ativo em comissões e participou de votações importantes, embora com menor protagonismo em nível nacional.

Investigações mais recentes

Em 2023, o Supremo Tribunal Federal condenou Collor a 8 anos e 10 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato, relacionada a contratos da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras. A sentença apontou que o ex-presidente recebeu propina em troca de apoio político a determinados empresários no setor energético.

Collor se declarou inocente e, até o momento, recorre da decisão. O caso ainda aguarda os desdobramentos jurídicos.


Conclusão: uma figura marcada pela controvérsia

Fernando Collor de Mello segue como uma das figuras mais controversas da história recente do Brasil. De promessa da modernização a protagonista de um dos maiores escândalos políticos do país, sua trajetória mistura avanços, retrocessos, lendas e capítulos reais de impacto profundo na memória nacional.

A avaliação de sua figura exige cautela, rigor histórico e distinção clara entre fatos comprovados e boatos alimentados pelo calor da política.

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