A coluna “Entrevista PIRANOT”, que teve sua primeira temporada em 2019, estreia a segunda temporada hoje com o Doutor Sérgio Pacheco. Nascido em Sorocaba (SP), em 26 de junho de 1977, ele tem 47 anos, é casado com a pedagoga Raquel Maria Pereira desde 2009 e possui quatro filhos, sendo eles Henrique, Rafael e os gêmeos Mateus e Gabriel.
Médico formado pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas em 2003, com especialização em Cardiologia, Terapia Intensiva e Medicina de Trânsito, trabalhou em diversos hospitais de Piracicaba (SP) e região até ser eleito vice-prefeito de Piracicaba na chapa de Helinho Zanatta, do PSD, assumindo em janeiro de 2025.
Em entrevista ao PIRANOT, Dr. Sérgio contou sobre os planos futuros para Piracicaba, sua trajetória como médico e os principais desafios da cidade.
A entrevista é de Andrey Moral, do PIRANOT. Leia as perguntas e respostas:

Você é natural de Sorocaba (SP); conte um pouco da sua trajetória. Como veio parar em Piracicaba (SP)?
Meu pai é piracicabano, e minha mãe, sorocabana. Eles fizeram faculdade juntos em Sorocaba e se formaram na mesma turma, em 1975. Tiveram minha irmã e a mim. Quando eu tinha dois anos, eles se divorciaram. Meu pai então voltou para Piracicaba e, depois, casou-se com a Márcia, que também é bastante conhecida aqui, né? Foi vereadora por muitos anos na cidade. Eu fiquei em Sorocaba com minha mãe. Por ter passado esse tempo com ela, optei por, depois de concluir minha formação, vir para cá e trabalhar como médico. Foi uma escolha de vida. Minhas especialidades são essas mesmo: comecei na cardiologia, na Beneficência Portuguesa, depois tirei o título de especialista em terapia intensiva pela AMIB, a Associação de Medicina Intensiva Brasileira. Mais tarde, fiz uma pós-graduação na Santa Casa de São Paulo, em medicina do tráfego.
Quais os principais desafios nesse início de transição? Qual é a realidade encontrada na questão da saúde?
Ainda estamos tentando resolver uma saúde extremamente sucateada, que não está funcionando como deveria. A atenção básica, que são os postinhos, não está adequada, assim como a atenção secundária, que envolve os especialistas, e a urgência e emergência, que abrange as UPAs e o Pronto-Socorro. A parte hospitalar também enfrenta problemas, com um uso inadequado tanto das vagas quanto dos recursos disponíveis.
Temos, por exemplo, diversas cirurgias ortopédicas de grande porte – como de joelho e coluna – e cirurgias mais delicadas – como de mão e quadril – paradas há mais de um ano. Encontramos uma saúde bastante sucateada, com filas extremamente longas para especialidades, exames e cirurgias. Estamos trabalhando para corrigir esses fluxos e, em apenas 50 dias, já conseguimos avançar bastante. No entanto, a população ainda precisará ter um pouco de paciência para sentir plenamente as mudanças que estamos implementando. Mas essas mudanças virão, e serão positivas.
Você comentou sobre as UPAs, a população tem feito muitas reclamações, e algumas delas são administradas pela OS. Diante desse cenário, como você avalia a gestão dessas unidades? Pretende manter essa parceria ou considera outras alternativas para melhorar o atendimento?
Atualmente, temos duas UPAs gerais e a Central de Ortopedia e Traumatologia (COT) sob gestão do município. Já as duas UPAs que menciono como a da Vila Cristina e Vila Sonia são administradas pela O.S. Mahatma Gandhi.
Todas as UPAs ainda enfrentam problemas e não estão funcionando de maneira totalmente adequada. No entanto, o maior desafio que tínhamos antes da minha gestão era a dificuldade de transferência dos pacientes das UPAs para os hospitais. Desde que assumi a secretaria, esse problema não ocorreu em nenhum dia.
O que acontece hoje é que, em alguns casos, os médicos das UPAs optam por manter o tratamento do paciente na própria unidade. Por exemplo, uma senhora com infecção urinária pode ser tratada com antibióticos intravenosos na UPA por dois dias e depois voltar para casa, em vez de ser internada no hospital e ficar por uma semana.
Quanto à gestão da OS, há um contrato vigente de cinco anos, e estamos atualmente no segundo ano, com um prazo restante de três anos e dois meses. Não temos poder para romper unilateralmente esse contrato, o que não significa que concordamos integralmente ou que estejamos satisfeitos com o serviço prestado. Para garantir a qualidade do atendimento, a Secretaria mantém uma equipe de fiscalização dedicada, que monitora de perto o cumprimento do contrato dentro das UPAs. Esta equipe realiza inspeções e verifica se os serviços contratados estão sendo executados corretamente. Caso haja irregularidades, são emitidas notificações, independentemente de minha decisão pessoal, pois essa fiscalização é uma exigência para qualquer organização que preste serviço ao município.
