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A demissão de Rodrigo Bocardi da TV Globo, anunciada na última quinta-feira (30), segue repercutindo no meio televisivo e levantando questionamentos sobre os bastidores da decisão. Segundo fontes próximas ao caso, o jornalista pode ter sido informado previamente sobre o resultado das investigações conduzidas pelo setor de compliance da emissora e, diante disso, teria rejeitado um acordo para uma saída “em comum acordo”.
Esse tipo de negociação é um procedimento comum na Globo em casos sensíveis. A emissora costuma optar por uma “saída honrosa”, permitindo que o profissional peça demissão ou anuncie um desligamento planejado, sem impacto negativo direto na sua imagem. A recusa de Bocardi pode ter acelerado a decisão da empresa, resultando em sua demissão imediata e unilateral.
Compliance e o peso das denúncias
O setor de compliance da Globo ganhou força nos últimos anos, especialmente após os escândalos envolvendo figuras como José Mayer, Marcius Melhem e William Waack. O departamento atua de forma independente, conduzindo investigações internas sempre que há denúncias de assédio, discriminação ou conduta inadequada no ambiente de trabalho.
No caso de Bocardi, informações indicam que há pelo menos cinco anos o setor de compliance recebia reclamações sobre seu comportamento com colegas, especialmente mulheres. A Globo, no entanto, nunca havia tomado medidas públicas contra o jornalista até agora.
A recusa de um acordo pode significar que Bocardi não concordou com as conclusões das investigações internas ou que considerou injusto o desfecho do caso. A emissora, por sua vez, teria optado por uma decisão rápida e definitiva para evitar que o assunto se prolongasse na mídia.
Globo e a política de “saídas negociadas”
A TV Globo já adotou diferentes estratégias para lidar com crises envolvendo seus profissionais. Em alguns casos, como o de Fausto Silva (Faustão) e Tino Marcos, a saída foi negociada de forma planejada e com homenagens ao legado do profissional.
Nos casos em que houve denúncias de assédio ou comportamento inadequado, a emissora seguiu caminhos distintos:
- José Mayer (2018) – Após a denúncia de assédio sexual feita por uma figurinista, Mayer negou as acusações inicialmente, mas acabou assumindo a conduta inadequada em carta pública. A Globo optou por afastá-lo e, posteriormente, não renovou seu contrato.
- Marcius Melhem (2020) – O ex-diretor de humor da emissora foi acusado de assédio moral e sexual. Sua saída ocorreu inicialmente como uma “decisão conjunta”, mas, com o avanço das denúncias e da repercussão, a Globo rompeu definitivamente os laços com ele.
- William Waack (2017) – O jornalista foi afastado e posteriormente demitido após o vazamento de um vídeo nos bastidores de uma transmissão, no qual fazia um comentário racista.
Diferente desses casos, Rodrigo Bocardi não recebeu um afastamento prévio nem a chance de uma transição negociada, reforçando a tese de que a recusa de um acordo acelerou sua demissão.
Silêncio de Bocardi mantém dúvidas sobre o caso
Até o momento, Rodrigo Bocardi não se pronunciou publicamente sobre a sua demissão, aumentando as especulações sobre os motivos reais por trás da decisão da Globo. Diferente de outras personalidades que se manifestaram logo após seus desligamentos, o jornalista optou pelo silêncio absoluto.
A dúvida que permanece é se ele buscará reverter a decisão, se entrará com ações contra a emissora ou se seguirá em outro projeto fora da TV Globo.
Nos bastidores, há rumores de que outras emissoras, como CNN Brasil e Band, podem ter interesse em contratá-lo, mas qualquer movimentação dependerá de como a saída da Globo será interpretada pelo mercado publicitário e pelo público.