Na noite de segunda-feira (6), o SBT voltou a ser alvo de questionamentos e críticas públicas após a revelação, feita ao vivo no programa Fofocalizando, de que a apresentadora Cariúcha procurou ajuda diretamente ao apresentador Ratinho, dono de afiliadas da emissora no Paraná e figura influente internamente. O episódio, transmitido nacionalmente, marcou mais um capítulo delicado para o canal, que completa uma sequência de escândalos e decisões editoriais controversas.
A cena chamou a atenção dos telespectadores por dois motivos principais: o tom de exposição emocional da apresentadora, que admitiu crises psicológicas e uso de medicação controlada, e a revelação de que teria recorrido ao Ratinho em busca de apoio, após reiteradas dificuldades internas.
“Eu pedi ajuda para o Ratinho. Fui até o camarim e falei se ele poderia me ajudar”, disse Cariúcha, visivelmente abalada, enquanto era questionada por Léo Dias, ao vivo.
O fato, embora minimizado pela direção no ar, pode servir como reforço em investigações e questionamentos jurídicos em andamento sobre o ambiente de trabalho nos bastidores da emissora. Há pouco mais de um mês, a ex-assistente de palco Juliana Alves acusou o apresentador Otávio Mesquita de estupro durante sua passagem pelo programa The Noite, e denunciou suposto acobertamento interno por parte do SBT.
Ratinho: da vitrine ao bastidor
A menção direta ao Ratinho levanta nova polêmica sobre seu papel dentro do SBT. Mais do que apresentador, Carlos Massa é sócio estratégico da emissora, com forte presença na gestão via seu grupo de afiliadas no Paraná. Seu nome voltou ao centro da crise após ser utilizado pelo canal como porta-voz informal para reagir às críticas do Troféu Imprensa 2024.
“A Globo faz o ‘Melhores do Ano’, por que o SBT não pode ter o seu?”, questionou Ratinho durante o evento, justificando a enxurrada de prêmios para produções da própria emissora, o que causou mal-estar entre profissionais da imprensa e concorrentes do setor.
A declaração gerou desconforto, sobretudo por destoar do espírito original do prêmio, criado por Silvio Santos como uma homenagem à comunicação brasileira em geral, e não uma vitrine interna. Em anos anteriores, o próprio Silvio discordava de jurados que favoreciam excessivamente sua emissora.
No mesmo evento, Ratinho já havia causado indignação ao minimizar publicamente a denúncia de estupro feita por Juliana Alves, no mesmo palco dos jurados. “Nem sei se foi isso mesmo”, chegou a insinuar. A fala foi interpretada por entidades e por parte da imprensa como uma tentativa de desacreditar a vítima e blindar a emissora.
Constrangimento e silêncio
Nesta segunda-feira, após a revelação de Cariúcha sobre seu pedido de ajuda, o único que tentou interagir com Ratinho foi Sérgio Mallandro, que desviou o tema com um comentário irreverente sobre nunca ter sido indicado ao prêmio. A tentativa de descompressão foi vista por muitos como um esforço para evitar o aprofundamento do constrangimento.
Já nos bastidores da TV Gazeta, o colunista José Armando Vanucci, jurado da premiação, se explicou no ar sobre os votos que deu — incluindo o polêmico prêmio de melhor programa diário para o Fofocalizando — e se esquivou de maiores comentários. O programa da Gazeta, Mulheres, concorre com o Fofocalizando em horário semelhante em várias praças.
Crise institucional e questionamentos éticos
A sucessão de episódios fragiliza ainda mais a imagem do SBT em um momento de reformulação intensa. José Luiz Datena pediu demissão recentemente, o canal enfrenta sua terceira reformulação de grade em dois anos, e artistas como Cariúcha vêm manifestando publicamente desconforto com a pressão dos bastidores.
A forma como o SBT tem usado figuras como Ratinho para gerir crises públicas e justificar decisões estratégicas levanta críticas sobre imparcialidade, blindagem e estrutura interna.
“O SBT transformou um prêmio criado para valorizar toda a imprensa em uma espécie de ‘Melhores do Ano’ da própria emissora — o que jamais foi a proposta original”, escreveu um colunista do setor nesta terça-feira.