Sob a atual gestão de Daniela Beyruti, filha de Silvio Santos, o SBT vive mais uma turbulência em sua estrutura interna e na imagem pública. A emissora atravessa sua terceira grande reformulação de grade em menos de dois anos, enfrenta a saída de nomes importantes como José Luiz Datena — que pediu demissão após descontentamento com a direção —, e agora vê até mesmo o tradicional Troféu Imprensa ser alvo de críticas por supostamente deixar de ser um prêmio da imprensa nacional para se tornar um evento de autopromoção do próprio canal.
Criado nos anos 1950 e adquirido por Silvio Santos nos primórdios da fundação do SBT, o Troféu Imprensa sempre foi celebrado por seu diferencial: premiar profissionais e atrações de todas as emissoras brasileiras com base na opinião de jornalistas convidados. Mesmo sendo exibido pelo SBT, a proposta era reconhecer talentos da comunicação como um todo — algo que Silvio Santos defendia com firmeza, ao ponto de interferir ao vivo quando percebia votos tendenciosos entre os jurados.
Neste ano, porém, a premiação ganhou contornos diferentes. Em uma edição marcada por forte presença de atrações da casa, o SBT abocanhou cerca de 22 estatuetas, deixando a Globo com 12 prêmios, a Band com dois e a Record e a Netflix com um para cada.
Entre as vitórias do SBT, chamaram atenção:
Melhor programa diário de variedades: Fofocalizando, superando Mais Você (Globo) e Hoje em Dia (Record).
Melhor telejornal: SBT Brasil, vencendo Jornal Nacional (Globo) e Jornal da Record.
Melhor jornalista: César Filho, atualmente no SBT, mas com passagem recente pela Record.
A votação gerou reações negativas nas redes sociais, com muitos internautas questionando a imparcialidade dos jurados — 12 no total — e a credibilidade da premiação. O contraste com o legado de Silvio Santos, que exigia isenção até nas decisões ao vivo, foi amplamente comentado.
Blogueirinha expõe bastidores e desabafa ao vivo
Um dos momentos mais comentados da noite foi protagonizado pela personagem Blogueirinha, interpretada pelo influenciador Bruno Matos. Ao ser questionada por Patrícia Abravanel sobre ter recusado um programa no SBT, ela foi direta: “Claro que eu recusei! Porque a grade toda que vocês me mostraram já saiu do ar. Eu ia entrar onde? No limbo?”
O comentário foi uma referência direta ao Programa da Virgínia Fonseca e Lucas Guimarães, que também teve vida curta na emissora. Virgínia, por sua vez, optou por seguir para a Globo, onde estreará um quadro no Fantástico. O desabafo viralizou nas redes sociais e colocou novamente o SBT em rota de colisão com sua audiência mais crítica.
Ratinho entra em cena (mais uma vez) para conter danos
Diante da enxurrada de críticas, a emissora escalou Ratinho — já experiente em gerenciar crises na casa — para justificar os resultados e acalmar os ânimos. Durante a transmissão, ele afirmou:
“A Globo faz o ‘Melhores do Ano’ com os artistas da Globo. Por que o SBT não pode ter o seu Troféu Imprensa premiando seus próprios talentos?”
A fala, porém, acentuou a crítica de que o Troféu Imprensa estaria perdendo sua essência de prêmio da imprensa brasileira e se transformando num evento de consagração interna, à semelhança da premiação da Globo — que, ao contrário do que o nome sugere, restringe-se exclusivamente ao próprio elenco e produções.
Um legado sob risco
Historicamente, o diferencial do Troféu Imprensa era justamente dar voz a diferentes veículos e premiar todos os segmentos da comunicação, incluindo artistas de outras emissoras, jornalistas, apresentadores e até, mais recentemente, criadores de conteúdo da internet. Neste ano, a Netflix, representando o streaming, foi contemplada pela primeira vez — o que indica abertura para novas mídias, mas também não foi suficiente para equilibrar os números que apontaram uma premiação fortemente dominada pelo próprio SBT.
Críticos apontam que, num momento de fragilidade da emissora, o uso da premiação como ferramenta de marketing interno — em vez de plataforma plural de reconhecimento — acaba prejudicando a reputação da casa e enfraquecendo a iniciativa criada para exaltar o conjunto da comunicação brasileira.