A morte de Silvio Santos, aos 93 anos, surpreendeu o público não apenas pela perda de um dos maiores ícones da televisão brasileira, mas também pela forma como o SBT, emissora que ele fundou e comandou por décadas, tratou a notícia. Enquanto outras emissoras, como Globo, Record e Band, interromperam suas programações para entrar em plantão ao vivo, o SBT manteve sua grade regular, transmitindo desenhos animados, o que gerou perplexidade e críticas nas redes sociais.
A atitude do SBT em relação à morte de Silvio Santos contrasta fortemente com a forma como a emissora tratou a morte de outros grandes nomes da televisão ao longo dos anos. Em 1986, por exemplo, quando o apresentador Flávio Cavalcanti faleceu, o SBT tomou a decisão de suspender sua programação por 24 horas em sinal de luto. O gesto foi considerado um marco de respeito e admiração pela trajetória de Cavalcanti, que havia sido uma figura de grande relevância para a TV brasileira.
Em 2009, a morte de Luiz Lombardi Netto, o icônico locutor que deu voz a Silvio Santos por décadas, foi tratada com grande reverência. A emissora alterou sua programação para exibir especiais que relembravam a trajetória de Lombardi, destacando sua importância para o SBT e sua proximidade com Silvio.
O mesmo tratamento foi dispensado a Roberto Gómez Bolaños, o eterno “Chaves”, em 2014. Bolaños, cujo seriado conquistou gerações de brasileiros, recebeu uma cobertura extensa, com maratonas de seus programas e especiais sobre sua vida e obra. Hebe Camargo, em 2012, e Gugu Liberato, em 2019, também foram homenageados com uma vasta cobertura, incluindo reportagens emocionantes e programas dedicados exclusivamente a relembrar suas contribuições à televisão. Da morte de Lombardi, Hebe e Gugu, o SBT transmitiu, inclusive, os sepultamentos. No caso de Hebe, ajudou a organizar o velório.
A quebra de protocolo na despedida de Silvio Santos
Diante desse histórico, a ausência de um plantão imediato para noticiar a morte de Silvio Santos causou espanto. A notícia foi primeiro divulgada pelas redes sociais da emissora, e somente após a pressão dos internautas, que criticaram a falta de uma cobertura ao vivo, o SBT decidiu colocar a repórter Simone Queiroz no ar para anunciar o falecimento.
A repórter, visivelmente abatida, justificou a demora explicando que o canal estava se preparando para entrar ao vivo e que a decisão inicial de não interromper a programação seguia um suposto desejo de Silvio Santos. A emissora afirmou em nota oficial que Silvio havia pedido um sepultamento judaico, sem velório público, e que a divulgação deveria ser feita de forma discreta.
Reação nas redes sociais
Nas redes sociais, a reação foi imediata. Internautas começaram a postar capturas de tela comparando a cobertura da Globo, que já havia acionado seu plantão, com a do SBT, que seguia transmitindo sua programação infantil. A indignação aumentou quando a notícia foi finalmente dada ao vivo, e muitos questionaram por que o SBT não seguiu o padrão de reverência que havia adotado em casos anteriores.
O contraste gerou um debate sobre a maneira como a emissora tratou a morte de seu próprio fundador, uma figura central na história da televisão brasileira. Para muitos, a decisão de não interromper imediatamente a programação foi uma quebra de protocolo que desrespeitou o legado de Silvio Santos e a expectativa do público que acompanhava sua trajetória.
Reflexões sobre a gestão do luto
A abordagem do SBT na cobertura da morte de Silvio Santos levanta questões sobre como as empresas devem lidar com a perda de figuras tão importantes para sua história. Enquanto em outros momentos o SBT demonstrou grande sensibilidade e respeito ao lidar com a morte de grandes nomes da TV, a decisão de tratar a morte de Silvio com discrição – inicialmente apenas pelas redes sociais – marcou uma ruptura inesperada.
Esse episódio também destaca o impacto das redes sociais na maneira como o público interage com as notícias e pressiona as emissoras a responderem rapidamente às expectativas. A morte de Silvio Santos, uma das figuras mais queridas e respeitadas do Brasil, merecia, segundo muitos, uma cobertura mais à altura de seu legado.