André Gustavo Bandeira é piracicabano nato, nascido em 06 de janeiro de 1975. É formado em Administração de Empresas pela Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba) e pós-graduado em marketing pela mesma alma mater. Filho de Luiz Antônio Bandeira e Elza Maria Chil Bandeira, André Bandeira é casado, não tem filhos e atualmente exerce o cargo de vereador em seu quarto mandato pela Câmara de Vereadores de Piracicaba.
Nesta entrevista concedida ao jornalista Rafael Fioravanti, do Jornal PIRANOT, André Bandeira fala sobre uma de suas maiores lutas: acessibilidade e inclusão. Fala também sobre a questão da saúde no município, comenta um dos maiores pontos falhos da Prefeitura, tece elogios à administração do atual prefeito Barjas Negri, e, com muito carisma, explica como um de seus mais importantes projetos para o município ainda não foi para frente, apesar de já ter sido aprovado.
O senhor é formado em administração de empresas e pós-graduado em marketing, então por que decidiu se tornar vereador?
Eu entrei na faculdade em 1995, mas sofri um acidente em 1996. E quando sofri esse acidente, tive que cancelar a faculdade porque não tinha condições físicas de continuar o curso na época. Tentei retomar em 1997, mas não consegui. Só consegui retomar em 2000, que foi quando concluí o curso. Logo em seguida, fiz uma pós-graduação em marketing e já concluí como pessoa com deficiência (cadeirante). E nessa época, quando nasceu a ideia de eu me candidatar a vereador na Câmara de Vereadores de Piracicaba, o intuito era buscar representar a população com deficiência. Pode até parecer que não, mas, infelizmente, o público com deficiência é grande. Meu objetivo sempre foi dar mais voz a essas pessoas. A OMS (Organização Mundial da Saúde) estipula que, hoje, cerca de 10% da população possui deficiência; já o último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) deu quase 23% da população. A gente contesta um pouco esse número do IBGE, porque acreditamos que ele seja um pouco menor, visto que houve algumas perguntas ali que foram feitas de forma genérica durante o levantamento. Mas também nós não achamos que esse número seja oito, oitenta (nem a estimativa do IBGE nem a da OMS). O número de pessoas com deficiência deve estar por volta de 15% da população, o que, ainda assim, é alto. É muita gente para deixar de lado e essas pessoas precisam participar da nossa sociedade em todos os sentidos. Elas precisam ter acesso a trabalho, à saúde, a transporte, à cultura. O principal objetivo lá atrás foi justamente esse.
O vereador sempre teve a função de trabalhar próximo ao povo. Quais são as principais reivindicações dos munícipes que o visitam em seu gabinete?
A partir do momento que fui eleito, cheguei à conclusão que eu não posso ser um vereador apenas para um segmento. Apesar de eu ter uma bandeira de trabalho que é muito mais voltada à questão da acessibilidade e inclusão, tenho que atender a todos os segmentos. Quem me procura, independente do assunto, procuro atender e dar o encaminhamento devido, seja na saúde, seja uma dificuldade de bairro ou demanda do município. Procuro atender todos da melhor forma possível e sempre dar uma resposta, seja pelo “sim” ou pelo “não”. Eu reforço aqui que o meu gabinete não tem um perfil de trabalho assistencialista, até porque muitas pessoas ainda procuram vereador para pedir favores — por exemplo, tijolo ou cimento para construir sua casa, etc. Aqui nós não fazemos esse tipo de política de doação. O vereador não tem como doar coisas, mas cabe ao vereador utilizar os mecanismos do sistema para fornecer a essas pessoas o que elas precisam. Mesmo que a gente não consiga, vamos procurar outros caminhos, como a Promotoria Pública, etc.
Atualmente, já em seu quarto mandato, qual projeto de sua autoria o senhor julga mais importante à sociedade piracicabana?
