No ar desde o início de 2025, a nova versão de Vale Tudo exibida pela Globo vem dividindo opiniões, confundindo o público e, acima de tudo, provocando uma reviravolta inesperada: Odete Roitman se tornou, sem dúvidas, a verdadeira protagonista da trama, mesmo sem ter sido escrita para isso. Mulher idosa, com vida sexualmente ativa, transando com “novinhos”, que chovou em 1988, a “vilã” é dura em suas falas contra, principalmente, seus filhos, que vivem uma boa vida mantida por ela, dona de uma empresa de taxi aéreo.
A personagem, agora vivida por Cássia Kis, carrega o peso simbólico da vilã icônica interpretada por Beatriz Segall em 1988, e, tem dominado as discussões nas redes sociais por um motivo claro: é a única personagem que parece dizer o óbvio. Em meio a um núcleo central repleto de personagens inexpressivos ou mal construídos, Odete surge como uma espécie de oráculo moral, mesmo que elitista, impondo verdades duras para o filho, para a nora e até para os telespectadores.
Protagonistas apáticos e falta de carisma
A personagem Raquel, vivida por Taís Araújo, virou alvo de críticas. Mesmo com o mérito de ser uma empreendedora dona de restaurante, ela é retratada como uma mulher insegura, passiva e mal resolvida, tanto no aspecto pessoal quanto emocional. Em vez de representar força e superação, como na versão de Regina Duarte, a nova Raquel é chamada de “tapada” pelo público — expressão que tem tomado conta das redes sociais.
Maria de Fátima, papel agora de Bela Campos, também não convence. Seu desempenho é apontado como raso, sem a sagacidade e ambição contagiante que glorificaram a personagem na versão original. Já Solange, interpretada por uma atriz que ainda não encontrou sua voz na trama, é considerada irrelevante: não incomoda, mas também não encanta — um verdadeiro “zero à esquerda”.
O herdeiro da empresa aérea, personagem que em tese deveria articular o conflito central entre os valores da família Roitman e a moral social da trama, é outro ponto de contradição: vive do luxo, mas critica o capitalismo e poluição causadas pela própria fortuna. Uma caricatura de militância sem profundidade.
Odete e a necessidade de virada dramática
Com esse cenário, a personagem Odete se impõe. É ela quem dá ritmo à novela, faz críticas certeiras, sustenta a elegância e, paradoxalmente, conquista o público por sua lucidez — mesmo sendo, teoricamente, a antagonista. Ela não aceita, por exemplo, nem a maionese da Raquel, tamanha é sua aversão à mediocridade.
Como aconteceu com a novela A Favorita, em 2008, que inicialmente confundia o público ao esconder quem era a vilã entre Donatela e Flora, Vale Tudo atual também flerta com a inversão dramática. No entanto, ao contrário da obra de João Emanuel Carneiro, que revelou a vilania da Flora com uma virada no capítulo 56, esta nova Vale Tudo ainda não entregou seu ponto de virada — e isso está custando caro na audiência.
O que a Globo precisa fazer
A solução já está em cena e tem nome: revelar ao público, o mais rápido possível, o segredo de Odete Roitman.
Há rumores de que a personagem guarda um trauma familiar — teria inclusive matado um filho no passado, numa trama ainda mal explorada. Ao revelar esse segredo diretamente ao público, mantendo os demais personagens no escuro, a Globo conseguiria inverter a curva dramática da história e dar a Odete o protagonismo vilanesco que ela merece, pavimentando o caminho para sua morte icônica, prevista para o final da novela.
Aliás, diante do desgaste da trama e da aproximação da próxima novela das nove, Três Graças, escrita por Aguinaldo Silva, a emissora já decidiu encurtar Vale Tudo em uma semana. Nesse sentido, a morte de Odete precisa ser antecipada, provavelmente para o final de junho, o que daria novo fôlego à reta final.
Hora de transformar uma protagonista moral em vilã clássica
Odete Roitman não pode sair desta versão de Vale Tudo como mártir ou justiceira. O público está preparado — e, de certa forma, pedindo — por uma vilã raiz, e a própria trama oferece esse caminho com naturalidade.
Mas, para isso, o roteiro precisa ter coragem de inverter o jogo agora, antes que a apatia tome conta de vez da audiência. Revelar o segredo da personagem ao público, de forma íntima, intensa e psicológica, é a virada que essa novela pede com urgência.
A pergunta que Gilberto Braga eternizou ainda ressoa: “Vale a pena ser honesto?”
Se depender da nova Odete Roitman, a resposta ainda está por vir — mas precisa ser contada com pressa, impacto e grandeza.