POLÍCIA FEDERAL EMPAREDA BOLSONARO
Na mesma manhã de quarta-feira, que a coluna anterior era publicada, Silvinei Vasques, ex -diretor da PRF, foi preso em sua casa em Santa Catarina. A operação foi deflagrada após peritos da Polícia Federal restaurarem mensagens de agentes subordinados a ele, com ordens para realizar barreiras em municípios que obtiveram votações no primeiro turno, superiores a 75% ao então candidato petista. Nesses celulares, foi encontrado o mapeamento com tais dados, realizado pela delegada da PF, Marília de Alencar, assessora do ex-ministro Anderson Torres, que tentou apagá-lo e negou sua existência. Mais uma evidência que coloca Anderson Torres na mira da justiça por um novo inquérito.
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Relatório obtido pela imprensa, mostra que a PRF fiscalizou 2.185 ônibus no Nordeste, onde Lula (PT) era favorito, contra 571 no Sudeste, entre 28 e 30 de outubro, o que contradiz a versão apresentada por Silvinei à CPI dos atos golpistas. O número é revelador quando comparado à proporção populacional de cada área. Em um dos episódios, o prefeito de Jacobina, município baiano, denunciou em suas redes sociais, o fechamento das entradas da cidade pela PRF, que parava absolutamente todos os veículos. Intimidando aqueles que porventura estivessem com qualquer problema de conservação, atrasando os trabalhos eleitorais. Silvinei Vasques foi informado que terá sua aposentadoria, bastante precoce, diga-se de passagem, cassada e que poderá ter que ressarcir os cofres públicos com as operações,, caso seja comprovada sua culpa. O potencial estímulo para uma delação premiada não é pequeno.
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Na sexta-feira da mesma semana, a polícia realiza operação contra aliados de Jair Bolsonaro, em busca de evidências sobre vendas de jóias recebidas pelo ex presidente brasileiro, em visita ao ditador da Arábia Saudita, possivelmente revendidas pelo seu ajudante de ordens, Mauro Cid e seu pai, o general de 4 estrelas Mauro de Lorena Cid que aparece no reflexo de uma das fotos feitas para anúncio de um dos itens. Algo que seria vexatório por si só, mas que deveria chocar mais do que tem ocorrido, ao se revelar um possível crime envolvendo um membro do Estado Maior do Exército, que até então decidiu se calar, contrastando com a verborragia que exibia quando questionava as urnas eleitorais.
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Em ambos os casos, adicionam-se inúmeros atores que aumentam significativamente a complexidade jurídica da defesa e o risco de delações. Aliados de Bolsonaro ensaiam uma resposta com fracos argumentos de que o TCU entendia aqueles presentes como itens pessoais (o que não é verdade), mas ainda há uma clara dificuldade de tergiversar sobre os fatos descobertos. É bastante difícil imaginar que jóias de 17 milhões, transportadas de maneira escondida, seriam lidas como itens de uso pessoal. Qualquer servidor público sabe que bens de alto valor, não podem ser incorporados ao seu patrimônio. De qualquer forma, Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, partido do ex -presidente, condenado no Mensalão, saiu em sua defesa, atestando a irretocável honestidade da principal figura política de seu partido.
GENERAIS, JOIAS E O VERSÍCULO BÍBLICO;
De todos os inúmeros inquéritos envolvendo Bolsonaro, este talvez seja o que possa lhe causar maiores problemas imediatos, dada a complexa configuração de assessores pessoais, envolvidos em inexplicáveis esquemas de movimentações financeiras em dinheiro vivo, viagens e manipulação de jóias com valores surpreendentes. Ao menos uma delas, que ficou corretamente retida no Aeroporto de Guarulhos por um inexpugnável e corajoso servidor público, que não se intimidou com a investida de generais e autoridades que tentaram retirá-la, estava avaliada em 17 milhões de reais, o que, comparando com os valores do triplex tão citado no processo de seu adversário, daria fácil para comprar 10 deles. A grande diferença deste inquérito é que ele fornece argumentos robustos para a Polícia Federal pedir a quebra de sigilo não só de Bolsonaro e Michele, como de seus assessores mais próximos e de todos aqueles que estiveram no caminho do dinheiro. O que pode revelar um extenso e complexo novelo.
