
Pastor evangélico e eleito vereador e presidente da Câmara de Vereadores de Piracicaba no ano de 2025, Já ocupou o cargo de primeiro secretário da Mesa Diretora e de membro da Comissão Permanente de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania, ocupando a vice-presidência da Mesa Diretora da Câmara em 2023/2024 e presidindo a Comissão de Ética e Decoro Parlamentar.
Em entrevista ao PIRANOT, Rerlison Rezende (PSDB) pontuou os principais desafios e necessidades da cidade de Piracicaba (SP), tendo a responsabilidade de ser o porta-voz da casa de leis.
Nascido no Estado do Paraná, como você veio parar em Piracicaba?
Primeiramente, é uma grande oportunidade estar aqui com vocês, neste dia tão importante para mim, participando desta entrevista. Como muitos sonhadores que vêm de outros estados, meus pais deixaram tudo para trás em busca de uma vida melhor. Eles saíram do Paraná — deixaram suas profissões, suas famílias e toda uma história — e vieram para o estado de São Paulo em busca de oportunidades. Lá no Paraná, minha mãe era professora, e meu pai trabalhava na SESP, atuando na região do Rio Paraná, na divisa do estado. Eles abriram mão dessa estabilidade e vieram recomeçar do zero. Minha mãe chegou a trabalhar como faxineira aqui em São Paulo, algo muito diferente do que fazia anteriormente. Mas ela aceitou o desafio com dignidade. Acredito que isso acontece ainda hoje com muitos que saem até do país em busca de uma nova vida: precisam recomeçar, muitas vezes, fora de sua área de formação. Meu pai também precisou recomeçar, aceitando o que aparecia e subindo degrau por degrau. Com muito esforço, ele foi crescendo profissionalmente até conquistar um cargo no setor público, onde se aposentou mais tarde. E foi assim que nós começamos nossa vida aqui em São Paulo, com muito trabalho, humildade e perseverança.
A questão da religião é muito forte em sua vida, quando descobriu a vocação de ser pastor?
Ser pastor é algo divino, um chamado. Não é uma profissão que você escolhe como um curso qualquer, é uma vocação. Minha mãe conta uma história marcante, que aconteceu ainda no Paraná, quando fui apresentado a Deus na igreja. No meio da cerimônia, o pastor olhou para mim e disse que eu poderia ser muitas coisas — e uma delas seria pastor. Isso me emociona até hoje, porque desde então essa palavra ficou no meu coração. Sou cristão desde o nascimento, cresci em uma família cristã. Apesar disso, tentei seguir outros caminhos. Sou funcionário público desde 1995, comecei a trabalhar ainda jovem e cheguei a cursar Engenharia Civil. Mas mesmo estudando engenharia, algo me puxava para outro lado. Foi nesse período que iniciei o curso de Teologia, tentando conciliar as duas áreas. Embora sempre tenha tido facilidade com matemática, o que realmente me tocava era a missão de servir ao próximo. A vocação pastoral fala sobre cuidar, ouvir, orientar — e foi isso que me chamou. Por isso, ser pastor, para mim, é mais que um título: é um propósito de vida.
Ser presidente do legislativo é o maior desafio da sua carreira até agora?
O meu maior desafio, quando entrei no Semae como servidor público, foi aprender a servir à sociedade — e isso antes mesmo de completar 18 anos. Ser presidente é apenas mais um degrau nessa missão de servir. Não busquei esse cargo por status ou por vaidade. Fui chamado. Alguém me convidou para uma reunião e disse: ‘Acho que está na hora de alguém assumir com a verdadeira visão de servir’. Isso me tocou profundamente, porque acredito que liderar é, antes de tudo, continuar sendo servidor. Esse espírito de serviço está no meu sangue e na minha família. Meu pai foi servidor público, meus irmãos também já atuaram como servidores, tenho uma tia que é professora até hoje, mesmo aposentada. O desejo de servir é um valor que carrego desde cedo e que continua firme na minha vida. Por isso, aceitei o desafio de ser presidente: porque acredito na possibilidade real de melhorar a cidade e a vida do cidadão. Servir à comunidade, contribuir para transformar a realidade das pessoas — isso é o que me motiva.
Qual será sua estratégia para garantir o diálogo entre diferentes partidos e ideologias dentro da Câmara?
