Ela estava linda na semana passada. Mas bastou uma noite gelada para as folhas queimarem, escurecerem e caírem como papel velho. Quem cultiva plantas em regiões frias já viveu o pesadelo da geada — e, na dúvida, muita gente corre para podar tudo. Mas será que esse é mesmo o melhor caminho? A resposta pode surpreender quem acha que cortar é sempre sinônimo de recuperar. Aprender como salvar a planta que sofreu geada envolve observação, paciência e algumas medidas simples, mas muito eficazes.
Primeiros sinais de que a planta sofreu com a geada
O frio extremo da madrugada, aliado à umidade, provoca um congelamento nas células vegetais, causando a famosa “queima”. Em vez de murcharem como em períodos de seca, as folhas e caules ficam escurecidos, com uma textura molenga e aparência de podre. Ao toque, é comum que pareçam “cozidas”. A coloração muda rapidamente do verde saudável para tons de marrom, roxo escuro ou até preto.
Mas isso não significa que a planta está morta. É preciso entender que a parte aérea pode ser afetada enquanto as raízes continuam vivas. E é aí que mora a chave da recuperação.

Não tenha pressa: a planta precisa de tempo
A tentação de sair cortando tudo logo nos primeiros dias após a geada pode acabar comprometendo o que ainda está saudável. O melhor a fazer é observar a planta por cerca de 7 a 10 dias. Durante esse tempo, ela irá sinalizar sozinha quais áreas estão perdidas e quais resistiram. As partes murchas vão secar por completo, enquanto brotações novas podem aparecer mais perto da base ou em áreas menos expostas.
A dica é simples: só mexa quando tiver certeza do que está morto.
Avalie o solo e proteja as raízes
Mesmo que o topo da planta esteja severamente danificado, as raízes podem ter escapado do congelamento, especialmente se estiverem em vasos protegidos ou enterradas em solo mais profundo. Por isso, cubra a base da planta com palha seca, folhas secas ou manta térmica própria para hortas. Isso evita novos choques térmicos e ajuda a manter a umidade equilibrada.
Se o solo estiver encharcado por causa da geada, espere secar antes de regar novamente. Raízes encharcadas e frias são alvos fáceis de fungos.
Use bioestimulantes ou soluções naturais na sua planta
Na fase de recuperação, a planta precisa de ajuda para reagir. Bioestimulantes à base de algas, extratos vegetais ou aminoácidos podem ser aplicados nas raízes e nas poucas folhas que restaram. Para quem prefere opções naturais, o chá de camomila é um excelente tônico. Borrife levemente sobre a planta uma vez por semana, sempre ao entardecer.
Evite adubos muito fortes nesse momento, pois a planta ainda está frágil para metabolizar nutrientes em excesso.
Só pode o que estiver completamente seco
Após o período de observação, será mais fácil identificar o que realmente precisa ser removido. Partes que estiverem moles, escuras e com mau cheiro devem ser cortadas com tesoura esterilizada. Já os galhos que ainda apresentarem alguma firmeza ou cor verde sob a casca podem ser mantidos — eles podem brotar.
Faça cortes limpos e retos, sem desfiar o caule. Se possível, aplique canela em pó nas áreas cortadas para evitar a entrada de fungos.
Crie uma proteção contra futuras geadas
Depois da recuperação, vale investir em estratégias de prevenção. Uma estufa improvisada com garrafas PET cortadas, caixas de papelão, cobertores térmicos ou até lençóis pode ser montada sempre que a previsão indicar frio intenso. Lembre-se de remover a cobertura pela manhã para evitar o abafamento da planta.
Outra dica é posicionar os vasos próximos a paredes que recebem sol ou até dentro de casa, em locais com iluminação indireta.
Recuperar uma planta que sofreu com geada não é apenas um gesto de cuidado com a natureza — é também um exercício de observação e respeito pelo tempo de regeneração da vida. Nem tudo precisa ser cortado para recomeçar. Às vezes, o que parece perdido está apenas esperando o calor voltar.