Já parou para pensar sobre de onde vem o piso cerâmico presente em sua casa? Aquele que reveste da cozinha aos banheiros e, muitas vezes, até mesmo a área externa das residências. Pois saiba que se você mora no Estado de São Paulo, as chances de esse revestimento ter sido produzido no munícipio de Santa Gertrudes, na Região Metropolitana de Piracicaba, são bem grandes.
O Brasil é um dos principais protagonistas no mercado de revestimentos cerâmicos, com uma indústria que ocupa a terceira posição no ranking de maiores produtores do mundo, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres (Anfacer). Boa parte dessa produção sai do munícipio de Santa Gertrudes que, com pouco mais de 27 mil habitantes, carrega o título de “Capital da Cerâmica de Revestimento” – reconhecido pela Lei Estadual 16.751/2018.
A cidade, além de fazer parte, também dá nome ao Polo Industrial Cerâmico de Santa Gertrudes, formado pelos municípios de Limeira, Cordeirópolis, Santa Gertrudes, Rio Claro, Ipeúna, Piracicaba e Iracemápolis. São 26 indústrias cerâmicas associadas – responsáveis pela geração de 14 mil empregos diretos na região – que formam o maior polo da categoria na América Latina.
Histórico
A produção de revestimentos em Santa Gertrudes surge nas décadas de 1920 e 1930, com a descoberta de grande variedade de minerais no solo da cidade, entre eles, a argila. Com o desenvolvimento de tecnologias para a obtenção e tratamento da matéria prima, o município se tornou referência na produção dos revestimentos.
“Santa Gertrudes era considerada na década de 1970 a capital da telha. Na década de 1980, alavancou a produção de lajotas cerâmicas, conhecidas como ‘lajotão colonial’, em seguida, o esmaltado. Durante todo esse período, as indústrias investiram em tecnologia e pesquisas para o aprimoramento dos produtos, pois enxergaram o potencial econômico e a existência de grande demanda”, explica o prefeito de Santa Gertrudes, Lazaro Noe da Silva.
Foi pensando em reconhecer essa rica história que, em 2015, o deputado Rafael Silva (PSD) decidiu propor que o título de “Capital da Cerâmica de Revestimento” fosse atribuído à Santa Gertrudes por meio de uma lei estadual.
“O título reforça, de maneira oficial, os valores da história. A lei é um documento, uma declaração oficial, que confirma que ali há um trabalho histórico, sério e reconhecido”, afirma o autor da proposta. A Lei 16.751/18 foi sancionada em 2018 e desde então faz parte do hall de títulos oficiais do Estado.
Produção
O Brasil é historicamente um grande produtor e consumidor de revestimentos cerâmicos. Atualmente, o país ocupa a terceira posição em produção e consumo e a sexta colocação no ranking de exportações, de acordo com a Anfacer.
Em 2022, a indústria brasileira registrou o número de 927 milhões de metros quadrados (m²) de revestimentos cerâmicos produzidos, sendo 736,4 milhões comercializados no mercado interno e 130,4 milhões para exportações.
Esse destaque no cenário mundial é resultado do desenvolvimento da capacidade da indústria local – em especial, do Estado de São Paulo. O Polo de Santa Gertrudes foi responsável por 70% da produção nacional em 2020, como mostraram os dados da Associação Paulista das Cerâmicas de Revestimento (Aspacer).
Considerando o Estado de São Paulo, esses números são ainda mais impressionantes. De acordo com a Aspacer, 92% de toda a produção estadual de revestimento cerâmico tem como origem o Polo Industrial de Santa Gertrudes.
Os revestimentos
Revestimento cerâmico, piso, ou ainda, azulejo, são placas amplamente utilizadas na arquitetura brasileira. Esses revestimentos são formados por duas camadas: uma de argila combinada com diferentes materiais minerais, e outra, de acabamento, que pode ser esmaltada, com relevo ou que reproduza diferentes materiais, como tijolos e pedras naturais.
“Em uma edificação, existem os elementos de função estrutural e os elementos de vedação. Tudo que é colocado em cima desses elementos é considerado um revestimento, porque a função é a proteção do material interno, além da finalidade estética”, explica o arquiteto Lucas Almeida.
De acordo com Almeida, a utilização desse tipo de revestimento está presente na construção civil desde a antiguidade. “Há mais de dois mil anos, o coliseu de Roma usava uma substância chamada pozzolana, que permitia encher seus dutos internos de água sem danificar a estrutura. A cerâmica aparece como opção pois o concreto é um material poroso que precisa de outras substâncias para ser impermeável”, conta o arquiteto.
A popularização dos revestimentos se deu pela alta gama de possibilidades estéticas e pela facilidade na hora da limpeza. “A cerâmica oferece um leque imenso de estilos e formatos. Sobre os benefícios práticos, o revestimento cerâmico aparece nas casas logo após as primeiras reformas sanitárias decorrentes das epidemias que assolavam a Europa, isso porque ele é um material liso e de fácil limpeza”, afirma Lucas Almeida.