A última grande greve no campus Taquaral da Unimep foi noticiada pelo PIRANOT. Nos arquivos destes 14 anos (que completaremos em novembro deste ano), encontramos um momento importante da cobertura do nosso portal. O fato mais marcante, e que foi fundamental para o fim da greve, ocorreu em 10 de agosto de 2017, quando um aluno se revoltou e exigiu ter aula, enfrentando uma estudante particular, membro de um Conselho Estudantil com alunos da universidade privada, que apoiavam a paralisação e impediam a continuidade das aulas.
Naquela época, a Unimep já havia vendido terrenos do entorno e vivia alguns poucos anos de estabilidade. Um dos lotes era a entrada pela Rodovia do Açúcar – Comendador Mário Dedini, no lado esquerdo, destinada a um projeto de shopping que não se concretizou.
Durante a cobertura do PIRANOT, nossas fontes eram inicialmente professores de diferentes cursos da Unimep. Isso mudou quando o Instituto Piracicabano de Ensino, controlador da universidade, decidiu se pronunciar oficialmente e respondeu ponto a ponto às reivindicações docentes, deixando claro que os professores rejeitavam a administração privada da instituição e as ordens empresariais da mantenedora. Isso ocorreu em 08/08/2017. A partir daí, perdemos os professores como fonte.
Dois dias depois, em 10 de agosto, o caso ganhou repercussão quando um aluno se revoltou e protestou, exigindo ter aula. No episódio, uma estudante ligada ao Conselho Estudantil — estrutura comum em universidades públicas, geralmente associada à UNE (União Nacional dos Estudantes) — impedia a entrada de professores e alunos nas salas. Ou seja, nem todos os docentes estavam em greve, mas estavam impedidos de lecionar. A confusão pode ser assistida no canal do PIRANOT no YouTube.
No dia 23 de agosto, após 15 dias, a greve chegou ao fim. Depois disso, a mantenedora tentou promover reformas e, em períodos de crise, demitiu professores de vários cursos que seriam descontinuados. No entanto, uma ordem judicial determinou que todos os docentes fossem recontratados, mesmo em cursos que já não existiam. Esse cenário, aliado a erros graves de gestão de décadas anteriores e a possíveis irregularidades em declarações fiscais relacionadas a serviços prestados em pro labore por alunos supervisionados em áreas como Direito e Psicologia, agravou ainda mais a situação financeira.
Funcionários da Unimep sempre acalentaram o sonho de transformar a instituição em universidade federal. Se o Governo Federal decidisse estatizar a Unimep, talvez fosse possível, mas o Brasil nunca estatizou uma instituição privada de ensino superior. Portanto, tudo isso não passou de um “delírio”, alimentado ao longo dos anos.
O PIRANOT, em sua cobertura, sempre procurou ouvir todos os lados: professores, alunos e a gestão da Unimep. Isso incomodou. Recebi, inclusive, um e-mail de um ex-professor meu — eu, Júnior Cardoso, que assino este relato — afirmando que eu era “uma vergonha” para ele.
Diante do que acompanhamos, era visível que, mesmo eu pagando por uma universidade privada, os donos da instituição não conseguiam reassumir o comando técnico-administrativo. Nunca fomos mais a fundo para entender onde exatamente esse controle se perdeu, mas ficou claro que havia uma rota de colisão entre a figura do “diretor-mentor” e a administração empresarial. E, juridicamente, é muito mais comum existir “mentor” em universidade pública do que em particular, o que gerava uma confusão primária. O reitor eleito por funcionários não dialogava com os donos privados, transformando a situação em uma verdadeira desordem.
Passados oito anos, chegamos à situação atual da Unimep.
No início da cobertura, diferente da imprensa tradicional da cidade e região, o PIRANOT deu voz a professores de diferentes áreas e cursos. Com o decorrer do movimento, porém, e por princípios jornalísticos que aprendi na própria Unimep, passamos a ouvir também a versão oficial do Instituto Piracicabano de Ensino, que tentava assumir uma administração privada mais coerente da universidade.
Greves em universidades federais são, até hoje, comuns. Na USP, no Estado de São Paulo, também foram frequentes, assim como na rede estadual de ensino. Nos últimos anos, entretanto, houve mudanças: professores antes concursados passaram a ser contratados por tempo determinado, o que reduziu a frequência das paralisações, principalmente em períodos de volta às aulas.
Em Piracicaba, em agosto de 2017, alunos da Unimep — que é uma instituição particular — se revoltaram. No final de julho daquele ano, estudantes reclamaram por chegar para assistir às aulas, inclusive alguns que estavam iniciando a graduação, e descobrirem que os professores estavam em greve sem terem sido avisados pela diretoria no momento da matrícula. Muitos se indignaram e decidiram protestar.
