Pedro Kawai: “as redes sociais estão trazendo grandes problemas para o poder público”

Pedro Kawai




Pedro Motoitiro Kawai nasceu em Piracicaba no dia 05 de março de 1971. Com Ensino Superior completo em Administração de Empresas, pelo Centro Universitário UniSEB, Pedro Kawai é atualmente vereador no município. Ele recebeu o jornalista Rafael Fioravanti, do PIRANOT, em seu gabinete no prédio da Câmara para discutir questões relacionadas à saúde de Piracicaba, crise no Semae e projetos sociais. Confira abaixo a entrevista na íntegra.





Foto: Wagner Romano / Jornal PIRANOT

Conte um pouquinho da sua trajetória até o momento.
Comecei na política muito cedo, me envolvendo com movimento estudantil e grêmio no colégio. Mas minha vida pública só começou com a Colônia Japonesa, principalmente na época da eleição da Márcia Pacheco e da Cida Abe. Tínhamos uma ligação muito próxima com ambas as candidaturas. Fui para o Japão em 1992, voltei em 2002, e no ano de 2003 o Thame me convidou para sair candidato. Ele achava que a Colônia Japonesa aqui em Piracicaba tinha que ter um representante seu, e não somente receber apoio de alguém. Por isso decidi aceitar o desafio. Fui candidato em 2004 e fiz 543 votos. Foi um número legal, achei interessante principalmente por ter passado dez anos fora da cidade. Posteriormente, Barjas foi eleito e no começo de 2006 ele me chamou para fazer a gestão da Estação da Paulista. Foi aí que tudo começou de fato, porque me envolvi com Conselho de Cultura, Conselho da Criança e do Adolescente (uma área que me identifiquei muito e que compreende cerca de 40 entidades sociais).

Então seu começo na política foi principalmente para representar a Colônia Japonesa?
Essa era a ideia inicial, posteriormente acabei me direcionando à área da Criança e do Adolescente. Como se trata de uma área onde lidamos com praticamente tudo (saúde, educação, meio-ambiente, esporte, cultura, etc) me sinto motivado para trabalhar. É uma rede de atendimento, uma coisa sempre complementando a outra. E foi como jogar gasolina no fogo, porque estou até hoje aí. Em 2008 tive outro campanha, onde pulei de 543 para 1200 votos. Foi aí que eu pensei: “se eu conseguir dobrar de novo, estou eleito!” Então, no ano de 2012 me elegi com 2300 votos.

Alguém em sua família já trilhou carreira na política, ou o senhor foi o primeiro?
Nunca! Meu pai até tentou em 1980, mas não deu certo. Ele conta até hoje que só não foi eleito, pois na época não aceitavam nome fantasia, apenas nome de registro. Meu pai é conhecido como Pedro Fuji (por causa da Foto Fuji, que eles fundaram), só que o nome verdadeiro dele é Naoki Kawai. O nome de cédula dele tinha que ser Naoki Kawai, por isso acabou não dando certo. Mesmo assim o pessoal que contou os votos fala que Pedro Fuji foi muito bem votado, só que infelizmente os votos eram anulados porque não valia. Foi a única tentativa na minha família. Agora quando o assunto é trabalho social, minha família sempre esteve muito envolvida nisso. Meu pai foi um dos fundadores da Apac (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados), ele presidiu a Casa do Bom Menino por 11 anos e presidiu também a Colônia Japonesa (Clube Cultural Nipo Brasileiro de Piracicaba) de 1992 a 2000. Já minha mãe tem envolvimento na Igreja dos Frades. Todos são envolvidos com projetos sociais.

Como vereador, qual projeto de sua autoria o senhor julga mais benéfico à cidade de Piracicaba?
Quando eu trabalhava de assessor na Secretaria da Cultura, ajudei a organizar a Virada Cultural aqui em Piracicaba e sempre tivemos uma preocupação muito grande com pessoas com deficiência e idosos. E no meu primeiro ano de mandato, saiu uma manchete de capa no jornal que dizia que uma menina chamada Isabela não havia participado da Virada Cultura aqui no município, porque não existia atendimento adequado a ostomizados. Eu pensei: “caramba, nós tivemos tanta preocupação com essas coisas, como é que isso passou?” Ela me disse que era uma pessoa ostomizada e só aí fui descobrir que se trata da famosa “bolsinha”. Comecei a ter mais contato com esse pessoal, conheci as dificuldades deles e criamos a carteirinha de identificação para ostomizados. A ostomia é uma deficiência já por normativa federal, só que se trata de algo escondido. A pessoa pode ser ostomizada, mas ninguém vê que ela está com uma “bolsinha” por baixo da roupa. Nisso a pessoa chegava na fila preferencial de algum evento, acaba questionada na frente de todo mundo e tinha que mostrar a “bolsa”. Era desagradável. Aí surgiu a ideia de criarmos a carteirinha de identificação regulamentada com CID a essas pessoas.

