Lair Braga: “Todos os dias olho pela minha janela, vejo esta cidade e me sinto responsável por ela”





Lair Braga nasceu em 16 de julho de 1954 e trabalha desde cedo como radialista. Nascido no interior de São Paulo, Lair Braga chegou a Piracicaba no ano de 1980, onde deu continuidade ao seu trabalho na rádio. Após mais de 30 anos em Piracicaba, sempre trabalhando próximo ao povo, Lair decidiu entrar na vida política do município, candidatando-se ao cargo de vereador. Foi eleito, e, atualmente, encontra-se em seu primeiro mandato. Nesta entrevista concedida ao jornalista Rafael Fioravanti, do Jornal PIRANOT, Lair Braga fala sobre o seu começo de carreira, sobre o seu envolvimento com política, sobre suas dificuldades na Câmara, tece críticas aos demais vereadores, e fala principalmente sobre os constantes problemas de água de Piracicaba e a não instauração da CPI do Semae. Entrevista esclarecedora para ninguém botar defeito.

Foto: Wagner Romano / Jornal PIRANOT

Antes de tudo, gostaria que o senhor fizesse uma breve retrospectiva de sua carreira na rádio.
Eu cheguei a Piracicaba em agosto de 1980, direto da Jovem Pan de São Paulo para cá, e estou aqui até hoje. Na década de 90, me transferi para a Educadora (hoje atual Jovem Pan) e fiquei lá por volta de um ano. Depois retornei à Difusora, onde estou até hoje. Hoje faço dois programas: o Sertanejo Nota Dez das 04h às 09h, e volto à tarde, das 17h às 21h com o Rodeio Difusora, ambos sertanejos. Estou aí na Difusora desde 1980, praticamente mais da metade da minha vida. Acabei conquistando Piracicaba pelo trabalho e pela seriedade. No meu meio, há uma coisa chamada credibilidade, e eu tenho usado o que Deus me deu para o lado do bem. Procuro estar sempre falando coisas boas, coisas que interessem à cidade. Procuro trabalhar ao lado da comunidade e ao lado da população.

Se o senhor tivesse que citar uma pessoa que o influenciou não só profissionalmente, mas como pessoa, quem seria?
Meu pai. Junto com ele comecei a trabalhar aos sete anos de idade. E o engraçado é que ele nunca fez com que eu trabalhasse. Ele gostava de me levar à roça, onde eu ficava brincando debaixo do pé de café. Aos poucos, comecei a limpar os pés de café e ali peguei gosto pelo trabalho. Comecei a trabalhar aos sete anos de idade e nunca mais parei. Cresci vendo meu pai trabalhar. E meu pai nunca pediu para que eu trabalhasse, ele simplesmente me deu a coisa que atualmente mais falta na realação pai-filho: exemplo. Morei um bom tempo na roça, depois nos mudamos para a cidade, onde acabei me tornando engraxate. De engraxate entrei para o comércio. E aí entra o ponto curioso da história: quando eu tinha 17 anos, trabalhava numa loja de calçados. E como na época não existia cartão nem crediário, as pessoas compravam as coisas, marcavam numa caderneta e depois íamos receber. E o gerente da Rádio Difusora de Olímpia (SP), cidade em que vivi, era meio complicado para pagar. Então praticamente todas as semanas eu estava lá para cobrar. Num belo dia, ele virou para mim e disse que eu nunca mais precisava cobra-lo, pois ele estava me dando um emprego na rádio. O Zeca Pagodinho costuma dizer que não nasceu para ser cantor, e eu também posso dizer que nunca nasci para ser apresentador de rádio. Eu não queria mesmo. Aí ele foi me convencendo, e aos poucos eu acabei cedendo. Aí me tornei um radialista. E para alçar vôos maiores, precisei me mudar para São Paulo. Passei pelos melhores prefixos dentro de SP, e aí, como eu já tinha dois filhos, precisei vir para o interior. Minha mulher também não se adaptava à cidade. Me mudei para Piracicaba e isso foi a melhor coisa que fiz. Tudo está aqui, tudo que consegui está aqui e sou muito grato a tudo que consegui nesta cidade.





