Após perder mais de 87% do valor de mercado desde sua estreia na Bolsa, a Raízen S.A. (RAIZ4) — joint venture entre a Shell e a Cosan, do empresário piracicabano Rubens Ometto Silveira Mello — pode estar prestes a deixar a B3, a Bolsa de Valores brasileira.
Fontes ligadas ao setor financeiro afirmam que a companhia estuda um movimento de “fechamento de capital”, nos moldes do que fizeram outras grandes empresas, como Magazine Luiza e Mafézine, ao recomprar as próprias ações após forte desvalorização.
Atualmente, os papéis da Raízen são negociados a R$ 0,91, um valor considerado “chulo” e irreal frente ao tamanho da companhia, que fatura mais de R$ 54 bilhões anuais e atua em diversos setores, incluindo etanol, açúcar, biogás e distribuição de combustíveis.
A derrocada do valor de mercado
Em 2021, quando fez seu IPO, a Raízen era considerada a joia do agronegócio e da energia renovável brasileira, avaliada em mais de R$ 50 bilhões. Quatro anos depois, a empresa vale apenas R$ 1,24 bilhão, segundo dados da B3 — uma queda de quase 90% em cinco anos.
A desvalorização é resultado de um misto de fatores econômicos e de percepção de mercado: alta do endividamento, queda nas margens de lucro, incertezas sobre governança e uma estratégia de crescimento que não empolga investidores.
Mesmo o anúncio recente de que a Shell contratou o banco Lazard para estudar formas de capitalização e ampliação de participação na companhia não foi suficiente para conter a queda.
Por que sair da Bolsa virou opção
Para especialistas ouvidos pelo PIRANOT, o fechamento de capital da Raízen faz cada vez mais sentido financeiro e estratégico.
Com o preço atual, a recompra de ações seria barata e viável, permitindo que Cosan e Shell retomem controle integral sobre a empresa sem precisar investir valores expressivos.
“É um cenário perfeito para recompra. A ação está em preço de liquidação e o mercado perdeu o interesse no papel. Para uma empresa com grande liquidez e caixa sólido, como a Raízen, o fechamento de capital é uma alternativa racional”, explicou um analista da XP.
Essa tendência também tem sido vista em outras companhias brasileiras. Recentemente, Magazine Luiza (MGLU3) e Mafézine anunciaram recompras expressivas, com o objetivo de reduzir a volatilidade e reorganizar a estrutura de capital.
O que pode vir pela frente
Embora a Cosan e a Shell ainda não confirmem oficialmente a intenção de sair da Bolsa, há movimentações internas e de bastidores indicando que o tema já é pauta avançada entre as diretorias.
O momento também coincide com o replanejamento global da Shell para focar em negócios de maior rentabilidade, e com a tentativa da Cosan de reduzir sua exposição a riscos financeiros e melhorar liquidez em outras frentes, como a Compass e a Rumo Logística.
Fontes do setor afirmam que um comunicado ao mercado pode sair ainda neste trimestre, após o fechamento dos resultados financeiros.
Raízen e Piracicaba
Mesmo com a crise na Bolsa, a Raízen segue sendo uma das empresas mais emblemáticas de Piracicaba. O grupo mantém milhares de empregos diretos e indiretos na cidade e continua expandindo operações em biocombustíveis e energia limpa.
A queda das ações, portanto, não reflete a operação real da companhia, mas sim uma desconexão entre o valor patrimonial e a percepção de mercado.



