Depois da morte de um morador em situação de rua na manhã desta quarta-feira (25), em uma das noites mais geladas do ano, a Prefeitura de Piracicaba anunciou a criação de uma força-tarefa para intensificar o atendimento à população vulnerável. A mobilização envolve diversas secretarias e já começa com um aumento de 40% na capacidade de acolhimento da rede de assistência social durante o frio.
A madrugada de terça-feira registrou temperatura de 0,1ºC negativo, segundo o posto meteorológico da Esalq/USP, o que agravou o risco de mortes por hipotermia. O caso registrado na Rua do Porto, envolvendo um homem com histórico de diabetes atendido pelo SUS, levantou uma série de questionamentos nas redes sociais sobre a atuação do poder público diante do frio extremo.
Centro Pop abrirá à noite com 20 vagas emergenciais
Uma das principais medidas emergenciais será a abertura excepcional do Centro Pop (Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua) para pernoite. O espaço, que até então funcionava apenas durante o dia, estará disponível das 19h às 7h, com 20 vagas emergenciais para acolher quem não tem onde dormir.
Além disso, a Casa de Passagem — que opera normalmente com capacidade para 90 pessoas — continuará ativa. Na última madrugada, abrigou 65 pessoas, mas com o frio se intensificando, há expectativa de ocupação total nos próximos dias.
Ações articuladas entre várias secretarias
Durante reunião no prédio da Secretaria de Assistência, Desenvolvimento Social e Família, foram definidos os eixos da força-tarefa. A operação envolve, além da Assistência Social, as secretarias de Saúde, Segurança Pública, Defesa Civil, o Fundo Social de Solidariedade e a Guarda Civil Municipal.
A secretária Fernanda Varandas destacou que o momento exige uma resposta articulada. “Precisamos intensificar as ações de forma organizada e em conjunto. É fundamental que todas as áreas estejam mobilizadas para evitar que novas tragédias aconteçam. Estamos trabalhando para garantir proteção e dignidade à população em situação de rua neste período crítico”, declarou.
Abordagens nas ruas e transporte até os abrigos
Outra medida anunciada é a ampliação das equipes do SEAS (Serviço Especializado de Abordagem Social), que passarão a contar com mais educadores sociais nas ruas. Esses profissionais são responsáveis por localizar, abordar e convencer as pessoas em situação de rua a aceitarem abrigo — algo que nem sempre ocorre. O transporte até os pontos de acolhimento também será facilitado pela operação.
Mobilização da sociedade e canais para denúncias
A Prefeitura reforçou ainda a importância da colaboração da população para identificar pessoas em situação de rua e acioná-las para acolhimento. Para isso, disponibilizou os canais de contato:
SEAS: (19) 99446-4389 ou (19) 99446-5654
Guarda Civil Municipal: 153
A força-tarefa segue em atuação pelo menos até o fim desta semana. Uma nova reunião de avaliação está prevista para quarta-feira (26), quando a Defesa Civil deverá apresentar projeções meteorológicas. A tendência, segundo o órgão, é de elevação gradual das temperaturas a partir de agora, sem novos episódios de temperatura negativa nas próximas duas semanas.
Caso anterior reacendeu debate sobre resistência aos abrigos
O caso da morte nesta quarta-feira causou grande comoção e reacendeu o debate sobre a eficácia da rede de acolhimento. A vítima havia sido abordada no dia 23 pela equipe da assistência social, mas recusou o acolhimento oferecido pela Casa de Passagem. A Prefeitura informou que, diante disso, cobertores foram entregues ao homem, que já tinha histórico de atendimentos pelo SUS.
Especialistas alertam que a resistência aos abrigos não é incomum e pode estar relacionada a traumas anteriores, medo de furtos, falta de confiança, ausência de espaço para animais ou doenças mentais não tratadas. A atuação dos educadores sociais é considerada essencial para estabelecer vínculos de confiança e promover o acolhimento voluntário.