A gigante do setor sucroenergético Raízen anunciou nesta segunda-feira (12) a venda da usina Leme, localizada no município paulista de mesmo nome, para o grupo Ferrari Agroindústria em parceria com a Agromen Sementes Agrícolas. A transação, feita à vista, totaliza R$ 425 milhões e marca uma das maiores movimentações do setor em 2025. A venda surpreendeu o mercado financeiro. É a primeira usina que o grupo vende no seu berço de origem, Piracicaba. Leme é uma cidade da Região Metropolitana de Piracicaba.
O negócio, que ainda depende de aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), foi oficializado por meio de comunicado ao mercado assinado por Rafael Bergman, CFO da Raízen. A companhia destacou que a venda se alinha à sua estratégia de reduzir o endividamento, otimizar o portfólio e buscar mais eficiência agroindustrial.
A unidade Leme havia sido incorporada ao conglomerado em 2021, com a compra da Biosev, e possui capacidade de moagem de 1,8 milhão de toneladas por safra. A negociação incluiu ainda 1,5 milhão de toneladas de cana-de-açúcar, ao preço médio de R$ 236 por tonelada — patamar considerado alto para o momento atual do mercado.
Estratégia de desinvestimento e foco em ativos com maior retorno
A venda faz parte de um plano mais amplo de reestruturação interna da Raízen, que desde o segundo semestre de 2024 já vinha sinalizando ao mercado o interesse em vender ativos considerados “não estratégicos”. Em novembro passado, a companhia já havia se desfeito de até 900 mil toneladas de cana para a Alta Mogiana por cerca de R$ 381 milhões.
Segundo o ex-CEO Ricardo Mussa, que liderou parte dessa reavaliação de portfólio, a Raízen está focada em manter unidades com maior integração e potencial de produção de etanol de segunda geração (E2G), reduzindo o número de “tail mills” — usinas que, segundo ele, “não fazem tanto sentido estratégico para o grupo”.
Com a exclusão da unidade Leme, a Raízen passa a contar com 33 usinas no Brasil, sendo que quatro delas já operam com tecnologia E2G: Costa Pinto (Piracicaba), Bonfim (Guariba), Univalem (Valparaíso) e Barra (Barra Bonita). A unidade Costa Pinto, contudo, encontra-se temporariamente paralisada.
Reação do mercado e próximos passos
O anúncio pegou parte do mercado de surpresa, especialmente por se tratar de um ativo recentemente incorporado ao grupo e em plena operação. No entanto, especialistas do setor veem a movimentação como uma estratégia agressiva e coerente com o momento da empresa, que enfrenta desafios de margem e dívida em um cenário macroeconômico mais volátil.
“A Raízen está buscando capitalizar ativos que têm mais valor para terceiros do que para o grupo. Isso permite reinvestir em áreas mais estratégicas, como E2G e distribuição de combustíveis”, afirmou um analista consultado pela NovaCana.
Situação da unidade vendida
A usina de Leme permanecerá operacional, agora sob comando da Ferrari e Agromen, empresas com forte presença no agronegócio e interesse crescente no setor de bioenergia. Ainda não há informações sobre eventuais mudanças no quadro de funcionários ou nos contratos com fornecedores de cana.
As partes envolvidas também não detalharam se haverá continuidade de contratos antigos firmados pela Raízen com produtores locais, ou se será feita uma reformulação completa da operação sob a nova gestão.