Cresce em Piracicaba número de medidas protetivas recebidas pela Maria da Penha





“A equipe da Patrulha Maria da Penha foi até a delegacia, me orientou e me acompanhou até o IML (Instituto Médico Legal). Foi tudo mais rápido. Eu agradeço porque quem me encorajou (a denunciar) foi a Patrulha Maria da Penha. Só quando eles chegaram eu consegui ver uma luz no fim do túnel”. O depoimento é da professora C., 36 anos, vítima de violência doméstica.





Foto: Eleni Destro.

O trabalho da Patrulha Maria da Penha, implantada em 2017, em Piracicaba, encoraja cada vez mais mulheres como C. a se livrarem de seus agressores. Dados da Guarda Civil (GC), responsável pela Patrulha, mostram que houve um aumento de 43% na média mensal do número de medidas protetivas expedidas entre os anos de 2018 e 2019.

Criada em 2017, com objetivo de reduzir os índices de violência contra a mulher em Piracicaba, a Patrulha Maria da Penha atua na proteção, prevenção, monitoramento e acompanhamento dessas mulheres que conquistaram judicialmente medidas protetivas de urgência, mantendo o agressor afastado da vítima. Além disso, realiza atendimento humanizado e inclusivo à mulher vítima de violência.

Esse atendimento diferenciado e a garantia de proteção pós-denúncia, fazem com que cada vez mais mulheres se sintam seguras para fazer denúncias contra seus agressores. Em um comparativo, a média de medidas protetivas recebidas pela GC em 2018 era de 30/mês. Em 2019, esse número saltou para média de 43 medidas, um aumento de 43%. Em 2018 foram 361 medidas protetivas e 13 agressores presos. Em 2019, em cinco meses, de janeiro a maio, já são 216 medidas e 11 prisões em flagrante.

“Este aumento das medidas protetivas nos mostra que as campanhas de conscientização estão mobilizando e fortalecendo estas mulheres a denunciarem a violência doméstica e solicitarem a medida protetiva. Muitas sofrem caladas e por medo ou vergonha acabam por não denunciar o agressor, mas as campanhas estão trazendo uma nova visão para estas mulheres, as quais não estão mais aceitando a violência”, observa Lucineide Aparecida Maciel, a comandante da GC.

Desde a criação da Patrulha, a Prefeitura informa as mulheres sobre a existência do serviço de diversas formas, entre elas reportagens, folders e campanhas. As campanhas “A Força de uma é a Força de Todas” e “Mulher, Você tem todo Direito de ser Feliz”, impactaram a população. A primeira, composta por peças com frases que levam à reflexão sobre sinais que apontam que uma mulher pode ser vítima de violência mesmo que não perceba, foi amplamente divulgada nas redes sociais. A segunda ganhou as ruas e os terminais de ônibus urbano, com veiculação nas TVs dos terminais, backbus (peças adesivadas em ônibus) e com cartazes espalhados nos pontos de ônibus.

A campanha no transporte coletivo foi idealizada pela presidente do Fussp (Fundo Social de Solidariedade de Piracicaba), Sandra Negri, em parceria com a GC e Via Ágil, com verba do Fussp. “A ideia partiu de uma campanha parecida, realizada em uma cidade dos EUA. Diante do aumento da violência contra a mulher, colocaram cartazes em pontos de ônibus para alertar sobre o problema. Falei com a Via Ágil, Guarda Civil e criamos esta campanha em Piracicaba”, contou Sandra. “A violência contra a mulher é preocupante. Sempre existiu, eu sei, mas hoje as mulheres estão mais corajosas para denunciar. E é nosso papel, como administradores, informá-las sobre os canais de denúncia e oferecer a elas proteção”, ressalta a presidente do Fussp.

Implantada em maio, primeiro ano do terceiro mandato do prefeito Barjas Negri, a Patrulha se junta a outras ferramentas criadas pela Administração para proteção da mulher piracicabana. “A Patrulha Maria da Penha da Guarda Civil trabalha 24 horas ininterruptas e durante este período de implantação, de 2017 a 2019, recebeu 852 medidas protetivas expedidas pelo Judiciário, realizou 20.876 rondas monitoras para estas mulheres, objetivando a proteção e a não reincidências da violência doméstica e colocou na cadeia 27 agressores. As mulheres necessitavam de um serviço como este. Vamos continuar desenvolvendo ações direcionadas à mulher e também a sua segurança”, garante Barjas.

Livres

Duas mulheres vítimas de violência contaram à reportagem do Centro de Comunicação Social da Prefeitura suas histórias e como a Patrulha Maria da Penha foi decisiva para que elas se livrassem dos seus agressores. Os nomes foram mantidos em sigilo para preservar as identidades.

A professora C., 36 anos, foi casada durante três anos. Nesse período, sofreu agressões psicológicas. “Não tinha coragem de denunciar. Na verdade, tinha vergonha: uma pessoa formada, esclarecida, se sujeitar a isso? Mas quando você está dentro vê que mais difícil sair”, relata. C. se separou algumas vezes, mas diante da promessa do companheiro em mudar, ela voltou. E ele não mudou. Além da agressão psicológica, eram empurrões, socos e até esganadura.

A gota d´água foi quando ela recebeu uma facada na perna, perto do tornozelo. “Fui ao pronto-socorro e falei que tinha sido um acidente. Fiz um acordo com ele que se falasse isso ele deveria sair de casa. Só que não saiu e continuou me ameaçando. Contei a uma amiga que disse que eu tinha de ir à delegacia. Fui na delegacia e também comuniquei a Patrulha Maria da Penha. Os guardas foram até a delegacia, me orientaram e me acompanharam até o IML, para o exame corpo de delito. Foi tudo rápido. Representei na sexta e, no sábado, o oficial de Justiça estava na porta de casa, entregando a medida protetiva”, contou. O agressor foi obrigado a deixar a casa.

C. reforça que esse amparo foi decisivo para seguir adiante com a denúncia. “Tenho estado mais segura porque vejo que eles (Patrulha) passam próximo do trabalho, de casa. Não sabia nem como começar. Achava que o dia que denunciasse eu iria morrer. Se a gente estiver disposta a seguir com a denúncia, a Patrulha Maria da Penha é a luz no fim do túnel. A sensação é de liberdade”, comemora.

A violência doméstica também fez parte da rotina da assistente administrativa R., 54 anos. Só que no lugar do marido, o agressor é o genro. E ela não é a única vítima: a filha, casada com o homem, e a própria filha dele e sua neta de 4 anos também tem medidas protetivas contra ele.

As primeiras agressões eram verbais. Também fazia escândalos e destruía bens materiais. A filha não aguentou e disse que queria a separação. Foi quando ele a agrediu com um murro no peito, que a deixou sem respirar. Ela caiu e ele se ajoelhou sobre ela e continuou a esmurrar. Ela não tinha força para gritar por socorro. “Ele só parou porque minha neta entrou na frente”, conta.

Depois disso, o homem saiu da casa, mas sempre ia até lá para fazer escândalo. Para ter mais segurança, as mulheres foram morar na casa do pai de R., mas não tiveram paz. Uma vez, o homem tentou atropelar as três. Nesse dia, as medidas protetivas saíram. “A Patrulha Maria da Penha é muito importante porque, além de dar suporte, dão carinho, atenção. Só tenho de agradecer. Com a Patrulha me sinto segura. Param na porta de casa para ver se está tudo bem. Sempre falo muito bem. Uma amiga teve o mesmo problema e disse que ela pode confiar”, finalizou.

Patrulha Maria da Penha
Foto: Eleni Destro.




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