GENERAIS, JOIAS E O VERSÍCULO BÍBLICO 2;
Ironicamente, a PF nomeou a operação envolvendo os assessores próximos de Bolsonaro, nos casos das jóias, de ‘Lucas 12:2’ , fazendo alusão a um versículo bíblico que afirma que nada permanece escondido para sempre. A trama, por incrível que pareça, envolve situações que facilitaram o trabalho dos investigadores. Desde a foto do general com a peça a ser vendida, até recibos em nome do advogado da família Bolsonaro e check-in no Foursquare, de Mauro Cid, em viagem para colocar as jóias na casa de leilões que chegou a exibi-las em seu site. A situação é tão explosiva que fez Bolsonaro desistir de chamar manifestações para o próximo dia 07 de setembro, o que poderia expor seu desgaste político, antecipando a sucessão de seu legado político.
HADDAD DERRAPA COM LIRA
O arcabouço fiscal que estava para ser votado hoje, sofreu um revés após Haddad dar declarações criticando o poder excessivo da Câmara, o que obviamente, revelou-se desastroso e deu a Lira, munição para se mostrar indignado e solicitar mais benesses para reabrir a votação com menos estragos. Essa é a primeira vez que Haddad, que até então surpreendeu como articulador, derrapa na relação com a Câmara. Não que esteja errado em sua colocação, mas certamente a fez no momento mais inoportuno possível.
MERCADOS ASSUSTADOS, BOLSA EM QUEDA E DÓLAR ALTO
A semana tem sido especialmente complexa no âmbito econômico, com notícias dos exterior e dúvidas fiscais internas. A queda na expectativa de crescimento do PIB e dúvidas sobre alterações do arcabouço fiscal pelo Congresso, têm mexido com as expectativas fiscais do mercado e feito a bolsa ter quedas sucessivas, que não se viam há muito tempo. O quadro agrava-se quando olhamos para fora e vemos que a China dá sinais de redução no crescimento e possível calote em uma das suas maiores incorporadoras imobiliárias, que pediu o atraso do pagamento de suas obrigações. As exportações chinesas seguem em queda e o desemprego juvenil cresce tanto que o governo sino suspendeu a divulgação de dados. Um cenário que não é nada animador para um País como o Brasil, que tem na China, seu principal parceiro econômico. Nesta terça (15) seu banco central anunciou o maior corte de juros desde a pandemia, o que fará os mercados terem amanhã, mais um dia amargo.
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As notícias vindas da Argentina, não ajudaram em nada o cenário econômico brasileiro, que vê mais um de seus grandes parceiros comerciais, caminhar a passos largos para condições de maior incerteza econômica que a atual, ao escolherem em primeiro lugar em suas eleições prévias, o excêntrico e inconsequente Javier Milei, candidato de extrema direita que prega, dentre outras coisas, a extinção do banco central e a dolarização total da economia argentina, que mal possui dólares para arcar com seus compromissos atuais, quanto mais para uma dolarização completa.
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A dolarização, que já se revelou bastante desastrosa na década de 90, é ideia fixa de Milei, que ressuscitou até Domingo Cavallo, economista que cometeu o mesmo erro outrora. Não bastasse as idéias pouco ortodoxas na economia, Javier afirma ainda, tomar decisões com base em consultas de tarot e parapsicólogos que permitem que ele se comunique com seu cão morto, que lhe dá dicas de como agir. O mercado argentino viu o dólar disparar e seus juros subirem a 118% ao ano, com o temor das ideias radicais do ultra direitista. Se a tradição política argentina se repetir, de que aquele que vence as prévias, se sagra presidente meses após, Javier Milei terá oportunidade de experimentar algumas de suas maluquices no poder. Entretanto, ele não terá maioria no Congresso, uma vez que a Argentina segue o padrão americano, com o descasamento da eleição presidencial e o pleito de seus deputados e senadores.
APAGÃO NO SISTEMA ELÉTRICO
O Brasil amanheceu com uma pane generalizada em seu sistema elétrico, com impacto de norte a sul , que demorou praticamente o dia todo para ser normalizado. Todos sabemos que apagões como este são bombas de grande impacto em qualquer governo. Certamente, a oposição que vinha de uma semana de revezes jurídicos de seu principal expoente, ficou aliviada momentaneamente com o acontecimento, que lhe permitiu tecer ácidas críticas ao governo e ter assunto para desviar o foco das operações policiais da semana passada. Entretanto, a ocorrência de hoje possui alguns pontos bastante diferentes das anteriores: (1) os reservatórios estão cheios; (2) a Eletrobras hoje é uma empresa privada e o governo, embora detenha participação acionária, não tem mais assento em. O Ministro de Minas e Energia que estava no Paraguay e que teria reuniões sobre o tema, retornou imediatamente ao Brasil e pediu que a PF e Abin investiguem suas causas. Ao longo da semana, podemos ter muitos desdobramentos deste tema para a próxima coluna.
Até semana que vem, caros leitores!
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