Mesmo com novos leitos para Covid-19, UTIs brasileiras têm alta taxa de ocupação

Foto: Divulgação





Mesmo após a abertura de novos leitos de terapia intensiva para o tratamento daCovid-19,estados brasileiros permanecem com o sistema de saúde sob pressão por causa do avanço da doença causada pelo novo coronavírus.

Mesmo com novos leitos para Covid-19, UTIs brasileiras têm alta taxa de ocupação
Foto: Alziro Xavier / Divulgação

Levantamento da reportagem aponta que, nos últimos dez dias, foram abertos pelo menos 776 leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) nas redes estaduais para o tratamento da doença em 12 estados e no Distrito Federal.

Mesmo ampliando o número de vagas, parte dos estados ainda permanece em um patamar preocupante de ocupação dos leitos. Amazonas, Pará, Rio de Janeiro e Pernambuco estão com mais de 90% dos leitos ocupados. Já Ceará, Goiás, Espírito Santo, Maranhão e Rio Grande do Sul ultrapassam a barreira dos 60%. São Paulo registra 59,8%.





Em alguns casos, na prática, a situação é de colapso, já que os leitos disponíveis são a reserva técnica liberada por pacientes que morreram ou tiveram alta. No Amazonas e no Rio de Janeiro, há fila para conseguir uma vaga na UTI.

Procurados pela reportagem, os governos do Amazonas e Pará não informaram a situação dos leitos de UTI em seus estados.

Nos últimos dias, o governo do Amazonas tem divulgado que 96% dos leitos da rede estadual de UTI estão ocupados, mas profissionais de saúde ouvidos pela reportagem afirmam que só há vagas em caso de óbito ou alta. No Pará, a ocupação de leitos da rede pública atingiu a marca de 91% na semana passada.

O Rio de Janeiro se aproxima de um cenário de caos: 238 dos 256 leitos de UTI destinados ao coronavírus nas unidades de referência da rede estadual já estão ocupados. O único que ainda tem vagas é o Hospital Regional Zilda Arns, em Volta Redonda. Pacientes da capital, que fica a uma hora e meia de distância do município, já estão sendo enviados para lá.

Mesmo com esses leitos sobrando, a fila por UTIs acumulava 326 pessoas nesta segunda na rede estadual. O descompasso se dá porque, antes de o leito ser liberado, leva tempo até que ele seja higienizado e sua vacância seja comunicada. Com isso, os pacientes se acumulam em Unidades de Pronto Atendimento e outras unidades menores à espera de transferências, muitas vezes sem isolamento nem acesso a exames ou respiradores.

O governador Wilson Witzel (PSC) promete criar cerca de mil novas vagas de UTI em dez hospitais de campanha, mas até o momento apenas um deles foi aberto. E, mesmo assim, apenas 30 dos 200 leitos previstos nessa unidade estão funcionando.

Em Pernambuco, a situação também é crítica. Desde o início da crise, foram criados na rede estadual de saúde 348 leitos de UTI. Ainda assim, a taxa de ocupação dos leitos era de 96% nesta segunda-feira. Na semana passada, o índice chegou a 99%. “Estamos sendo ultrapassados pela doença”, afirmou o secretário estadual de Saúde, André Longo, que fez um apelo para que as pessoas cumpram medidas de distanciamento social. A meta do governo é abrir mais 52 novos leitos.

Depois de ter o sistema de saúde estadual colapsado há cerca de dez dias, o Ceará conseguiu mais que dobrar a rede de atendimento de pacientes com Covid-19, saindo de 169 para 398 leitos de terapia intensiva.

Com os novos leitos ofertados, o estado saiu de um patamar de 100% de ocupação dos leitos destinadas à Covid-19 para 77%. O avanço foi possível com a abertura de hospitais de campanha, a ampliação de vagas em hospitais e o remanejamento de leitos da própria rede estadual. A maior parte das vagas ainda disponíveis, contudo, está no interior. Em Fortaleza, que já registra 5.432 casos da doença e 320 mortes confirmadas, a ocupação de UTIs chegou a 98% nesta segunda-feira (27).

Em São Paulo, que tem 2.088 leitos de UTI na rede estadual para Covid-19, a ocupação chega a 59,8%. Na Grande SP, esse índice alcançou 78,4%. O Hospital das Clínicas de São Paulo, onde foram criados 100 novos leitos de terapia intensiva para tratamento da Covid-19, chegou a quase 95% e ficou perto de atingir sua capacidade total na UTI.

O cenário é semelhante em outros hospitais estaduais localizados na região metropolitana de São Paulo. A UTI do Instituto Emílio Ribas, referência no tratamento da doença, alcançou 100% de ocupação em pelo menos dois dias nas últimas semanas. O secretário estadual de Saúde, José Henrique Germann, admite que o número de leitos de UTI pode não ser suficiente se a população não respeitar as regras de isolamento social.

Os cenários de ocupação dos hospitais também começam a preocupar no Espírito Santo, no Rio Grande do Sul e em Goiás. Neste último, a ocupação dos leitos de terapia intensiva já chegou a 75%.

O Rio Grande do Sul não informou a porcentagem de leitos do SUS ocupados, mas apontou para uma taxa de 61,2% dos 1.712 leitos públicos e privados do estado. Na segunda maior cidade gaúcha, Caxias do Sul, a ocupação de leitos do SUS é alarmante: 97%, segundo a prefeitura.

Também há um avanço rápido da demanda no Maranhão, onde a ocupação das UTIs saltou de 41% para 60% em dez dias. O governador Flávio Dino (PC do B) afirmou que irá decretar lockdown, com a proibição da circulação de pessoas nas ruas, casos a ocupação atinja 80%.

Com alguns estados perto do limite de sua capacidade, o médico Francisco Braga Neto defende a requisição obrigatória de leitos particulares pelos estados e municípios. Ele argumenta que a contratação desses leitos por meio de edital, como vem tentando fazer a Prefeitura do Rio de Janeiro, exige adesão voluntária, que muitas vezes é baixa.

O número de pessoas que vão morrer sem acesso ao serviço está aumentando e vai aumentar a cada dia, e em grande parte são mortes evitáveis. Temos que enfrentar a pandemia com todos os recursos possíveis, afirma ele, que é coordenador do Observatório de Política e Gestão Hospitalar da Fiocruz.

Ele aponta como alternativa a abertura de novos leitos, principalmente com hospitais de campanha. Mas destaca que esta opção empaca na falta de respiradores e na dificuldade de contratação de equipes. “Os leitos privados estão instalados, equipados e têm recursos humanos. É um absurdo não usarmos”, diz.





Sair da versão mobile