*Vinicius Marchese alerta para falhas estruturais na formação e defende protagonismo dos engenheiros*
_Presidente do Confea reage à análise de Ana Maria Diniz no Valor Econômico e amplia debate sobre crise na engenharia brasileira_
Vinicius Marchese, presidente do Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia), afirmou que o Brasil precisa enfrentar de forma mais ampla e estruturada a crise na formação de engenheiros, destacada em artigo da empresária Ana Maria Diniz publicado nesta semana no jornal Valor Econômico. Para Marchese, os alertas sobre o declínio nas matrículas de engenharia e a desconexão entre o ensino e as necessidades do país escancaram um problema sistêmico que vai muito além dos conselhos profissionais.
“Mais uma vez, vemos uma voz relevante apontando o óbvio: sem base sólida em matemática e ciências no ensino básico, não há como sustentar um curso de engenharia — muito menos um projeto nacional de desenvolvimento”, afirmou. Ele reforçou que o gargalo está na formação dos professores e na ausência de um esforço coordenado para preparar os jovens para as carreiras técnicas e científicas.
O artigo de Ana Maria Diniz, fundadora do Instituto Península, publicado na segunda-feira (5), cita a queda de 44,5% nas matrículas em cursos presenciais de engenharia entre 2014 e 2020 e defende que o país precisa “alinhar a formação acadêmica às demandas do mercado e reverter a crise na engenharia”. A empresária ainda aponta o déficit de professores com formação adequada para ensinar matemática como um dos principais entraves.
Marchese avalia que esse diagnóstico reforça o que já vem sendo debatido por educadores e profissionais da área, mas ainda sem a resposta que o tema exige do poder público. “Não é um problema dos CREAs ou do sistema profissional. É uma falha de base. O Brasil precisa de uma estratégia nacional para formar engenheiros — e isso começa pelo investimento em educação básica e na valorização dos professores”, disse.
Ele também citou exemplos internacionais, como Coreia do Sul e Alemanha, onde a engenharia é considerada pilar do desenvolvimento e conta com forte articulação entre ensino técnico, universidades e setor produtivo. “Esses países estruturaram políticas de longo prazo para formar engenheiros e colocá-los como protagonistas da inovação. No Brasil, ainda estamos discutindo se o aluno sai do ensino médio sabendo somar frações.”
Na visão do presidente do Confea, o artigo do Valor Econômico ajuda a ampliar o debate e deve servir como ponto de partida para uma mobilização maior da sociedade. “A engenharia é estratégica para o futuro do país. Não há transição energética, inovação, infraestrutura ou indústria forte sem engenheiros bem formados. O Estado precisa assumir essa agenda com prioridade.”
Segundo ele, o Confea tem atuado para aproximar o sistema profissional das universidades e propor políticas públicas que valorizem a formação técnica, mas reconhece que o esforço precisa ser compartilhado. “O protagonismo da engenharia só será possível com uma mudança estrutural. E para isso precisamos de diálogo com os governos, com a sociedade e com o setor produtivo. Não podemos mais tratar o tema como algo periférico.”