Nesta sexta-feira (26), a Câmara de Vereadores de Piracicaba terá uma mudança histórica e tensa em sua composição. Por determinação do Tribunal de Justiça de São Paulo, Fabrício Polezi (PL) assume a cadeira deixada vaga pela suspensão do mandato de Cássio Fala Pira (PL).
Cássio, que foi o segundo vereador mais votado da cidade nas eleições de 2024, encontra-se atualmente detido na Penitenciária de Tremembé. Sua prisão, antes temporária, foi convertida em preventiva (sem prazo para terminar), e o parlamentar caminha para enfrentar o tribunal sob graves acusações de crimes sexuais.
A posse de Polezi, no entanto, expõe um “abismo” na representatividade dos votos e traz à tona uma tese jurídica que pode custar o mandato do próprio suplente no futuro.
O abismo dos votos e a “sorte” de 2 votos
A troca de cadeiras chama a atenção pela disparidade nas urnas. Cássio Fala Pira foi um fenômeno eleitoral, garantindo sua reeleição com expressivos 4.676 votos. Essa votação maciça foi fundamental para puxar votos para a legenda do Partido Liberal (PL), ajudando a garantir o número de cadeiras que o partido ocupa hoje.
Já Fabrício Polezi assume a vaga com 1.717 votos. Sua posição como primeiro suplente foi conquistada por um detalhe matemático impressionante: ele teve apenas dois votos a mais que o vereador eleito Josef Borges (PP), que obteve 1.715 votos. Polezi entra, portanto, na “repescagem” interna do partido, ocupando o espaço deixado pelo puxador de votos da legenda.
O perigo real: Por que a cadeira do PL está ameaçada?
Embora a posse de sexta-feira seja um fato consumado, o mandato de Polezi nasce sob forte instabilidade jurídica. O PIRANOT apurou que o risco não está apenas na condenação criminal de Cássio, mas na natureza dos crimes investigados.
A Polícia Civil e o Ministério Público investigam se os abusos e a distribuição de cestas básicas, supostamente praticados por Cássio, ocorreram antes da re-eleição e foram utilizados como moeda de troca, ou publicidade, para angariar votos. Se isso for comprovado, o caso deixa de ser apenas um crime comum e vira Crime Eleitoral (Abuso de Poder Econômico).
Nesse cenário, a Justiça Eleitoral não apenas cassaria o mandato de Cássio, mas determinaria a anulação dos seus 4.676 votos.
O Efeito Dominó
Se os votos de Cássio forem anulados, o impacto é matemático e imediato:
1. O Partido Liberal (PL) perde 4.676 votos na contagem total da legenda.
2. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) é obrigado a fazer uma retotalização (recontagem) do Quociente Eleitoral de 2024.
3. Sem esses quase 5 mil votos, o PL muito provavelmente não atingiria a nota de corte para manter todas as suas cadeiras.
4. A vaga, que hoje passa para Polezi, deixaria de existir para o PL e seria transferida para outro partido (pelo cálculo das sobras).
Ou seja: Polezi assume agora porque a vaga pertence ao partido. Mas, se ficar provado que a vaga foi conquistada de forma fraudulenta (compra de votos/abuso), a cadeira muda de dono, e o suplente perde o mandato, independente de seu desempenho na Câmara.
O que acontece agora?
Por enquanto, Fabrício Polezi é o vereador de direito e de fato. Ele terá gabinete, verba e poder de voto a partir de sexta-feira. Enquanto isso, a defesa de Cássio tenta reverter a prisão em instâncias superiores, mas a transferência para o complexo de Tremembé sinaliza que a Justiça trata o caso com rigor máximo, dificultando um retorno do titular a curto prazo.






