Pouca gente associa lavanda com problema de umidade — afinal, essa planta é símbolo de leveza, perfume e elegância. Mas a verdade é que a lavanda é uma das espécies mais sensíveis ao excesso de água no solo, e quando o cultivo é feito em vasos ou jardins sem drenagem adequada, o resultado pode ser desastroso. Em poucos dias, ela perde o vigor, as folhas escurecem e o caule amolece. A culpa? Umidade demais. E isso acontece até nas mãos de quem jura estar cuidando direito.

Lavanda precisa de solo seco e bem drenado
Ao contrário de outras plantas de jardim que toleram regas mais frequentes, a lavanda é originária de regiões mediterrâneas, onde o clima é quente e seco. Isso significa que seu solo ideal deve ser arenoso, leve e com drenagem rápida. Se a água acumular nas raízes por muito tempo, ela apodrece silenciosamente.
É comum que os primeiros sinais de estresse por excesso de umidade passem despercebidos. A planta parece “murcha”, mas o solo ainda está úmido — o que leva muita gente a regar novamente. E esse é o erro fatal.
Como identificar excesso de umidade no cultivo da lavanda
Um dos primeiros sinais de alerta é o cheiro. Quando o substrato está constantemente encharcado, ele libera um odor levemente azedo ou de terra mofada. Outro indicativo é a cor das folhas: elas perdem o tom prateado típico e ficam opacas ou escuras, como se estivessem “lavadas”. Em casos mais graves, o caule começa a ceder, e a base da planta se desmancha ao toque.
Se você perceber que o solo está constantemente úmido, mesmo sem chuvas ou regas recentes, é sinal de que a drenagem está comprometida.
Erros mais comuns
Entre os equívocos mais frequentes está o uso de pratinho sob o vaso. Mesmo com furos, a água acumulada no pratinho acaba mantendo o substrato úmido por mais tempo do que deveria. Outro erro clássico é a rega em dias consecutivos, apenas por hábito, sem verificar se a terra secou.
O correto é sentir a terra com os dedos — ela precisa estar bem seca antes de receber água novamente. No verão, isso pode significar regar a cada 4 ou 5 dias. No inverno, até 10 dias podem ser necessários entre uma rega e outra.
Como salvar uma lavanda encharcada
Se sua lavanda já está mostrando sinais de podridão nas raízes, o primeiro passo é retirá-la do vaso com cuidado e verificar o estado do substrato. Raízes escuras, moles e com cheiro forte devem ser podadas com uma tesoura esterilizada. Em seguida, prepare um novo vaso com terra seca, leve, e se possível, adicione areia grossa ou perlita para facilitar a drenagem.
Evite usar adubo nesse momento de recuperação. A prioridade agora é permitir que a planta seque e reestabeleça o equilíbrio radicular. Coloque o vaso em um local com bastante sol e proteção contra chuvas. A lavanda precisa de algumas semanas para se recuperar — e nem sempre será possível salvá-la por completo, dependendo do estágio do apodrecimento.
A importância do local de cultivo
Mesmo com um solo perfeito, a lavanda pode sofrer se estiver em um ambiente úmido ou pouco ventilado. Sacadas fechadas, cozinhas ou varandas com pouca luz são ambientes prejudiciais. Prefira cultivá-la em locais com sol direto por pelo menos 6 horas por dia e boa circulação de ar. Essa planta gosta de calor e vento.
Em regiões úmidas do Brasil, como o litoral ou áreas serranas com neblina frequente, o cuidado deve ser redobrado. Nesses casos, pode ser interessante cultivar a lavanda em vasos suspensos, longe do chão, e protegidos por coberturas transparentes que evitem chuvas diretas.
Variedades mais resistentes à umidade
Embora todas as lavandas prefiram ambientes secos, algumas variedades têm maior resistência a oscilações climáticas. A Lavandula dentata, por exemplo, é mais adaptável ao clima tropical e pode tolerar um pouco mais de umidade do que a tradicional Lavandula angustifolia, muito cultivada na Europa.
Se você mora em uma região mais úmida, considerar essa variedade pode ajudar na longevidade da sua planta. Mesmo assim, a drenagem continua sendo essencial.
A lavanda não perdoa excesso de água, mas também não exige grandes intervenções. Seu segredo está no equilíbrio: um solo bem drenado, regas espaçadas e sol de sobra. Ao observar os sinais e respeitar seu ritmo, ela retribui com flores perfumadas e uma presença delicada no jardim. Mas basta errar na umidade para que toda a estrutura da planta comece a colapsar.
Cuidar de lavanda é também um exercício de escuta: o cheiro do solo, o toque nas folhas e o comportamento da planta dizem tudo. E quando aprendemos a ouvir, ela floresce com vigor e elegância.