Antonio Carlos Danelon: “Consumir drogas pode, vender não?”





Por que comercializar drogas é crime e consumir não? Será pelo fato de que sendo da classe rica a maioria dos consumidores, precisa de fornecedores anônimos que os sirvam por conta e risco? Vejam isso: “O perfil majoritário do condenado por tráfico é esse: pobre, primário, preso com pouca droga. É o elo mais fraco na cadeia da produção e venda”. (Vitore Maximiano, defensor público de SP e ex-secretário Nacional de Políticas Sobre Drogas. Folha 15.01.17). Pensou no constrangimento de políticos, graduados e bem situados no meio social vendo na imprensa fotos de filhos ou netos flagrados com drogas ou em festinhas de embalo? Como quem faz as leis e as aplica são da classe de cima, talvez para livrar a cara dos seus classificaram uso como doença e trafico como crime.  Ora, se comprar produto roubado é crime, por que material proibido não?  Punir quem vende pode ser uma forma velada de vingança por terem ‘corrompido’ seus boyzinhos.





A proporção de presos por tráfico de drogas dobrou de 2005 a 14, o que fez com que o crime se tornasse a principal razão de encarceramentos no país. Com isso, prende-se mais por tráfico do que por crimes contra a vida ou por crimes sexuais, considerados muito mais graves. (Folha 22.01.17). A guerra contra as drogas tem se mostrado mais danosa, custosa e letal que o comércio e uso de drogas em si. (…) se portar drogas não é crime, como pode ser crime sua comercialização? Se desconsiderarmos o caso da maconha cultivada para o consumo próprio, como a substância foi parar no bolso de alguém? (Fernanda Mena Folha 27.01.17).

Exceto em casos de transtornos e doenças, o que leva uma pessoa a usar drogas, mesmo lícitas? Pelo que tenho observado, pessoas usam drogas para amenizar seu desconforto interior. Funcionam como uma espécie de oásis. Vejam isso: ”Quando eu compro esse tipo de remédio [Rivotril], tenho a impressão que estou comprando sensação de paz, alívio. Eu preciso usar esse medicamento para ter uma boa noite de sono”. (Ana. Gazeta 21.01.12). Não sei como alguém chega à dependência. Sei que família tem muito a ver. Existem pais que jamais deveriam ter sido porque não sabem sequer cuidar de si, são imaturos e não servem como referência. Existe tristeza maior que família em cacos? Muitos filhos conseguem dar a volta por cima, porém alguns não, principalmente os mais sensíveis, que começam usando drogas porque os pais não estão onde deveriam estar. Querem mostrar do que são capazes, numa tentativa de chamar a atenção para sua dor. Dada a fragilidade de sua personalidade acabam tragados. Esses são doentes. E não há clínica, remédio ou profissional que por si só os cure sem que queiram e contem com ajuda dos pais em primeiro lugar, já que de suas vidas sabem desde antes da concepção. Mas, não é comum disposição e coragem para sangrar o peito. Vejam isso: “Foram cinco vezes [internações]. A única que deu certo foi a última, quando fui por conta própria. Livrei-me [do crack] só quando fiquei num lugar que me mostrou que, antes do vício, eu tinha conflitos internos, familiares. Tratei disso e parei com o crack”. (Adriano Camargo, educador, 36 anos. Folha 22.01.13).  Drogas têm a ver com o sofrimento humano, porém virou macabro comércio. Penso que sua comercialização deveria ser descriminalizada e regulamentada pelo Estado, cuja atuação repressiva só vem fazendo aumentar a violência.

Quanto aos boyzinhos, eles têm condições econômicas para dar a volta por cima, buscar tratamentos especializados e estudar e se formar em escolas de qualidade; ter boas profissões e fazer o bem a muita gente. Mas, de tão mimados que foram não têm fibra para isso. Procuram refúgio no mundo das drogas como a se vingar do próprio fracasso. Deveriam ao menos ter ciência do grande estrago que sua burrice vem causando a si próprios e ao país.

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ANTONIO CARLOS DANELON é assistente social e morador de Piracicaba.

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