Olha, eu confesso que há vários projetos que aprovamos ao longo desse período, porém uma coisa que me frustra um pouco é que um dos projetos mais importantes que aprovamos ainda não foi colocado em prática — apesar de já ser lei aqui em Piracicaba. É a questão do cadastramento municipal das pessoas com deficiência. É uma legislação antiga, que fiz ainda em meu primeiro mandato, e trata-se de uma coisa importante pois não há como discutirmos políticas públicas sem que tenhamos um número real de pessoas com deficiência na cidade. Para que desenvolvamos políticas públicas eficazes para cada tipo de deficiência, temos que levar em conta que cada deficiência há suas especificidades e necessidades. O cego há uma necessidade diferente da necessidade do deficiente auditivo, diferente da do cadeirante e diferente da do deficiente intelectual. O objetivo dessa lei, ainda lá atrás, era que mapeássemos a cidade e que, assim, tivéssemos um número total dessas pessoas, que soubéssemos onde essas pessoas estão localizadas geograficamente, que soubéssemos qual o tipo de deficiência que predomina na cidade, etc. Ainda temos aqui pelo município várias escolas antigas que não contam com acessibilidade. Se essas escolas precisam passar por uma reforma, precisamos priorizar as escolas que contam com o maior número de alunos com deficiência para que a atendamos primeiro.
E por que não foi para frente?
Neste ano, conseguimos afinar o discurso com o Executivo e, a princípio, quando aprovamos uma licitação, não sou eu quem determino quais secretarias ficarão incumbidas de pôr em prática determina coisa. Quem define as secretarias é o Executivo. E na época, o Executivo colocou a Semdes (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social) como responsável. Eles alegam, desde aquela época, a falta de recursos para desenvolver isso. Para que a gente consiga operacionar essa lei e colocá-la em prática, chegamos a um acordo com a Secretaria da Saúde para que ela fizesse esse mapeamento. Ela não precisará nem sair a campo para fazer esse levantamento, até porque já temos toda a população do município cadastrada na rede SUS. Já montamos todo o gabarito de questionário, todo o formato e muitas informações já estão no sistema. Mas para que a gente consiga planificar tudo, teremos que entrevistar todos através das unidades de saúde.
Tem data para isso?
A Secretaria da Saúde está passando por um momento de transição da empresa que gere o banco de dados dela. A hora que a empresa nova entrar, esse sistema já entrará em prática. Muito provavelmente isso acontecerá no começo de 2019. Aí já teremos números reais.
A questão da saúde é uma das principais preocupações dos leitores do PIRANOT. Eu quero que o senhor faça um relato muito breve do seu trabalho em prol da saúde aqui na cidade.
Uma coisa que acontece muito: as pessoas nos procurarem, pois não sabem como proceder em determinados casos. Nesta semana, por exemplo, uma pessoa me procurou e ela, tal como eu, também perdeu os movimentos do corpo. Eu vivi isso há 22 anos e sei como é. A pessoa e toda a família perde o chão. Daí essa pessoa sai do hospital sem nenhum encaminhamento/informação do que fazer daí para frente. Sempre que eu fico sabendo desses casos, procuro visitar a pessoa e dar a ela muita informação do que tem que ser feito. Outro caso muito comum: a pessoa me procura aqui e fala: “olha, estou aguardando um exame já faz sete meses.” Isso não pode acontecer de jeito nenhum. Então sempre peço os dados dessa pessoa e entro em contato com a Saúde, só assim eu posso saber se os dados da pessoa realmente bate com os dados da Secretaria da Saúde. Na maioria das vezes, a pessoa tem um encaminhamento, só que ele não consta no sistema (por isso é comum que a situação vá se postergando). Mas é como eu também já falei, todo trabalho que fazemos aqui é sem assistencialismo nenhum, sem passar um na frente do outro, nada disso. Aqui apenas tentamos fazer o sistema funcionar.
Como vereador, e acima de tudo, como um piracicabano, o que o senhor acha que tem que ser urgentemente melhorado aqui em Piracicaba?
