Avião no zoológico encantou e marcou a infância dos piracicabanos









Certamente os mais antigos lembram-se daquele singelo avião que ficava no zoológico.

Inaugurado em 1 de agosto de 1971, o Zoológico Municipal de Piracicaba conta atualmente com uma infinidade de bichos. São cerca de 422 animais, sendo 70 espécies de aves; 30 espécies de mamíferos; mais dez diferentes espécies de répteis. Variedade não falta. E toda essa infraestrutura garante ao espaço trejeitos ímpares, capazes de contagiar não só aos adultos, mas também as crianças.

Apesar de toda a infraestrutura que envolve o Zoológico Municipal de Piracicaba, sua história tem um ponto curioso que até hoje chama a atenção de muitos piracicabanos: o avião.

Esta reportagem especial é uma sugestão de Mariana Penteado, leitora do PIRANOT / PORJUCA.

O avião

Embora ele chamasse a atenção de muitas crianças, sendo objeto de constantes brincadeiras – afinal, era possível entrar nele para brincar –, o avião do Zoológico Municipal de Piracicaba também conseguia chocar outras crianças por não atender às expectativas.

Às vezes não atendia às expectativas, pois seu interior era um espaço completamente vazio. Nada de bancos, nada de objetos típicos do universo da aviação, nada da realidade corriqueira. Ali, a repousar no Zoológico Municipal de Piracicaba, havia somente sua carcaça.

O avião era um Vickers Viscount 701A.

O modelo encontrava-se em operação pela VASP (Viação Aérea São Paulo) entre 1963 e 1969, matriculado sob a sigla PP-SRJ.

Alegria de muitas crianças, o modelo foi fabricado no ano de 1953 pela companhia inglesa Vickers-Armstrongs.

Sua venda para a VASP veio a se concretizar logo depois, após muitos anos de operação em linha doméstica.

As atividades da VASP encetaram na manhã do dia 4 de novembro de 1933 (mesma época das famosas eleições pela autonomia do País Basco, que resultaram na aprovação de 97% de seus eleitores), e encerraram-se por completo em 26 de janeiro de 2005, após o Departamento de Aviação Civil (DAC) cassar sua autorização de operação.

O Vickers Viscount 701A ficou estacionado em Congonhas até o ano de 1974, quando foi, finalmente, transportado ao Zoológico Municipal de Piracicaba em 1975, onde permaneceu exposto.

Foto: Paulo Renato

Estado de abandono

Desde o dia em que o avião foi transportado ao Zoológico Municipal de Piracicaba, o que sempre se constatou sobre a aeronave foi seu estado de total abandono.

O avião foi não só um ícone na história piracicabana, mas, principalmente, um ícone na história da aviação, tendo sido o primeiro avião comercial a usufruir de um sistema de turboélice (substituindo, assim, os motores a pistão).

E a VASP só o doou ao município de Piracicaba após alegar finalidade “cultural e educativa”.

Na década de 80, segundo informações do piloto Ulisses Begri, seus motores foram retirados em comum acordo com a prefeitura municipal. Apesar de não saber informar o ano exato da negociação com a prefeitura, Begri afirma que tudo foi feito sob as linhas de um contrato, e mais, num período em que ele esteve trabalhando para o aeroclube de Boituva.

Por mais que a prefeitura de Piracicaba tivesse planos de reformar o avião, faltava-lhe dinheiro. Por isso, deteriorado, o avião foi retirado definitivamente do zoológico e leiloado pelo valor mínimo de R$ 8,000 reais.

Em seus últimos anos, o avião já não possuía mais seus motores Rolls-Royce Dart, tampouco o mínimo de cuidado necessário a ponto de receber crianças em seu interior para brincadeiras saudáveis. Tamanho abandono, o avião já havia até se tornado um perigo à segurança pública.

O que sabemos é que um passado de glórias ficou para trás, e, hoje, o que resta aos piracicabanos são lembranças de outrora.

Final

De acordo com uma declaração dada na primeira metade dos anos 2000, o então presidente da ABAAC (Associação Brasileira de Aeronaves Antigas e Clássicas), Ian Thomas Comber, declarou que a situação do avião já havia passado do comprometimento e que, por estar inteiramente podre, “seu custo de recuperação seria enorme”.

O avião foi à venda e acabou sendo adquirido pela Prefeitura de Araçariguama, cidade a 54 quilômetros da capital paulista, onde funcionava como um cinema.

Foto: Paulo Renato




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