A saída de Cátia Fonseca da TV Bandeirantes, confirmada na noite de hoje (11), não foi apenas o fim de uma era no “Melhor da Tarde”. Ela simboliza e, se une, as maiores falhas estratégicas da Band na última década: o abandono de programas e talentos que entregam resultados sólidos em audiência e prestígio comercial, sem o devido investimento ou reconhecimento, abandonam a emissora que sempre quer o externo e não vê o interno, mesmo que recém-contratado .
Cátia, que ficou sete anos à frente das tardes da emissora, é reconhecida como uma das poucas comunicadoras da televisão brasileira que consegue unir carisma, estabilidade e faturamento. Substituta de Ana Maria Braga no clássico “Note e Anote”, na Record, ela se consolidou como nome de peso na publicidade e no entretenimento. Acumulando marcas de renome desde este tempo, e mantendo nos tempos da TV Gazeta até a Band, ela sempre teve um relacionamento lucrativo com o mercado anunciante — algo cada vez mais raro no atual cenário de comunicação.
“Ela faz o público confiar no que ela fala. E isso, para uma marca, é ouro”, comenta um executivo do setor publicitário. “Poucas apresentadoras conseguem isso hoje.”
A marca Cátia Fonseca
No Melhor da Tarde, Cátia garantia à Band uma audiência estável de 2 a quase 3 pontos de Ibope, em horário difícil, disputando diretamente com Globo, Record e SBT. Mais do que números, o programa cumpria um papel fundamental: entregar com consistência a faixa para o Brasil Urgente de José Luiz Datena, que por sua vez alavancava a noite da Band.
Mesmo com essa relevância, o programa vinha sofrendo com a falta de estrutura, de equipe e de apoio promocional. A apresentadora chegou a alegar, em sua carta de demissão, descumprimentos contratuais e ausência de condições básicas para manter o formato com qualidade — um desabafo que escancarou o que muitos profissionais da emissora já vinham comentando nos bastidores.
Um histórico de abandono
A postura da Band em relação a Cátia Fonseca não é um caso isolado. A emissora tem um histórico conhecido por abandonar ou sabotar suas próprias produções que estavam funcionando. Foi assim com o CQC (Custe o Que Custar), que revelou uma geração de talentos como Marcelo Tas, Marco Luque, Rafael Cortez e Danilo Gentili. Mesmo com enorme repercussão e influência cultural, o programa foi sendo esvaziado até sair do ar.
O mesmo aconteceu com o Agora é Tarde, talk show comandado por Danilo Gentili e, depois, Rafinha Bastos. Ambos elevaram o nível das noites da Band com humor ácido, boas entrevistas e relevância nas redes. Quando os formatos começaram a brilhar, acabaram descontinuados ou boicotados por decisões internas.
O Pânico na Band, que veio da RedeTV!, também encontrou um ambiente de grande audiência, mas logo enfrentou cortes, interferências e perdeu força até seu fim. O jornalístico A Liga, uma proposta ousada de jornalismo social e investigativo, foi elogiado pela crítica e conquistou o público jovem — e ainda assim, foi abandonado. Sem falar em realities como Samu 24h e Polícia 24h, que tiveram altos índices de repercussão e audiência, mas acabaram esquecidos em nome de novas apostas, muitas vezes inócuas.
E os investimentos?
Recentemente, a Band investiu pesado em nomes como Faustão e Galvão Bueno, em projetos que, embora ambiciosos, não conseguiram engajar o público ou garantir retorno comercial à altura dos gastos. Enquanto isso, programas já consolidados, como o Melhor da Tarde, seguiam sem recursos, com cortes de equipe e falta de divulgação.
Agora, o cenário se repete. Com a saída de Cátia, especula-se nos bastidores que a Band estaria novamente em conversa com Marcia Goldschmidt, uma das apresentadoras mais marcantes da sua história. Marcia esteve recentemente na sede da Band, em reunião com a alta direção, incluindo a família Saad. Ela relembrou os bons números de audiência que registrava com o Márcia e o Jogo da Vida, e teria sinalizado disposição para voltar ao ar — inclusive em faixas alternativas como terças ou finais de semana.
“Não disse ‘quero meu horário de volta’, mas deixou claro que poderia voltar, sim. O clima foi de nostalgia, mas com proposta real”, revelou uma fonte ligada à emissora.
Risco de esvaziamento
Com o vácuo deixado por Cátia, e sem um nome à altura confirmado até o momento para substituí-la, a Band corre o risco de esvaziar um dos poucos produtos que ainda resistiam no meio da tarde. O Melhor da Tarde tem garantido resultados consistentes em um cenário extremamente competitivo, mas sempre ficou à margem das decisões estratégicas da emissora.
Agora, com o programa órfão de sua principal estrela, resta saber se a Band apostará na reinvenção ou se repetirá a sua já conhecida fórmula de abandonar o que funciona para tentar reinventar a roda — mesmo sem tração.