Agora eu queria falar sobre a dengue. Neste verão, o Governo do Estado, ele mandou ou deve mandar, uma verba, né? Pro combate à dengue aqui em Piracicaba. Queria que você falasse um pouco sobre como Piracicaba está se preparando.
São Paulo é um dos estados mais afetados. Em Piracicaba, a realidade atual da dengue corresponde a cerca de 10% dos casos registrados no mesmo período do ano passado. No entanto, a grande preocupação deste ano é o retorno da circulação do sorotipo 3, que não era registrado há 10 anos. Esse sorotipo é o mais agressivo entre os que já tivemos contato, o que tem resultado em casos mais graves, apesar do número total de infecções ser menor até o momento. Diante disso, estamos promovendo campanhas de conscientização. Já é possível ver cartazes espalhados por toda a cidade, reforçando o alerta sobre a dengue. Além disso, buscamos parcerias com a iniciativa privada para ampliar essa campanha. O Estado de São Paulo adiantou o repasse do IGH no valor de R$ 1.025.000 e concedeu um incentivo adicional do mesmo montante, totalizando R$ 2.050.000 exclusivamente para o combate à dengue. Esses recursos estão sendo administrados por um comitê específico, que envolve a Vigilância Epidemiológica, a Vigilância Sanitária, o Centro de Zoonoses, além de mim e dos secretários executivos. Esse comitê realiza estudos e encontros estratégicos para planejar as ações de enfrentamento.
Estamos na fase final de elaboração de uma apresentação oficial para a população e a imprensa, detalhando todas as atividades que serão realizadas. Em breve, faremos esse anúncio em um evento de grande porte, possivelmente em um teatro, reunindo diversos atores envolvidos na campanha. Nosso objetivo é dar início a uma mobilização ampla e efetiva de conscientização contra a dengue.
Queria que você falasse um pouco dessa geração de médicos da família. Como que você vê essa paixão, vocação?
Eu sempre digo que não sei se as heranças que recebi da minha família – a medicina e a política – são boas ou ruins. O que sei é que nenhuma das duas é fácil. Mas também são mais do que profissões, são propósitos de vida, verdadeiras vocações. Meu pai e minha mãe são médicos, assim como meus tios, os irmãos deles e até os cônjuges dos meus tios. Temos uma geração inteira de médicos na família. Minha irmã também seguiu esse caminho e é casada com um médico. Então, realmente, a medicina está muito presente em nossa história.
Aqui em Piracicaba, um dos primeiros médicos da cidade foi meu antepassado, o Dr. Aninho Noel. Na placa dele, naquela época, constava que ele veio da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Quando voltou para cá, exercia múltiplas funções: era médico, operador e parteiro. Eu até brinco que, naquela época, o médico fazia de tudo, desde pequenas cirurgias, até uma cirurgia cardíaca! A política seguiu um caminho semelhante na família. Meu pai foi vereador por 24 anos e vice-prefeito por 8 anos. Minha madrasta, Márcia, também teve uma longa trajetória como vereadora.
Do lado da minha mãe, meu bisavô foi prefeito de Sorocaba, e meu tio-avô, padrinho da minha mãe, foi prefeito e deputado federal.
Costumo dizer que essas heranças podem não parecer fáceis ou ideais, mas são o que recebemos, e tentamos transformar desafios em oportunidades – fazer do limão uma limonada. Meu objetivo é sempre atuar da melhor forma possível para que tanto a medicina quanto a política deixem um legado positivo para a população. Agora, vamos ver o que o futuro reserva. Tenho quatro filhos, e nenhum deles decidiu ainda qual caminho seguir. Mas, assim como eu tive minha escolha, eles também terão a deles. E, olhando para trás, não me arrependo de nada.
Aproveitando que você citou a família, eu queria saber uma pergunta pessoal. O que te motiva na vida acordar cedo e realizar. Você tem algum sonho ainda para realizar alguma coisa pessoal?
Eu quero um mundo melhor para os meus filhos, e o que desejo para eles, desejo para toda a humanidade. Por isso, me considero um idealista. Meu propósito, na verdade, é deixar um legado. Para estar aqui hoje, como secretário de Saúde e vice-prefeito, abri mão de seis empregos. Atualmente, ganho menos de um quinto do que recebia antes. Mas entrego minha vida e todos os meus atos a Deus, pois sou um cristão praticante. Essa fé me motiva todos os dias e reforça meu propósito.