E por que o senhor decidiu se envolver com política?
Quando morei em Santos (onde conheci minha esposa), fui trabalhar na Rádio Cultura da Família Mansur. O Beto Mansur, que chegou até a ser deputado federal e vice-líder do Governo Temer, pertencia inclusive a essa família. E em meados de 1974 ou 75, durante o Governo Militar, me envolvi no Sindicato dos Estivadores por uma causa que eu achava justa. O sindicato era muito forte e estava reivindicando alguns direitos, como direito político, direito de democracia, e também direito pela existência do sindicato (até porque a Ditadura não permitia sindicatos). Foi aí que veio minha veia política.

Como vereador, qual é a maior dificuldade que o senhor sente na Câmara?
A maior dificuldade que a gente sente na Câmara é a diferença de ideias. Isso é complicado, porém é uma dificuldade interna. Já como vereador, a maior dificuldade que sinto é a de não poder fazer tudo aquilo que eu queria que fosse feito. O poder do vereador é muito limitado na execução das obras. Eu gostaria, por exemplo, que a praça José Bonifácio fosse refeita, porém quem tem a caneta não sou eu, é o prefeito. Eu gostaria também que as ruas de Piracicaba fossem menos esburacadas. Então, às vezes me sinto impotente de não poder realizar determinadas coisas. O eleitor espera que o vereador resolva alguns tipos de situações.

A população piracicabana te procura bastante em seu gabinete?
Sim, tanto no gabinete quanto na rádio.

E quais são as principais reivindicações do povo?
Hoje o grande problema do povo é falta de água ou conta de água desproporcional; problemas com poda de árvores, pois a calçada já está quase estourando; problemas com horários de ônibus; pedem mais lombadas em ruas; etc. No caso das lombadas, a grande exigência delas é a falta de educação no trânsito. Em muitas vezes, nós, vereadores, ficamos com as mãos atadas porque dependemos do Poder Público. E normalmente dependemos dele. O Poder Público não entende a independência que o vereador tem que ter, até porque o vereador não pode estar atrelado ao Poder Público. O vereador tem que fazer seu papel, fiscalizar, agir, ser um visionário e propor projetos que sejam de interesse social e não de interesse próprio.

Foto: Wagner Romano / Jornal PIRANOT

Se o senhor pudesse dar uma nota ao atual governo Barjas, que nota seria e por quê?
Eu daria nota 6, porque o Barjas fez uma administração espetacular. Ele revolucionou a cidade. Quando o Barjas é criticado por fazer muitas pontes, entenda uma coisa: imagine se duas pontes forem fechadas às 18 horas. Piracicaba vira um caos. Se você sair, por exemplo, de Santa Terezinha, entrar na ponte da Klabin, acessar a Rua Cristovão Colombo, sair pelo Bongue, pegar a Jaime Pereira, depois a Nove de Julho, a Doutor Paulo de Moraes e entra onde antes existia os trilhos da Fepasa, você vai sair lá na Avenida Rio das Pedras. Isso tudo o Barjas fez. O problema é que a época hoje é adversa. Há dificuldade econômica. Talvez a falta de recursos o impeçam de fazer uma boa gestão, porém notamos que nesta atual administração do Barjas Negri, a falta de recursos deixa a cidade um pouco parada. Você não nota aquele desenvolvimento, aquele boom como antes foi. A nota é 6 não pela administração, mas pelos problemas que o município está vivendo hoje. Como administrador, a capacidade do Barjas Negri é indiscutível.

