O PIRANOT segeue testando novos conteúdos. Na semana passada, estreamos no domingo a coluna de Victor Palma. Decidimos transferir ela para terça.
As opiniões e o conteúdo da coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PIRANOT, mas sim do autor.
Confira então a coluna desta semana:
REFORMA TRIBUTÁRIA 1
Iniciamos o mês de julho com a promessa da reforma mais aguardada dos últimos 30 anos. Aquela que possui a real capacidade de transformar a dinâmica produtiva do País, imprimindo competitividade em setores carcomidos por benesses fiscais seculares. A tão aguardada Reforma Tributária, já sepultada inúmeras vezes, tornou-se palavra de ordem no Congresso de Lira, que prometeu colocá-la em votação até a próxima sexta-feira.
REFORMA TRIBUTÁRIA 2
Sendo uma estimativa real ou não, o Congresso terá que trabalhar seu mais elevado espírito republicano, para que deputados e senadores convençam suas bases de prefeitos e governadores, a abandonarem a guerra fiscal que beneficiou seus caixas, e o caixa de seus patrocinadores, por tanto tempo, em nome de uma maior arrecadação futura, que viria através da maior competitividade que a simplificação tributária causaria.
REFORMA TRIBUTÁRIA 3
Evidente que votar algo tão complexo não é tarefa fácil e a oposição, fora da influência de Lira, trabalha para utilizar a pauta como estratégia de desgaste político a Lula, em coro com a Abras (Associação Brasileira de Supermercados), afirmando que a cesta básica ficará até 60% mais cara. Bernard Appy, representante do tema no Ministério da Fazenda, rebate a afirmação, dizendo que as estimativas são superestimadas e ignoram tanto a parte residual da tributação, que antecede a chegada do produto até a prateleira, quanto a atual impossibilidade do varejista recuperar créditos tributários que hoje são incorporados aos custos do setor.
REFORMA TRIBUTÁRIA 4
Lira diz a aliados que o texto possível será aprovado, sem sombra de dúvidas. Entretanto, resta-nos saber se esse “texto possível”, considera as limitações de discussões e convencimentos derivados do campo técnico da proposta ou do caixa do governo, disponível para amealhar apoio necessário ao alcance dos 308 votos. Este colunista espera trazer dados mais claros sobre este mistério (rs), já na coluna da semana que vem.
JUROS E O DILEMA DE CAMPOS NETTO 1
Analistas dos principais bancos do País, já projetam uma redução de 1.75 p.p. na taxa básica de juros (SELIC) até o final do ano. As estimativas levam em conta, não apenas a pressão de setores produtivos, que se vêem estrangulados pela ausência de crédito aos seus consumidores, mas também os índices econômicos que têm superado, sistematicamente, as estimativas do mercado. Não apenas os índices de crescimento surpreenderam, como a percepção de que aumentos na renda do trabalhador e melhoras na taxa de emprego, não causaram elevações visíveis na taxa de inflação, como previsto em atas anteriores do Banco Central.
JUROS E O DILEMA DE CAMPOS NETTO 2
O discurso utilizado pelo presidente do Banco Central, de que sinalizará e conduzirá a política de juros de maneira oposta às pressões políticas, começaram a perder força quando setores que apoiaram Jair Bolsonaro engrossaram o coro pela redução, após perceberem que manter a maior taxa de juros real do mundo, além de causar uma série de prejuízos à base produtiva do País, também impacta diretamente na queda do dólar, reduzindo os vultosos ganhos de sua ala exportadora. O setor agrícola não era um entusiasmado apoiador do governo anterior, apenas por identificar-se com sua pauta ideológica (o que também acontecia em grande parte), mas beneficiava-se imensamente da manutenção de um câmbio supervalorizado, que tornava seus produtos muito mais atrativos no exterior do que internamente, mesmo que isso custasse valores elevados em itens básicos da alimentação como trigo e carne.
INELEGIBILIDADE DE BOLSONARO 1
Na última semana, em uma sessão marcada por inúmeros recados e sinalizações, Bolsonaro recebeu sua primeira condenação após deixar a presidência, tornando-o inelegível até 2030, decisão que ainda pode ser questionada no STF, mas que dificilmente será revertida. Vale destacar que o relator de eventual recurso não poderá ser nenhum daqueles que votaram pela sua cassação. A fatura desta decisão já era antecipada há tanto tempo, que até Valdemar da Costa Netto, presidente do partido de Bolsonaro, preferiu passar férias em Las Vegas a acompanhar de perto o desfecho do seu, agora, principal cabo eleitoral.
INELEGIBILIDADE DE BOLSONARO 2
Bolsonaro acumulou mais de 600 processos ao longo de sua passagem pelo governo, segundo informações de seu próprio partido. Parte deles, de matéria eleitoral, perderá objeto após a decisão de sexta, uma vez que a pena mais grave que a Justiça Eleitoral pode imputar a um político, é a inelegibilidade que já lhe foi atribuída. Entretanto, está longe de ser este tipo de ação que tira o sono do ex-presidente. As ações que podem lhe trazer condenações na esfera criminal, muitas delas do período da pandemia, são aquelas que mais lhe preocupam, embora analistas políticos acreditem que tais desfechos, levarão em conta não apenas a ausência de risco que demande uma prisão temporária, mas também o custo político de torná-lo uma espécie de mártir a seus seguidores mais apaixonados.
INELEGIBILIDADE DE BOLSONARO 3
Um desdobramento adicional da decisão da última sexta-feira, pode estender a inelegibilidade de Bolsonaro para além de 2031. Após o julgamento, o TSE enviou os dados dos gastos realizados por Bolsonaro, durante a fatídica reunião com embaixadores, ao TCU, indicando o desvio de finalidade de recursos públicos para utilização privada e eleitoreira, conforme definição da própria corte. Como a condenação neste caso, começa a contar apenas após o término do prazo dos recursos, um resultado negativo pode deixá-lo fora da corrida eleitoral por muito mais tempo. Lembrando ao leitor, que este é apenas o primeiro dos muitos gastos públicos realizados durante a campanha, que serão questionados e revisados nos próximos anos.
O ERRO QUE APROXIMA LULA E BOLSONARO
O historiador e sociólogo paulista Sérgio Buarque de Holanda, em uma de suas obras mais famosas, definiu a grande contribuição brasileira, como sendo a construção e criação do homem cordial. Instituição esta, que é equivocadamente confundida com polidez, educação e cuidado com o próximo, embora, na verdade, esteja ligada à emoção, à forma apaixonada como o brasieiro lida com o mundo, seja pelo lado bom, seja pelo lado ruim. Isso nos torna um povo bastante suscetível à paixões viscerais por temas que deveriam ser vistos de forma mais racional. Um deles é a política, criando ídolos que poucas vezes são contestados por seus seguidores. A decisão do TSE, foi sim, muito acertada, pois defendeu uma instituição fundamental, a Democracia. Instituição esta, que, por vezes, também é relativizada pela esquerda ao se referir a antigos aliados latinoamericanos como Maduro na Venezuela e Ortega na Nicarágua (embora, verdade seja dita, nunca tenham questionado resultado eleitoral algum por aqui, ganhando ou perdendo a eleição). Sem democracia, não há economia moderna saudável, não há combate à corrupção, de fato, e não há liberdade de pensamento e ação. Até semana que vem, caros leitores.