Em meio às celebrações natalinas, a tarde de quinta-feira em São Paulo foi marcada por um gesto de solidariedade que contrastou com as ceias tradicionais. Centenas de pessoas em situação de rua participaram de um almoço especial de Natal na Casa de Oração do Povo de Rua, no centro da capital. A ação contou com a presença do padre Júlio Lancelotti, referência na defesa dos direitos e da dignidade da população mais vulnerável.
Conhecido por sua atuação junto aos sem-teto, Lancelotti se uniu a voluntários para oferecer mais do que uma refeição: promoveu um momento de acolhimento, escuta e convivência. A casa cheia simbolizou, ao mesmo tempo, a força da solidariedade e a dimensão da desigualdade social na cidade. Segundo o Observatório da População de Rua, São Paulo tem hoje cerca de 80 mil pessoas vivendo nas ruas, número recorde que evidencia a gravidade da crise social.
Ao chegar ao local, o padre destacou o agravamento do cenário. “O número da população de rua aumenta a cada dia, e isso reflete a desigualdade e a polarização que vivemos”, afirmou. Após um momento de oração, o almoço foi servido de forma organizada, com prioridade para crianças e mulheres. Mesmo em um contexto de vulnerabilidade, o clima foi de respeito e de convivência familiar.
A estrutura do evento foi garantida pelo trabalho contínuo dos voluntários. Coordenadora da Casa de Oração, Ana Maria da Silva Alexandre dedica há 26 anos sua vida ao atendimento da população de rua. Desde cedo, equipes prepararam o café da manhã, o almoço e organizaram doações de roupas, kits de higiene, brinquedos e alimentos. “Aqui não é só comer. É sentar à mesa, conversar, reencontrar pessoas e ter esperança”, afirmou.
Entre os participantes, histórias de luta e resistência se misturavam. Pessoas que enfrentam o desemprego, o vício, o preconceito e a falta de moradia encontraram, ao menos por algumas horas, um espaço de pertencimento. Para muitos, aquele foi o único almoço de Natal em um ambiente seguro e acolhedor.
O encontro expôs os contrastes da maior cidade do país: enquanto parte da população celebra em família, outra luta diariamente pela sobrevivência. Mais do que um evento pontual, o almoço reforçou a importância de iniciativas solidárias diante das falhas estruturais do poder público. Ao final, a mensagem de padre Júlio resumiu o espírito da ação: “O Natal é acolher quem ninguém acolhe e olhar para quem ninguém olha”.






