A demissão do jornalista Rodrigo Bocardi pela TV Globo reacendeu o debate sobre o papel do compliance dentro das grandes corporações. O setor, que se tornou fundamental nas empresas bilionárias, é responsável por monitorar e garantir que normas éticas e regulatórias sejam seguidas. Quando surgem denúncias internas, crises ou escândalos, o compliance não apenas conduz investigações, mas também reporta diretamente aos acionistas e à alta cúpula da companhia sobre os riscos envolvidos.
No caso da Globo, cujo faturamento em 2022 foi de R$ 15,1 bilhões, o compliance exerce um papel estratégico, garantindo que condutas inadequadas não comprometam a credibilidade da empresa, que depende fortemente da confiança do público e dos anunciantes.
Onde o compliance está presente?
Grandes empresas de capital aberto e multinacionais já consideram o compliance uma área essencial dentro de sua estrutura. Companhias como Petrobras, Vale, Itaú, Bradesco, Ambev e Magazine Luiza possuem departamentos robustos dedicados a essa função.
No setor de mídia, além da Globo, gigantes como CNN, Disney, Warner Bros. Discovery e Meta (dona do Facebook e Instagram) contam com sistemas rigorosos para monitorar e corrigir comportamentos que possam prejudicar a reputação da empresa.
Em empresas desse porte, escândalos podem gerar prejuízos bilionários, queda no valor de mercado e afastamento de investidores. Assim, a atuação do compliance vai além da aplicação de normas internas, sendo um verdadeiro escudo para a marca diante de crises.
Qual a função do compliance?
O setor de compliance tem a missão de evitar e mitigar riscos legais, regulatórios e reputacionais dentro das empresas. Suas principais funções incluem:
- Receber e investigar denúncias de assédio, discriminação, corrupção e outras violações internas;
- Reportar diretamente aos acionistas e à alta direção sobre riscos e irregularidades;
- Estabelecer e aplicar códigos de conduta para funcionários, executivos e parceiros comerciais;
- Garantir a conformidade com leis e regulamentos do setor em que a empresa atua;
- Treinar funcionários sobre boas práticas e prevenção de assédios ou comportamentos inadequados;
- Criar canais de denúncia sigilosos, que incentivam os colaboradores a relatarem problemas sem medo de retaliação.
O peso do compliance dentro da Globo
Dentro da TV Globo, o compliance tem ganhado cada vez mais força, especialmente após escândalos envolvendo profissionais da casa. A emissora, que sempre foi referência no jornalismo e na produção de entretenimento, precisa zelar por sua imagem e evitar que crises internas afetem sua relação com o público e os anunciantes.
Nos últimos anos, o setor foi responsável pelo afastamento e posterior demissão de nomes como José Mayer, Marcius Melhem, William Waack e, agora, Rodrigo Bocardi. Em todos os casos, o compliance investigou denúncias antes da decisão final.
A estratégia da Globo em reforçar a atuação desse departamento também segue um movimento global: empresas midiáticas não podem mais ignorar comportamentos inadequados sem sofrer impactos financeiros e de credibilidade. Com o crescimento das redes sociais e da transparência corporativa, decisões são cobradas com mais rapidez e rigor.
Impacto direto nos negócios
A atuação firme do compliance não acontece por acaso. A Globo, assim como outras empresas de grande porte, depende fortemente da confiança do mercado publicitário. Em 2022, a emissora faturou R$ 15,1 bilhões, sendo a publicidade sua principal fonte de receita. Para manter essa relação com os anunciantes, a empresa precisa demonstrar que tem controle sobre sua gestão interna e que adota medidas para evitar escândalos.
Além disso, um compliance forte evita problemas jurídicos e processos trabalhistas que poderiam gerar prejuízos financeiros e danos irreversíveis à reputação da emissora.
Tendência global
O fortalecimento dos departamentos de compliance nas empresas é uma tendência global e irreversível. Com a pressão de acionistas, investidores e consumidores por transparência e responsabilidade corporativa, a existência de um setor que monitora a conduta dos funcionários se tornou indispensável.
Casos como os da Volkswagen, envolvida em um escândalo de fraude em testes de emissão de poluentes, e da Odebrecht, epicentro da Operação Lava Jato, demonstraram que falhas na governança e na ética empresarial podem custar bilhões e até levar grandes companhias à ruína.
No setor de mídia, a Fox News teve que pagar US$ 787 milhões em um processo de difamação, após veicular informações falsas sobre as eleições dos EUA. Isso reforça como decisões editoriais e comportamentais podem ter impactos financeiros diretos.
Diante desse cenário, o compliance deixou de ser apenas um departamento burocrático e se tornou um pilar essencial para a sobrevivência das empresas.