O desabamento parcial do teto da Igreja de São Francisco de Assis, um dos principais patrimônios barrocos do Brasil, localizada no Pelourinho, em Salvador, resultou na morte de uma turista e deixou cinco feridos na última terça-feira (data a confirmar). O incidente levou o presidente do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), Vinícius Marchese, a cobrar com urgência a criação de leis que exijam inspeções periódicas em edificações históricas.
“Falta de manutenção adequada”
Em entrevista ao PIRANOT, Marchese destacou que as primeiras análises do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (CREA-BA) apontaram indícios de negligência na conservação do templo, conhecido como “igreja de ouro” devido à sua decoração interna em talha dourada.
“Vários relatos indicam, visualmente, a falta de manutenção preventiva, especialmente no teto. Tragédias como essa poderiam ser evitadas com fiscalização regular”, afirmou o presidente do Confea.
Ele também reforçou que não havia obras de engenharia em andamento no local, mas que a ausência de inspeções técnicas periódicas criou um “cenário de risco”. A igreja, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), recebe milhares de visitantes todos os anos e é um dos ícones turísticos da capital baiana.
Investigação multidisciplinar em curso
Após o desastre, equipes da Defesa Civil de Salvador (Codesal), Polícia Federal e CREA-BA iniciaram vistorias no local para avaliar as causas do desabamento.
O diretor da Codesal, Shostenes Macedo, explicou que, apesar da estrutura principal do prédio estar preservada, a queda do forro comprometeu a segurança interna, levando ao fechamento da igreja por tempo indeterminado.
A Polícia Federal, por sua vez, utiliza scanner 3D para mapear detalhes do acidente e auxiliar nas investigações. Segundo o delegado Maurício Salim, a tragédia exige uma análise criteriosa.
“A complexidade envolve análises criminais, cíveis e administrativas. Precisamos entender se houve omissão na preservação e se essa fatalidade poderia ter sido evitada”, afirmou Salim.
Marchese cobra medidas urgentes
O presidente do Confea destacou que o Sistema Confea/CREA está à disposição para propor soluções técnicas e colaborar com gestores públicos na criação de um plano nacional de fiscalização de patrimônios tombados.
“Que esta tragédia sirva de alerta. O Brasil precisa de um plano nacional para a conservação de seus patrimônios. Não podemos continuar lidando com o descaso e esperar que novas tragédias aconteçam. É preciso agir agora”, ressaltou.
O caso reacendeu o debate sobre a preservação de patrimônios históricos no país. Dados do Iphan revelam que apenas 35% dos imóveis tombados passam por manutenção anual, um reflexo da falta de recursos e priorização governamental.
O risco iminente de novas tragédias
A Igreja de São Francisco de Assis, construída no século XVIII, é considerada uma joia do barroco brasileiro, mas há décadas sofre com a ação do tempo e a umidade.
Em 2019, o Iphan emitiu um alerta sobre rachaduras no forro, porém não há registros de intervenções recentes no templo. Especialistas alertam que outras igrejas e prédios históricos em Salvador e em diversas cidades do Brasil também podem estar sob risco estrutural, devido à falta de conservação contínua.
Enquanto os familiares da vítima fatal aguardam respostas, cresce o clamor por políticas públicas efetivas de preservação e segurança. Como concluiu Marchese:
“Patrimônio histórico não é apenas passado. É vida. E vidas dependem de que ele esteja seguro”.