Além desse projeto, há algum outro?
Participei da criação da Semana da Alienação Parental na Santa Casa e também de uma lei que ficou conhecida como “Boate Kiss”, que diz que todo ambiente público deve ter visível uma placa informando a capacidade máxima do local e o telefone da Defesa Civil. Se qualquer pessoa chegar em um local super-lotado e se sentir insegura, pode denunciar. Tudo isso foram avanços.

Qual seria a maior dificuldade que o senhor sente atuando na Câmara?
Eu procuro ser um cara muito presente e foi justamente essa presença que me elegeu — seja no dia-a-dia das pessoas, na Colônia Japonesa, nas entidades ou em qualquer outro lugar. E minha maior dificuldade atualmente é manter essa presença. O mandato tomou uma proporção muito grande. Meu dia começa às 07h e antes das 22h eu não chego em casa. Minha maior dificuldade é continuar mantendo esse tipo de atendimento e proximidade com as pessoas. Já outra grande dificuldade é conseguir entender e alinhar o trabalho com o reflexo das redes sociais. Acho que as redes sociais estão trazendo hoje grandes problemas para o poder público.

Problemas em que sentido?
Acho que a população ainda não está preparada para analisar a situação. Na época da campanha, surgiram algumas fake news (notícias falsas) e eu até brinquei com as pessoas dizendo: “pegue na internet uma foto qualquer que mostre um cachorro maltratado e fale que foi o seu vizinho que maltratou o animal, você vai ver a repercussão que isso vai gerar.” Ninguém vai querer saber se é verdade ou se é mentira, o povo já vai passar a compartilhar e a detonar o seu vizinho. Como pessoa pública, eu sei que corro esse risco; e estando sujeito a isso, considero essa questão desumana. Se fosse uma questão apenas pessoal, tudo bem, até entendo. O problema é que envolve família também. Minha família também acaba exposta a essa situação e também acaba sendo cobrada.

A questão da saúde é uma das principais preocupações dos leitores do PIRANOT, todos os dias nós recebemos várias mensagens e denúncias em relação a essa área. Eu quero que o senhor faça um breve relato do seu trabalho em prol da saúde aqui em Piracicaba.
Depois do meu terceiro ano de mandato, fui para a Comissão de Saúde da Câmara. Lá eu comecei a acompanhar as coisas mais de perto, e percebi que o grande problema da saúde não só em Piracicaba, mas em todo o Brasil, é a questão da prevenção, da saúde primária e da atenção básica. Ou seja, todos remediam, mas ninguém previne. Esse é o problema. E com o crescimento do desemprego e da crise, o SUS acabou ficando sobrecarregado. Então aqui em Piracicaba não seria diferente. Claro que ainda há muito a ser melhorado aqui em Piracicaba, porém o município está num nível bom no que concerne à saúde. Analisando as coisas dessa maneira, comecei a trabalhar e a procurar parcerias para fomentar a prevenção. Fiz parcerias com institutos para prevenção da DST/AIDS em dezembro aqui no município (o Dezembro Vermelho), inclusive Piracicaba foi uma das primeiras cidades do Brasil a lançar essa campanha. Trabalho também na questão da saúde do homem, por meio do Novembro Azul. Há também o Julho Amarelo, enfim, sempre procuro trabalhar na prevenção unindo parceria privada e Prefeitura.

Então, o senhor vê a saúde em Piracicaba de forma boa?
No geral, a saúde no município está bem. Por exemplo, vamos comparar Piracicaba com Campinas. Lá está um caos, tanto que está acontecendo até sindicância de atendimentos em UTI neonatal, porque não há pediatra. Precisamos entender que Piracicaba é um polo e atende várias cidades, mais de 50 indiretamente. Claro, falta melhorarmos muita coisa, porém Piracicaba é um município que ainda se preocupa com essas coisas. Só o fato do município não usar apenas 15% do orçamento na saúde — mas quase 30% — já mostra a preocupação do Poder Público no que concerne à saúde. Precisa melhorar? Precisa! Mas há muita coisa na área da saúde melhorando por aqui. Uma prova disso é que tem muita gente de fora vindo buscar atendimento aqui.

Se o senhor tivesse que dar uma nota ao atual governo Barjas Negri, que nota seria e porquê?
Eu daria nota 09 para o Barjas. Ser prefeito numa cidade do tamanho de Piracicaba é complicado, pois existe a necessidade de se fazer uma gestão focada no atendimento à população. Só que a população do município ainda não consegue entender que o buraco na rua da casa dela é menos importante que a construção de uma Avenida Armando de Salles Oliveira, por exemplo. O prefeito do município deve ser frio e, ao mesmo tempo, político para indicar as prioridades de seu mandato. E Barjas consegue fazer isso. Ele apanha muito, erra como todo prefeito erra, mas sempre busca resolver prioridades. Outra coisa que as pessoas não percebem: subiu o orçamento de 1,5 bilhão para 1,7 bilhão. Aí há reclamações pelo fato de ter subido também a arrecadação no município. Tudo bem, subiu, mas e o custeio do município? O Barjas consegue equilibrar o aumento de custeio, pagar os funcionários em dia (até porque se pararmos de pagar o funcionalismo público, a Prefeitura para) e ainda consegue prestar um atendimento razoável ao município. Por isso dou nota 09. Piracicaba está em um bom nível de atendimento, mesmo com algumas dificuldades existentes. Acho Barjas muito estrategista, muito político e também muito presente.