Eu acho que uma característica minha é que eu sou agregador. Eu sou, eles falam que eu sou um jeito de boa, agregador, e por ser agregado, por você dar uma olhada na mesa, diretor, eu sou um PSDB. Fiz campanha com Barjas Negri. O vice-presidente é o Rafael Boer. Fiz campanha ligada ao Alex Madureira. O primeiro secretário é o Thiago Ribeiro. O Thiago Ribeiro era do partido do Hélio Zanatta, do prefeito que venceu. A segunda secretária é a Alessandra Bellucci. Fez campanha para o Brito. Então, se você olhar a mesa, tem o Gustavo Pompeu, que também era do Brito. Tem o Fabinho que era ligado ao Alex, que fez campanha para o Alex. Era uma composição de todos. Na minha votação, quando eu fui eleito ao presidente, eu tive voto da Silvia. Nós trabalhamos com o PT, na parte esquerda, então acho que esse agregar de ser não presidente de uma tendência, eu não sou presidente de uma tendência, eu sou um presidente de todos, é uma visão de todos, vamos todos unidos. Eu acho que essa Câmara tem muito a ganhar o nosso trabalho, essa legislatura, de uma visão de todos unidos em prol bem comum da sociedade. Acho que isso que me fez ser agregador, ter 18 votos, ter essa grande maioria.
Como avalia a atual relação entre a Câmara Municipal e o Executivo?
Essa é uma pergunta que me fizeram antes mesmo de eu me tornar presidente da Câmara. Atualmente, estou no meu terceiro mandato como vereador. No primeiro mandato, atuei na base do governo Barjas Negri, então era um mandato de situação. Já no segundo, durante a gestão do prefeito Luciano, estive na oposição. Esses dois momentos me ensinaram muito — vivenciar os dois lados trouxe equilíbrio e compreensão do papel do Legislativo. A nossa visão é clara: a Câmara de Vereadores tem como função principal fiscalizar o Poder Executivo. Além disso, cabe a nós legislar, ou seja, criar e aprovar leis que beneficiem a sociedade. O Executivo envia projetos, mas os vereadores também podem apresentar propostas que não partiram do prefeito — e nós debatemos e votamos com base no interesse público. Eu sempre digo: o Brasil precisa de união entre os Poderes. Legislativo, Executivo e Judiciário devem caminhar juntos. Só quem ganha com isso é a população. Gosto de usar a Bíblia como base para minha vida, e tem um versículo que diz: “Uma casa dividida não prospera”. Quando há desunião, todos perdem. Mas quando há harmonia, quem vence é a sociedade como um todo.”
Quais as prioridades como presidente da Câmara de Piracicaba?
A minha prioridade, como presidente, sempre foi clara: auxiliar todos os vereadores — sem distinção entre oposição e situação — para que cada um possa desenvolver bem o seu trabalho. Acredito que, quando todos conseguem exercer seu mandato com qualidade, quem ganha é a população inteira. Sempre repito: é isso que dá sentido à Câmara Municipal. Por que temos 23 vereadores? Porque cada um representa um segmento da sociedade. Há representantes das comunidades evangélica, católica, espírita, pessoas ligadas à cultura, periferia, centro, esquerda, direita e centro político. Ou seja, a cidade escolheu um pouco de cada realidade para formar o seu Legislativo. E quando esses diferentes olhares se unem por Piracicaba, a cidade melhora. Como presidente, não exerço meu mandato apenas pensando em mim. Eu trabalho pelos 23 vereadores, inclusive por mim mesmo, para que todos tenham as mesmas condições de trabalho, com igualdade, estrutura e respeito. Estou aqui todos os dias, inclusive à noite, finais de semana e feriados, se necessário. Já saí da Câmara às 23h da noite em vários dias. Tudo isso para garantir que cada vereador tenha a oportunidade de fazer a diferença para a população que representa. É isso que eu busco construir diariamente
Nos últimos dias chamou bastante atenção da população o assunto sobre a taxa de iluminação. Há muita rejeição da população, fale um pouco sobre isso.
A taxa de iluminação pública foi apontada como necessária pelo Tribunal de Contas. Diante disso, o Poder Executivo encaminhou o projeto à Câmara de Vereadores para análise e votação. O projeto passou por várias comissões internas, compostas por diferentes vereadores. Cada comissão é responsável por avaliar aspectos técnicos e de legalidade, ou seja, verificar se o projeto está de acordo com a legislação vigente. Não se trata de julgar se o projeto é ‘bom’ ou ‘ruim’, mas se ele cumpre os requisitos legais. Após essa etapa técnica, o projeto seguiu para votação em plenário, onde cada vereador vota de acordo com sua consciência e entendimento sobre o impacto da proposta. É importante destacar que, por se tratar de uma taxa, o projeto tem um peso político e social, podendo ser considerado impopular por parte da população. No entanto, a maioria dos vereadores entendeu que a criação da taxa era necessária, principalmente diante das exigências legais e da responsabilidade fiscal do município. Vale ressaltar também que a aplicação da taxa está prevista apenas para 1º de janeiro de 2026, ou seja, ainda há um período significativo para debates, esclarecimentos e diálogo com a população. Os vereadores continuam explicando o projeto à comunidade, com total abertura para questionamentos e sugestões. O objetivo é garantir que a população compreenda os motivos da proposta e participe do processo de forma transparente.
