A Catedral da Sé, no centro da capital paulista, ficou lotada em um ato ecumênico em memória dos 50 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, ocorrido em 25 de outubro de 1975, durante a ditadura militar. O evento foi organizado pela Comissão Arns e pelo Instituto Vladimir Herzog. A catedral foi o mesmo local que, dias após a morte de Herzog, abrigou uma cerimônia inter-religiosa que reuniu cerca de 8 mil pessoas, desafiando o regime militar.
Ivo Herzog, filho de Vladimir, presente no ato, expressou a esperança de que um processo legal seja instaurado para apurar os crimes da ditadura. Ele defendeu a investigação das circunstâncias, o indiciamento dos autores, vivos ou mortos, e o julgamento pelo poder judiciário. Ivo também ressaltou a importância da revisão do parecer do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a Lei da Anistia de 1979, uma luta da sociedade. Ele criticou a demora na análise da ADPF 320, que trata da anistia, pelo ministro Dias Toffoli.
Ivo Herzog afirmou que o tema da anistia tem sido sequestrado pela extrema-direita. Ele também criticou a anistia de 1979, por considerar que o regime autoritário da época nunca reconheceu ter cometido crimes.
O presidente em exercício, Geraldo Alckmin, também compareceu à cerimônia. Alckmin afirmou que a morte de Herzog foi resultado do extremismo do Estado e defendeu o fortalecimento da democracia, da justiça e da liberdade. Ao ser questionado sobre a revisão da Lei da Anistia de 1979, ele respondeu que “já demos bons passos nessa questão”.
Para Ivo Herzog, a presença de Alckmin reafirma o compromisso do Estado com a democracia. Ele lembrou que, há 50 anos, o medo do Estado pairava sobre aqueles que compareceram à catedral para protestar contra a morte de seu pai.
Vladimir Herzog foi torturado e morto nas dependências do Doi-Codi, após ter se apresentado voluntariamente ao órgão de repressão. Na época, ele era diretor de Jornalismo da Cultura.
O jornalista Sérgio Gomes, que estava preso no Doi-Codi na época do assassinato de Herzog, relatou ter ouvido uma pessoa sendo torturada e a simulação de suicídio após o silêncio que se seguiu.
O ato na Catedral da Sé, em 31 de outubro de 1975, liderado por líderes religiosos, marcou a resistência democrática. Cinco décadas depois, o novo ato inter-religioso na Sé foi dedicado à memória de todas as vítimas da ditadura. Jornalistas fizeram uma passeata desde a sede do sindicato da categoria até a Sé para participar do evento.
No começo da cerimônia, houve apresentação do Coro Luther King, seguida de manifestações inter-religiosas. Vídeos produzidos para a ocasião exibiram imagens de manifestações e de vítimas do Estado desde a ditadura militar até os dias atuais. Uma carta de Zora Herzog, mãe de Vlado, foi lida pela atriz Fernanda Montenegro.