Desde 2014, a gente vive um período de crise no país, onde perdemos arrecadação e isso dificultou muita coisa. E o orçamento do município, voltado a investimentos, também está cada vez mais apertado. Porém, vejo que o sistema de funcionamento da Prefeitura tem que ser continuamente aprimorado. Piracicaba ainda é uma cidade que está com o pagamento do funcionalismo em dia, está com a saúde funcionando (ao contrário de várias outras cidades em nossa própria região, onde Unidades de Pronto Atendimento e pronto-socorros fecham as portas), porém uma das maiores dificuldades é a falta de comunicação entre as secretarias da Prefeitura. Por exemplo, a Secretaria da Saúde ter em seu sistema o prontuário eletrônico de um paciente é uma coisa fundamental. Quando a pessoa é frequentemente atendida pela UPA Piracicamirim, é normal que ela tenha cadastro nessa UPA especificamente. Mas vamos supôr que um dia essa pessoa esteja próxima à UPA Vila Cristina, passe mal e precise ser socorrida. A UPA Vila Cristina tem que ter acesso ao cadastro dessa pessoa, até mesmo para que o médico possa ter mais informações sobre ela. Isso é fundamental e tem que ser resolvido. A mesma coisa ocorre na Secretaria de Obras (Semob). Não é concebível que uma pessoa queira dar entrada em uma obra e tenha que procurar várias outras secretarias, onde cada processo corre a parte um do outro. As secretarias precisam ser interligadas para que elas possam se comunicar, isso acabaria até agilizando os trâmites dentro da própria Prefeitura. Isso, num primeiro momento, é óbvio que exige investimento, mas com o passar do tempo acabará diminuindo os custos da própria máquina.
Se o senhor tivesse que dar uma nota ao atual governo Barjas Negri, que nota seria essa e por quê?
Seria uma nota 7 ou 7,5. Eu posso até ser do mesmo partido do Barjas e ter sido eleito com ele em sua primeira eleição, mas sou um grande admirador do Barjas desde antes de ele assumir como prefeito. Uma das primeiras cobranças que fiz a ele era que transformássemos o Engenho Central em um local acessível para todos, principalmente a um cadeirante, a um idoso e a uma mãe com carrinho de bebê. A resposta que ele me deu foi a seguinte: “André, primeiro deixa eu assumir o cargo, depois eu vejo o que faremos”. Aí pouco tempo depois ele realmente avaliou o caso e me retornou. Ele disse: “André, infelizmente não temos condições de fazer isso, temos outras prioridades agora no município, porém essa ideia ficará aqui na minha alça de mira”. E as coisas foram, graças a Deus, acontecendo. Naquela época, o Engenho nem era oficialmente de Piracicaba. O prefeito anterior havia desapropriado o local e o Engenho ainda não estava pago aos antigos proprietários. O Barjas quitou essa dívida e, hoje, o Engenho pertence ao município. Posteriormente, a Prefeitura viu que a ideia de tornar o Engenho acessível para todos era realmente uma necessidade, colocou essa ideia em prática e, hoje, vemos milhares de pessoas usufruindo daquele local, inclusive cadeirante, idosos e mães com carrinho de bebê.
Então o senhor faz uma avaliação positiva do vigente governo?
Sim, pela forma como ele administra o município. Existem falhas? Com certeza, até porque o Barjas é uma pessoa administrando uma cidade de 400 mil habitantes. Ele tem seus secretários para ajudá-lo (cada um em sua área de atuação), tem uma Câmara de Vereadores para cobrar e auxiliar em inúmeras situações, mas, colocando tudo isso numa balança, eu acredito que pese muito mais o lado bom da administração. Eu avalio o Barjas como um grande gestor de Piracicaba, independente de partido. E o motivo para essa minha avaliação é que ele é um cara que realmente tem o pé no chão. Se pegarmos o orçamento público do município, veremos que, hoje, nosso endividamento é praticamente zero. O Barjas não faz as coisas impulsivamente, pegando recursos de todos os lados e endividando o município para que, futuramente, a bomba caia no colo do próximo prefeito. Eu vejo que há uma gestão responsável. Repito: existem falhas? Sim, existem; porém nossa obrigação, seja como vereador ou como povo, é cobrar o Executivo para que as falhas sejam sanadas e para que a administração ocorra da melhor forma possível em prol do munícipe.