Demanda cresce, mas planos de saúde esperam retração





JOÃO GABRIEL
SÃO PAULO, SP

Foto: Divulgação

A pandemia tem exigido que as pessoas fiquem em casa, mas também as tem feito buscar mais informações sobre a doença e reorganizar a agenda de exames.

Representantes do setor dos planos de saúde ouvidos pela reportagem relatam, alguns sob condição de anonimato, crescente demanda por serviços, que se manifesta de diferentes formas. Por outro lado, revelam a expectativa de que aconteça, a partir de abril, uma retração do mercado devido à desaceleração da economia.





A Prevent Senior, por exemplo, seguradora que foca o atendimento a idosos (principal grupo de risco para o vírus), observou crescimento na sua carteira de beneficiários.

Foram mais de 13.939 novos contratos firmados pela empresa desde o início do ano: 3.700 em janeiro, um salto para mais de 5.000 em fevereiro e o mesmo patamar em março.

Já a corretora Brazil Health observou aumento no número de beneficiários em todos as categorias de planos, de janeiro a março deste ano.

Os dois que mais cresceram foram o individual, com 76%, e o familiar, 72%. Logo atrás vem o tipo de adesão coletiva, aquele feito por meio de representantes de profissões, como sindicatos (61%), seguido do empresarial (57%).

O plano PME, de pequenas e médias empresas –primeiro setor a sentir os impactos da pandemia na economia–, foi o que menos cresceu, 14%.
“Um viés de atenção é o segmento empresarial acima de cem vidas e PMEs, que em abril vem apresentando muita demanda de exclusão e prorrogação de [vencimento de] faturas. Há cenário de preocupação quanto à inflação médica deste ano. Teremos que ter sabedoria e empatia”, diz o diretor da Brazil, Marcelo Reina.

Empresas de atuação regional também têm percebido a mudança. A Promédica, de Salvador, passou a vender planos de saúde individuais em outubro do ano passado.

Terminou 2019 com pouco mais de 10 mil vidas em sua carteira. Em janeiro de 2020 somou mais 679, em fevereiro, mais 873 e em março, mês da primeira morte pela Covid-19 no Brasil, 1.322. É um crescimento total, subtraído os pouco mais de 300 contratos desfeitos no período, de 27%.

Já a Care Plus afirmou que os pedidos de cotações de novos contratos subiram 172% em março deste ano em comparação com o mesmo mês de 2019.
A pandemia tem impactado a economia. Fontes ouvidas pela reportagem dizem que é cedo para aferir números, mas que a tendência é que o segmento entre em retração e que esta se agrave nos próximos dois ou três meses.

Cresceram, por exemplo, relatos de pessoas ou empresas que tentam renegociar seus contratos, postergar vencimentos ou cancelar os planos.
Diante deste cenário, a Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde) e a FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Complementar) recomendaram a suspensão de reajuste nos valores dos planos de saúde por 90 dias.

Juntas, as duas instituições reúnem cerca de 26 milhões de brasileiros em suas seguradoras associadas. Normalmente os reajustes são feitos a cada 12 meses. A indicação vale a partir de 1º de maio.

Já a ANS (Agência Nacional de Saúde Complementar), que regula os planos de saúde no país, liberou às seguradoras fundo de R$ 15 bilhões, com a contrapartida de que elas cumpram exigências como não suspender contratos e atender a segurados que estejam inadimplentes na pandemia.

A necessidade ficar em casa faz pacientes desmarcarem consultas. Roberta, 23, por exemplo, cancelou exames de tireoide e papanicolau.

Vinícius, 3, parou de ir à psicóloga após seu plano de saúde negar a cobertura do atendimento virtual. As empresas responderam que estão se adaptando às necessidades de segurança.

O aumento na demanda tem feito as seguradoras diversificarem a oferta de serviços. Até agora, a telemedicina tem sido o principal meio de atender aos beneficiários.

“As pessoas não estão saindo de casa e têm o receio frequentar o espaço médico. Neste aspecto houve diminuição do comparecimento das pessoas aos pronto-socorros. Por outro lado, houve aumento na procura com sintomas com doenças respiratórias. Um não compensa o outro ainda”, diz Daniel Coudry, CEO da Amil.

A empresa abriu nesta quinta (16) sua modalidade de telemedicina, antes restrita aos planos mais caros da seguradora, a todos os beneficiários. A estrutura terá 360 funcionários, funcionará 24 h e poderá receber 6.000 ligações por dia.

A ampliação da telemedicina foi antecipada pelo vírus, mas Coudry defende que, após a crise, ela deve seguir ativa e funcionando também para consultas eletivas. “O cliente faz a consulta com o médico de emergência, que detecta se ele precisa de segmento mais rotineiro, e aí ele pode fazer agendamento com cardiologista, neuro, ortopedista”, diz.

A solução, autorizada pelo Ministério da Saúde, em março, tem sido usada por outras empresas. O órgão também obrigou os planos a cobrir exames para coronavírus.

A rede Sul-América teve em março número de atendimentos pelo canal Médico na Tela 15 vezes superior ao de janeiro e fevereiro. E afirmou que 89% dos chamados não precisaram se dirigir a um hospital.

A Care Plus disse que seu atendimento telefônico passou da média de cem ligações por mês para cem por dia. E que 70% das consultas em pronto-socorro podem ser resolvidas por este meio.





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