Um problema que muito tem causado barulho aqui em Piracicaba é a falta de água em todo o município. A não instauração da CPI do Semae enfureceu demais os piracicabanos: 12 vereadores votaram contra a CPI e apenas dez se posicionaram a favor. O senhor foi um dos dez vereadores a favor. Como vereador, como o senhor enxerga essa questão?
Eu adoro ir a um evento e ser revistado, porque quando passamos por revista, você tem certeza de que todos que estão ao seu redor passaram pelo mesmo processo e você está seguro. Então por que temer a CPI do Semae? Se está tudo bem com o Semae, abra-se uma CPI e deixe-a ser instaurada. Qual o problema? Há pessoas que dizem que nunca viu uma CPI dar certo. Bom, talvez a CPI que essa pessoa viu tenha sido instaurada por incompetentes que não chegaram ao porquê do CPI. Quando se pede a instauração de uma CPI, existe pessoas a fim de apenas desestabilizar uma administração. Porém, ao meu entender, mesmo sendo um movimento político ou não, é algo a que devemos acatar, visto que demonstra um lado de insatisfação. Com todo o respeito que eu tenho a todos os 22 demais vereadores que estão lá na Câmara comigo, mas ninguém é cobrado em relação a eles mais do que eu — como eu estou no ar todos os dias, as pessoas me ligam e não tem como eu deixar de atender porque elas sabem que eu estou ao vivo. A cidade está cheia de problemas, então quando somos favoráveis a uma CPI, estamos dando à população o direito de elas saberem o que aconteceu. Instaurar uma CPI não significa que estamos desconfiando de uma administração, significa que você está exercendo o seu papel. As pessoas têm que ter acesso às informações, elas estão insatisfeitas. Para mim, democracia é isso. Votei a favor da CPI por entender que é um clamor popular.

Como vereador, qual projeto de sua autoria o senhor julga mais benéfico à sociedade piracicabana?
Para mim, é difícil dizer apenas um projeto benéfico. Prefiro dizer um conjunto. Eu lutei muito pela creche com horário estendido, pois há mães que trabalham como domésticas e comerciárias. Quando chegava 16h30, elas ficavam ansiosas pois não sabiam quem pegaria o filho delas na creche. Por isso, entendi que devia mesmo haver um horário estendido. Hoje temos a creche São Vicente de Paula que funciona assim. Elas deixam o filho lá e tem até às 18h30 para buscá-lo. Lutamos muito por isso e conseguimos. Outro ponto é a reforma da praça José Bonifácio e área central, que merece uma revitalização.

E já houve algum parecer favorável em relação à praça José Bonifácio?
Sim, sim. Embora tenhamos apresentado uma emenda pedindo a inserção de R$ 950 mil reais para a reforma da praça, essa emenda foi derrubada pelos próprios vereadores. Eu não quero citar nomes porque vou me esquecer de alguns. Parece que sete vereadores foram favoráveis, e a maioria a derrubou. Vereadores devidamente articulados para que a emenda não fosse aprovada. Apesar disso, foram inseridos R$ 450 mil reais para o orçamento já vigente e a contrapartida inicial será em torno de R$ 150 mil reais. Pouquíssimo! Você jamais reforma uma praça com R$ 150 mil reais. Porém, é o pontapé inicial.

Para finalizar, qual sua mensagem final a todos os leitores do PIRANOT?
A população precisa saber que ainda há políticos preocupados com sua cidade/comunidade. Eu sou um deles. Eu repito: cheguei aqui em 1980 e essa cidade me deu muitas coisas boas, tudo isso com muito trabalho e suor. Eu trabalho 14 horas por dia. Um apresentador que hoje está há mais de 30 anos no ar deve isso à credibilidade. Ninguém conquista da noite para o dia um cargo de vereador sem ter algum papel para mostrar à sociedade. E eu tenho feito esse papel. Todos os dias eu olho pela minha janela, vejo esta cidade e me sinto responsável por ela. Eu fico pensando no que posso fazer para melhorar a vida das pessoas que estão aqui. Quando pensamos apenas em nós, somos mesquinhos. O homem só será grande quando pensar no bem maior da coletividade e quando ele imaginar que todas as pessoas ao seu redor estão bem, porque ele também estará bem. Trabalhar pelas pessoas e pelo mundo é o lado bom da vida.

Foto: Wagner Romano / Jornal PIRANOT




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