Qual a sua principal motivação da vida?
O que motiva a minha vida todos os dias é saber que acordei com vida — um presente de Deus. Eu tinha tudo para não ser feliz, mas sou grato por cada conquista. Vim do Paraná, enfrentei muitas dificuldades. Minha mãe trabalhou em dois empregos como faxineira, meu pai era servidor público. Passamos por tempos difíceis. Lembro de um episódio marcante na infância: eu estudava na escola Getúlio Vaz de Torrezan, em Itaporã, e, certo dia, a diretora entrou na sala e disse:
“Nenhum desses alunos vai chegar à universidade.” Aquela era a realidade dura que nos cercava. Mas, mesmo assim, eu sonhei. O que me motiva todos os dias a sair de casa é saber que posso, por meio do serviço público, alcançar crianças e famílias que enfrentam as mesmas dificuldades que eu enfrentei. Fui uma criança de pronto-socorro, de postão, de fila desde a madrugada. Minha mãe acordava às 5h da manhã, pegávamos o primeiro ônibus, descíamos no terminal e subíamos a pé para pegar uma senha e esperar atendimento médico. Às vezes só saíamos de lá às duas ou três da tarde. Lembro que minha mãe levava um pão na bolsa — era tudo o que tínhamos. Aos poucos, nossa realidade foi se transformando. Melhoramos de vida, crescemos, e eu tive oportunidades. Tive quem me ajudasse: Deus, minha família, minha igreja. Sou eternamente grato. Na infância, o único brinquedo que eu ganhava no ano era no Natal da igreja, durante os eventos sociais que eles realizavam. É por isso que eu luto todos os dias. Para que outras crianças também tenham a chance de uma vida melhor. Para que a educação melhore, para que a saúde funcione de verdade, para que o transporte público atenda a quem mais precisa. Às vezes penso em levar meu filho à escola onde estudei e mostrar de onde eu vim. Talvez ele nem acredite. Mas eu me emociono só de pensar, porque sei o quanto foi difícil chegar até aqui. Eu sei o que é andar em ônibus lotado. Eu sei o que é depender de pronto-socorro. Eu sei o que é ter uma mãe na fila da creche. Mas também sei que o que é difícil hoje pode ser o que transforma o amanhã. É isso que me move. É por isso que estou aqui. É por isso que eu trabalho todos os dias.
Pra finalizar, alguma novidade em primeira mão para o PIRANOT?
Bom, talvez não seja uma novidade no sentido tradicional, mas é algo que considero muito importante e gostaria que a população prestasse atenção. Eu tenho um filho autista, meu único filho, e toda a nossa família está envolvida nos cuidados com ele. Isso me deu não apenas uma causa pessoal, mas uma bandeira de vida: lutar por uma cidade mais preparada para acolher e cuidar de pessoas com autismo. Estamos trabalhando para que Piracicaba se torne uma referência no atendimento à pessoa com autismo no estado de São Paulo. Não posso falar ainda pelo Brasil, mas garanto que, no estado, estamos nos estruturando para avançar de verdade, com seriedade e compromisso — não de forma política, mas com base em ações concretas. Este é um trabalho que venho desenvolvendo lado a lado com o vereador Hélio e outros parceiros comprometidos. O autismo não afeta apenas a criança, afeta toda a família, e por isso o suporte precisa ser completo — social, emocional, educacional e médico. Vocês sabiam que, em média, uma a cada 30 crianças que nascem em Piracicaba está dentro do espectro autista? E junto com essa criança, toda a família enfrenta desafios diários. O autismo é um tema ainda recente, mas os casos crescem a cada ano, e os profissionais e políticas públicas precisam acompanhar essa realidade. Estamos desenvolvendo projetos e ações concretas, preparando a cidade para ser um dos melhores lugares do estado — e, futuramente, do país — no acolhimento ao autismo. Essa é minha bandeira, meu trabalho diário, mesmo quando carrego dores pessoais. É um esforço contínuo, de formiguinha, que passa por conscientização, investimento público e apoio da sociedade. Acredito que, ao melhorar a vida de uma criança autista, estaremos transformando a realidade de toda uma família. E, com isso, vamos mudar muitas vidas. Essa é a minha missão. Estamos trabalhando também na implantação dos gabinetes itinerantes, para que os vereadores possam atender diretamente nos bairros e em outras regiões da cidade. Sabemos que muitas vezes a população tem dificuldade de se deslocar até a Câmara, então a proposta é justamente levar o Legislativo até as pessoas, ouvindo de perto suas demandas e fortalecendo a participação popular.