Um problema que muito tem causado barulho aqui em Piracicaba é a constante falta de água no município. Somado a isso, a não instauração da CPI do Semae enfureceu muito os piracicabanos. 12 vereadores foram contra a CPI, e apenas dez foram a favor. Como o senhor enxerga essa questão?
Na época, fui muito criticado por um vídeo que postei onde explico o porquê de ter votado contra a CPI do Semae. Eu vejo que o Semae está passando por um momento muito delicado, mas não por problemas de gestão ou roubo. Acho que o Semae enfrenta um problema por conta do crescimento da cidade e também por conta da falta de investimentos lá atrás. Isso na minha opinião. Votei contra a CPI, porque esse problema todo começou no Natal de 2018. Piracicaba conta atualmente com duas estações de fornecimento de água: Capim Fino (que capta água do Rio Corumbataí) e Beira-Rio (que capta água do Rio Piracicaba); além disso, Piracicaba é dividida em seis regiões de abastecimento, sendo que só a estação Capim Fino abastece quatro. Resumindo: se der problema no Capim Fino, dá problema praticamente na cidade toda. E às vezes, quando enfrentamos problemas de estiagem, o nível do Rio Piracicaba desce muito, e a estação Capim Fino acaba tendo que abastecer a estação Beira-Rio também. Sem falar que houve muito consumo de água nos meses de janeiro e fevereiro por conta do período de calor. Politicamente falando, a gente entende que a oposição tem que se apegar às falhas da situação, isso é natural do jogo político. E foi assim que eu enxergo tudo isso: a oposição se apegando ao momento turbulento do fornecimento de água para poder atacar o governo. Nessa época (dezembro e janeiro), a Câmara estava em recesso parlamentar, e assim que chegamos à primeira Sessão Camarária, que foi quando voltamos do recesso, já havia sido protocolado um pedido de Comissão de Estudo, um pedido de audiência pública e mais um pedido de suspensão de expediente para que o presidente do Semae pudesse explicar o que estava acontecendo. Então já havia três momentos de discussão para que tentássemos entender o que estava acontecendo no Semae. Por isso julguei que não precisávamos de uma CPI naquele momento. E por ora continuo achando que não precisa. Por que vou fazer mais uma CPI sendo que tenho essas três opções em mãos? Eu não ia votar nunca numa CPI enquanto que não fosse discutido a Comissão de Estudos — protocolada inclusive pelo Laércio Trevisan, um vereador da oposição.

Então, o senhor analisa tudo isso como um jogo político?
No momento foi um jogo político. Se a comissão de estudos apresentar todo o seu trabalho e o pessoal que propôs a CPI continuar achando que não foi suficiente e ainda insistir numa CPI, aí é outra discussão. Aí eu até entendo. É o que falei: eu ouço os dois lados, entendo e me coloco. Aí eu vou entender que não se trata mais de um jogo político, mas de uma discussão técnica. Tanto é que mesmo depois da presença do Rubens [presidente do Semae] e mesmo depois da audiência pública, votei a favor da Comissão de Estudos e fui participar dela — eu quero entender o que está acontecendo. Com todo respeito ao Ministério Público, eu acho que ele poderia esperar todos os relatórios da comissão para depois abrir o inquérito que julgasse necessário, e não abrir um inquérito ainda com duas denúncias. Daqui a pouco haverá 50 inquéritos contra o Semae e isso atrapalha não só o Judiciário, como também o próprio Semae. Mas entendo também que isso é uma opção do Ministério Público.

Se tivéssemos que mencionar uma pessoa que o inspirou não só profissionalmente, mas como pessoa, quem seria?
Meu pai! Não tenho dúvidas! Se eu conseguir fazer à população de Piracicaba metade do que o meu pai fez, sou um cara feliz. Estarei realizado. Meu pai sempre pensou no coletivo, seja no menor abandonado seja na reintegração de um presidiário na sociedade. Ele sempre foi uma pessoa política e articuladora. Meu pai é um cara que me inspira muito.

E ele é japonês nato?
Não, ele é filho de japoneses. Ele nasceu em Rancharia, próximo de Presidente Prudente.

E quando o assunto é personalidade pública? Em quem procura se espelhar?
Mário Covas. Ele era um cara de força muito grande e que agregava, já li a biografia dele duas vezes. Já no exterior, gosto muito de Barack Obama (por sua história e poder de decisão) e Nelson Mandela (por tudo que enfrentou).

Foto: Wagner Romano / Jornal PIRANOT
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