O recente Panorama Geral das Pontes Rodoviárias Brasileiras trouxe à tona um dado alarmante: ao menos 11 mil pontes no país estão em condição crítica, representando um alto risco estrutural. Além disso, outras 42 mil estruturas já ultrapassaram meio século de existência, exigindo atenção especial para evitar colapsos e tragédias como a que ocorreu na Ponte Juscelino Kubitschek, no Rio Tocantins, em dezembro.
O desabamento da ponte, que deixou 14 mortos e três desaparecidos, reacendeu o debate sobre a falta de inspeção e manutenção preventiva dessas infraestruturas.
Diante desse cenário, o presidente do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), Vinícius Marchese, fez um alerta sobre a necessidade urgente de fiscalização contínua e medidas preventivas para evitar novas tragédias.
“Esse levantamento aponta questões que precisam de atenção imediata. Muitas dessas pontes possuem mais de 50 anos e precisam de inspeção e manutenção. Onze mil delas já estão em estado crítico, assim como a Ponte JK, que apresentava problemas estruturais antes do colapso. Não podemos permitir que essa situação se repita. Venho alertando as autoridades para que isso não aconteça novamente”, afirmou Marchese.
O presidente do Confea destacou ainda a necessidade de inspecionar as quase 114 mil pontes existentes no Brasil, garantindo a segurança da população e da infraestrutura viária.
A realidade das pontes no Brasil
O levantamento que revelou o estado precário das pontes no país foi baseado em dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp).
Os números mostram um cenário preocupante:
📌 Apenas 12.142 pontes passaram por alguma inspeção técnica
📌 1.039 estruturas analisadas foram consideradas em situação crítica ou ruim
📌 A maioria das pontes municipais e estaduais não têm registros detalhados sobre sua conservação
Para especialistas, a falta de monitoramento contínuo dessas estruturas impede que sinais de deterioração sejam detectados e corrigidos a tempo.
O engenheiro Ademir Santos, um dos responsáveis pelo estudo, reforçou que o Brasil não conhece a real situação de grande parte de suas pontes, especialmente as que são de responsabilidade municipal ou estadual.
Risco estrutural e capacidade de carga ultrapassada
Outro fator preocupante apontado pelo estudo é que muitas pontes foram projetadas para cargas menores do que as suportadas atualmente.
🔸 Infraestruturas antigas foram projetadas para veículos de até 36 toneladas
🔸 Atualmente, o tráfego suporta veículos de até 45 toneladas
Esse aumento progressivo no peso dos caminhões pode comprometer a resistência estrutural de diversas pontes, agravando ainda mais o risco de colapso.
“A ponte nunca cai de repente, sempre ‘avisa’. O problema é que esses sinais nem sempre são detectados ou levados a sério a tempo de evitar uma tragédia”, alertou Mario Esper, presidente da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Plano de manutenção e orçamento insuficiente
Diante do cenário crítico, o Dnit anunciou a reestruturação do Programa de Manutenção e Reabilitação de Estruturas, com previsão de um investimento de R$ 5,83 bilhões para recuperação de 816 pontes em estado crítico ou ruim.
No entanto, especialistas apontam que esse montante está longe do necessário. Segundo estimativas, o Brasil precisaria de R$ 38 bilhões anuais para garantir a reabilitação de suas pontes de forma adequada.
Além disso, um manifesto publicado por sete associações nacionais de engenharia e infraestrutura defende a criação de um plano nacional de reabilitação e um orçamento específico para garantir a segurança dessas estruturas no longo prazo.
Marchese defende fiscalização e manutenção preventiva
Para o presidente do Confea, a única maneira de evitar novos colapsos e tragédias é investir em fiscalização e manutenção preventiva.
“Não podemos continuar apenas reagindo a desastres. Precisamos agir antes que novas tragédias aconteçam. É necessário um plano de inspeção nacional para mapear as condições reais das nossas pontes e garantir sua recuperação antes que colapsem”, concluiu Vinícius Marchese.