A guerra pelo domínio do celular do brasileiro acaba de ganhar um novo capítulo. Em resposta ao avanço das chinesas Keeta e 99Food — que trazem em seu DNA o conceito de superapp —, o iFood anunciou oficialmente a criação de um banco digital próprio, com lançamento previsto para 2027. A estratégia busca replicar no Brasil um modelo já consolidado na China, onde plataformas como Meituan (controladora da Keeta) e WeChat permitem que usuários paguem contas, façam transferências e até solicitem empréstimos sem sair do aplicativo.
A decisão reforça a tese de que a briga no delivery é apenas o início de uma disputa muito maior: a da construção de ecossistemas digitais integrados, capazes de reter o usuário com múltiplos serviços em uma única plataforma.
O modelo chinês: muito mais que delivery
Na China, aplicativos como Meituan e WeChat funcionam como “canivetes suíços digitais”. Além de pedir comida ou chamar um táxi, é possível:
Pagar boletos e recargas;
Transferir dinheiro entre contatos;
Investir e contratar seguros;
Acessar serviços públicos e de saúde.
Esse ecossistema gera um ciclo vicioso de conveniência: quanto mais funções o app oferece, mais tempo o usuário passa nele — e mais dados a empresa coleta para refinar sua oferta.
A corrida começa: iFood acelera plans financeiros
Fontes próximas ao iFood confirmam que a ideia de um banco digital já era discutida internamente, mas foi acelerada pela chegada ao Brasil das concorrentes chinesas. A Keeta, por exemplo, pertence à Meituan, que possui uma divisão financeira robusta com mais de 600 milhões de usuários.
“O anúncio do iFood é uma jogada defensiva. Eles sabem que, no médio prazo, a Keeta e a 99Food vão integrar serviços financeiros aos seus apps. Quem chegar primeiro ganha a lealdade do consumidor”, analisa Thomas Lima, especialista em inovaçã bancária.
O que esperar do banco do iFood
Embora detalhes operacionais ainda sejam mantidos em sigilo, espera-se que o banco do iFood ofereça:
Conta digital com Pix e cartão virtual;
Programa de cashback para compras em restaurantes parceiros;
Empréstimos para entregadores e pequenos estabelecimentos;
Integração total com o app de delivery.
A aposta é que a base de 50 milhões de usuários ativos no Brasil seja a alavanca para a rápida adoção dos serviços financeiros.
E as chinesas?
Tanto a Keeta quanto a 99Food mantêm discrição sobre planos de expansão no setor financeiro no Brasil — mas a experiência das suas controladoras no exterior sugere que a integração é questão de tempo. Na Ásia, a Meituan oferece empréstimos a consumidores e comerciantes, enquanto a Didi (controladora da 99Food) possui uma plataforma de pagamentos e seguros.
O futuro: um superapp brasileiro?
A aposta do iFood sinaliza uma tendência irreversível: a consolidação de serviços em superapps à moda brasileira. A pergunta que fica é se o modelo — bem-sucedido na China — encontrará espaço em um mercado acostumado com apps especializados.
Enquanto isso, a guerra pelo seu celular segue a todo vapor. E, em breve, a tela inicial do brasileiro pode ser dominada por poucos — mas poderosos — ecossistemas digitais.






