O governo português anunciou nesta terça-feira, 30 de janeiro, a suspensão, por um período de três meses, do novo Sistema de Entrada/Saída (EES) que havia substituído o tradicional carimbo em passaportes. A decisão vem em resposta a meses de intensas reclamações e cenários de verdadeiro caos no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, onde viajantes enfrentaram filas que se estenderam por até sete horas. A medida visa aliviar a pressão sobre os controles de fronteira e será acompanhada de um reforço significativo no número de agentes e equipamentos, buscando restaurar a ordem e a fluidez no principal portal aéreo do país. O EES, uma iniciativa europeia para modernizar a fiscalização de fronteiras, encontrou desafios práticos que impactaram diretamente a experiência de milhares de passageiros.
O Contexto da Crise de Imigração no Aeroporto de Lisboa
Longas Filas e o Impacto nos Viajantes
Desde sua implementação em outubro passado, o Aeroporto de Lisboa tem sido palco de cenas de grande frustração e desgaste para passageiros de diversas nacionalidades. O novo Sistema de Entrada/Saída (EES), projetado para otimizar os processos de controle de fronteira, gerou o efeito oposto em solo português, resultando em filas intermináveis que transformaram a chegada e partida na capital em um calvário para muitos. Relatos em redes sociais e depoimentos de viajantes descreveram situações dramáticas, com pessoas idosas e crianças privadas de acesso a serviços básicos como alimentação, água e instalações sanitárias por horas a fio. A infraestrutura existente e a capacidade de processamento dos agentes de fronteira mostraram-se insuficientes para lidar com o volume de passageiros sob o novo regime, provocando um congestionamento sem precedentes e abalando a reputação do aeroporto.
O EES foi adotado simultaneamente por 29 países europeus, incluindo grandes potências como França e Espanha, com a premissa de fortalecer a segurança e a eficiência nas fronteiras externas da União Europeia. Seu principal objetivo é identificar viajantes de fora do Espaço Schengen – um grupo que inclui cidadãos brasileiros, islandeses, liechtensteinenses, noruegueses e suíços – por meio de dados biométricos avançados, como imagem facial e impressões digitais. A ideia é substituir o método manual de carimbo por um registro eletrônico mais robusto e moderno. Contudo, em Lisboa, a transição revelou-se problemática. A falta de familiaridade com o novo sistema, a insuficiência de totens de autoatendimento e a complexidade inicial do processo para alguns passageiros contribuíram para a lentidão e o desespero crescente, culminando na intervenção governamental para mitigar a crise.
O Sistema de Entrada/Saída (EES) e Suas Implicações
A Promessa da Biometria versus a Realidade da Implementação
O Sistema de Entrada/Saída (EES) representa um marco significativo na evolução da gestão de fronteiras europeias, marcando o “fim de uma era” para o tradicional carimbo de passaporte. A iniciativa visa criar um registro eletrônico centralizado das entradas e saídas de cidadãos de países terceiros, ou seja, não pertencentes à União Europeia ou ao Espaço Schengen. Ao coletar dados biométricos, como impressões digitais e imagens faciais, o sistema busca aumentar a segurança interna, combater a imigração irregular, facilitar a identificação de viajantes que excedam o tempo de permanência permitido e otimizar o fluxo de passageiros no longo prazo. A tecnologia por trás do EES é robusta, concebida para oferecer maior precisão e rastreabilidade do que o método analógico anterior.
No entanto, a implementação prática do EES no Aeroporto de Lisboa expôs as complexidades e os desafios inerentes à transição tecnológica em infraestruturas de alto tráfego. Embora a intenção seja a de agilizar o processo e modernizar a fiscalização, a realidade mostrou uma defasagem entre a capacidade tecnológica do sistema e a preparação operacional para sua utilização. A necessidade de os viajantes registrarem seus dados biométricos pela primeira vez, a ocasional falha de equipamentos ou a necessidade de assistência humana prolongaram significativamente os tempos de processamento, gerando gargalos insustentáveis. A suspensão de três meses do sistema por parte do governo português reflete a urgência de uma reavaliação. Durante este período, espera-se que as autoridades reforcem não apenas o contingente de agentes, mas também a formação dos mesmos e a capacidade técnica dos equipamentos, talvez regressando a um modelo híbrido ou mais tradicional para as categorias de viajantes mais afetadas, enquanto se preparam para uma reintrodução mais suave e eficiente.
Perspectivas Futuras e Desafios para a Gestão de Fronteiras
A suspensão do Sistema de Entrada/Saída no Aeroporto de Lisboa sublinha os complexos desafios que as nações enfrentam ao modernizar seus sistemas de controle de fronteiras, equilibrando segurança, eficiência e a experiência do viajante. O episódio serve como um estudo de caso crítico sobre a importância da preparação meticulosa, da testagem exaustiva e da adaptação contínua em projetos de grande escala que impactam milhões de pessoas. Para Portugal, um país cuja economia depende fortemente do turismo, a fluidez e a imagem de seus portões de entrada são cruciais. A crise no aeroporto não apenas causou transtornos imediatos, mas também levantou questões sobre a capacidade de adaptação e a infraestrutura tecnológica do país para lidar com as inovações europeias.
Nos próximos três meses, a expectativa é que as autoridades portuguesas utilizem esse tempo para recalibrar estratégias. Isso inclui a análise detalhada dos pontos de falha, a atualização de software, o reforço e treinamento intensivo dos recursos humanos, e possivelmente a expansão do número de estações de processamento biométrico. O objetivo final é reintegrar o EES de forma que ele cumpra sua promessa de eficiência e segurança, sem comprometer a conveniência dos passageiros. Este incidente destaca a necessidade de uma abordagem mais integrada e holística na gestão de fronteiras, onde a tecnologia deve ser um facilitador, e não um obstáculo. A longo prazo, a digitalização dos controles é inevitável, mas o sucesso reside na capacidade de implementar essas mudanças de forma transparente, com a infraestrutura e o capital humano adequados para gerir a transição sem causar interrupções massivas e prolongadas.
Fonte: https://g1.globo.com