A pandemia começou a dar sinais no final de 2019, lá na China. Mas, no início de 2020, já começou a se alastrar pelo mundo. Em Piracicaba, salvo engano, os primeiros casos chegaram por volta de abril. No entanto, desde fevereiro, já estávamos nos preparando, pois sabíamos que enfrentaríamos algo muito sério. Desde o princípio, formamos uma comissão dentro da Santa Casa de Piracicaba, onde eu estava coordenando as ações para planejar o enfrentamento do vírus. Foi um período extremamente desafiador, porque, no início, a doença apresentava uma alta letalidade e uma transmissão muito maior que a de qualquer gripe ou resfriado comum – cerca de dez vezes mais contagiosa. Como eu estava na linha de frente todos os dias, precisei ficar cem dias afastado da minha família, até que, em julho, acabei contraindo a Covid-19. Felizmente, não tive um quadro grave, mas, pela alta taxa de mortalidade da doença na época, foi um período de grande preocupação. Passei um tempo morando em hotel para evitar contato com minha família e, ao testar positivo, enfrentei o isolamento, que naquela época ainda durava entre 15 e 20 dias. Apesar das dificuldades, sempre digo que toda história, independentemente dos desafios ao longo do caminho, precisa ter um final feliz. Nunca vou esquecer a emoção de, depois de tanto tempo, descer a escada da minha casa e ver meus filhos chorando, sem me abraçar há mais de cem dias. Foi um momento extremamente marcante na minha vida. Esta experiência me levou a expandir o trabalho que realizava na Santa Casa de Piracicaba, onde chegamos a administrar seis UTIs simultaneamente – unidades que sequer existiam e precisaram ser criadas da noite para o dia. Depois, fui para São Pedro, onde tive a oportunidade de coordenar a UTI da cidade e atuar como diretor do hospital. Foi lá que conheci o trabalho que o Hélinho Zanatta vinha desenvolvendo, o que acabou me aproximando dele e direcionando meu caminho para a gestão pública.
Você tem alguma novidade, algum projeto que você possa anunciar exclusivamente para o PIRANOT?
Vamos adiantar um pouco as novidades desse projeto importante que está em fase de implantação. A expectativa é que, até março, ele esteja funcionando plenamente – e vamos ver se dará certo. Atualmente, há uma escassez de alguns especialistas no mercado aqui em Piracicaba, o que gera filas de atendimento. Muitos desses profissionais acabam atendendo principalmente consultas de rotina. Por exemplo, a dona Maria vai ao cardiologista para controlar a pressão e a diabetes e recebe um retorno marcado para seis meses depois. Esse acompanhamento funciona bem, mas o problema surge quando ela tem uma dor no peito e precisa de um cardiologista com urgência. Nessas situações, muitas vezes, ela não consegue atendimento imediato e precisa esperar meses para uma nova consulta. Se buscar uma UPA, pode acabar sendo atendida por um médico sem essa especialização, que fica em dúvida se deve interná-la ou apenas encaminhá-la para uma consulta agendada meses depois.
Para resolver esse problema, identificamos as especialidades mais carentes e mais demandadas nos prontos-socorros: cardiologia, neurologia, cirurgia vascular e urologia. Essas áreas envolvem muitos casos urgentes, como pacientes com pedras na vesícula, dores no peito, pressão arterial extremamente alta ou cefaleias que precisam de investigação. Com isso, ampliamos significativamente o número de especialistas nesses ambulatórios, criando um atendimento voltado para consultas de urgência. Dessa forma, o médico da UPA não ficará mais inseguro sobre o que fazer com um paciente que precisa de uma avaliação especializada. Agora, em vez de ter que decidir entre interná-lo ou deixá-lo esperando meses por uma consulta, ele poderá encaminhá-lo para um especialista no prazo de um ou dois dias. Este modelo já é comum nos planos de saúde, mas nunca havia sido implementado no SUS. Acreditamos que essa mudança será uma grande conquista para a população, principalmente para quem mais precisa de atendimento rápido. A novidade já começou a funcionar na cardiologia desde o dia 17 e, se tudo correr bem, será ampliada para as outras especialidades a partir do dia 1º de março.
Pra finalizar, você gostaria de deixar uma mensagem a todos os leitores do PIRANOT?
Meu objetivo é deixar um legado, marcar a diferença, mas não por vaidade, e sim por algo que realmente transforme vidas.
Minha escolha pela política não foi recente. Já havia pensado nisso há muito tempo, mas, por respeito à minha família, acatei a decisão da minha esposa, cuja palavra sempre foi soberana. Desta vez, ela abriu esse espaço, e eu entrei – e acabou dando certo. Mas por que fiz essa escolha? Porque dentro do meu propósito e da minha devoção, percebi que, embora a medicina me permitisse ajudar as pessoas, meu alcance era limitado. Já na política, posso multiplicar esse impacto inúmeras vezes e beneficiar muito mais gente. Meu objetivo é justamente esse: ajudar as pessoas para construir um futuro melhor. Quero que Piracicaba tenha um momento de transformação, proporcionando qualidade de vida para a população e um mundo mais justo para os nossos filhos – os meus, os seus, os de todos nós.